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Artigo de opinião: Conheça-se

Podemos ser honestos um dia e desonestos em outro, agradáveis em um momento e desagradáveis em outro. Enfim, as características que definem uma pessoa podem mudar, e na verdade sempre mudam. O que significa, então, conhecer-se?

Rodrigo Tavares Mendonça

Este artigo é uma continuação direta do meu artigo anterior, intitulado “Quem deseja ser feliz deve ser firme”, tema que me foi inspirado pelo livro “Persuasão”, de Jane Austen. A necessidade de aprofundar ainda mais no tema me fez escrever este novo artigo. A firmeza, característica apontada por um personagem da escritora inglesa, refere-se à firmeza do caráter, ou seja, à consciência de quem se é, para que a pessoa não seja influenciada pelos outros como se estivesse “ao sabor do vento”.

Não é fácil saber quem se é. O filósofo alemão Friedrich Nietzsche apontou a importância desse conhecimento na frase que constitui o subtítulo de um livro seu, “Torna-te quem tu és”. O filósofo grego Sócrates também apontou a mesma importância na sua famosa frase “Conhece-te a ti mesmo”. A dedicação desses dois grandes pensadores sobre o tema deixa clara uma coisa: conhecer-se é um desafio difícil. Assim como se manter firme é um desafio igualmente difícil.

Conhecer-se não significa caracterizar a própria personalidade ou encontrar a própria identidade. A identidade de uma pessoa pode ser uma multiplicidade, as características que compõem uma pessoa pode mudar com o tempo e com o ambiente. Em um contexto podemos ser extrovertidos, ao passo que em outro podemos ser introvertidos. Podemos nos sentir livres ao lado de uma pessoa e presos ao lado de uma outra. Podemos ser honestos um dia e desonestos em outro, agradáveis em um momento e desagradáveis em outro. Enfim, as características que definem uma pessoa podem mudar, e na verdade sempre mudam. O que significa, então, conhecer-se?

Conhecer-se significa conhecer seus próprios desejos e valores, possibilidades e limites. Conhecer-se é saber o que se quer no momento presente, o que se considera certo e errado (e se manter firme em sua própria ética), é saber o que se pode alcançar com esforço e o que não se deve fazer por isso não fazer parte de você. Conhecer-se é, ainda, conhecer as próprias mudanças no seu estado de espírito e não se atropelar ou se fazer exigências exageradas ou inadequadas; em outras palavras, é aceitar as próprias mudanças ou a multiplicidade que pode compor a sua identidade.

Não é fácil saber quem se é. Em um artigo anterior, intitulado “Por que pode ser tão difícil identificar os próprios sentimentos”, explorei essa dificuldade de compreender e nomear as próprias emoções. As emoções são apenas sensações não compreendidas até que a linguagem apareça para interpretá-las. O problema aparece porque podemos interpretar tanto os outros quanto nós mesmos de forma errada. Na clínica, a resposta mais comum para a pergunta “O que está causando a sua ansiedade?” ou “O que está causando a sua depressão?” é: “Não sei”. E esse não saber é um dos motivos que levam as pessoas para a psicoterapia. Se você não sabe nomear o problema, não é capaz de enfrentá-lo.

A reflexão é o melhor caminho para nos conhecermos. Essa reflexão, contudo, não precisa ser solitária; inclusive a reflexão individual pode apenas confirmar os próprios pensamentos enviesados. A reflexão compartilhada nas conversações, seja com amigos e familiares seja com profissionais, pode possibilitar que a pessoa veja a si mesma por um ponto de vista

diferente, e assim se conheça de uma forma que não conhecia antes. Esse é um dos objetivos da psicoterapia, o autoconhecimento. E acredito que deva ser um dos objetivos da vida de todos nós.

Rodrigo Tavares Mendonça é psicólogo e especialista em psicoterapia de família e casal. Contato: (37) 9.9924-2528

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