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Artigo de opinião: Casais se tornam ‘uma só pessoa’ quando se casam?

Percebo na clínica conjugal e familiar duas ênfases distintas e opostas na forma como os casais veem o casamento.

“E Deus disse: ‘Por isso o homem deixa o seu pai e a sua mãe para se unir com a sua mulher, e os dois se tornam uma só pessoa’. Assim já não são duas pessoas, mas uma só” (Bíblia, Mateus, 19, 5-6). Pode-se traduzir “uma só pessoa” para “uma só carne”, como popularmente se fala. Considero importante refletir sobre a união conjugal por esse ponto de vista. Os casais realmente se tornam “uma só pessoa” quando se casam? Quais as consequências de se pensar assim?

Antes de iniciar a reflexão, um esclarecimento: meu objetivo aqui não é interpretar a Bíblia, mas a representação social que o texto sagrado possui nas pessoas e na sociedade. Percebo na clínica conjugal e familiar duas ênfases distintas e opostas na forma como os casais veem o casamento. Na primeira ênfase, os cônjuges valorizam mais a conjugalidade que a individualidade. Assim, o casamento une as pessoas como se fossem realmente “uma só pessoa”. Nesse modelo, o casal busca compartilhar todos os momentos sociais em conjunto, eles evitam sair sozinhos com amigos, podem partilhar os cadastros em redes sociais e administram o dinheiro como sendo do casal, por exemplo. Em resumo: eles se realizam somente em conjunto.

Na segunda ênfase, os cônjuges valorizam mais a individualidade que a conjugalidade. Assim, o casamento não une as pessoas como se fossem “uma só pessoa”. Nesse modelo, o casal aceita compartilhar momentos sociais separadamente, eles saem sozinhos com amigos, possuem cadastros separados em redes sociais e administram individualmente o dinheiro deles, por exemplo. Aqui, o casamento mantém com mais ênfase a separação das “duas pessoas”. Em resumo: eles se realizam também em separado.

As duas ênfases descritas aqui podem ser vistas como dois polos opostos, e os casais podem estar em pontos diferentes, mais perto ou mais longe dos polos ou mais ao centro, em uma espécie de equilíbrio entre a conjugalidade e a individualidade. O ideal, então, é que os casais alcancem esse equilíbrio? Não. Assim como os indivíduos, os casais são diferentes uns dos outros. Existem casais que se adaptam melhor em uma conjugalidade maior, enquanto outros precisam de mais individualidade para serem felizes. Acredito que não existe um modelo certo. Os casais precisam encontrar o melhor modelo para eles mesmos.

Problemas aparecem quando um cônjuge quer ser “uma só pessoa” com o seu parceiro, mas esse parceiro quer mais individualidade. Essas expectativas divergentes sobre como o casamento deve ser podem estar na origem de muitos conflitos conjugais. Quando essa divergência existe, casais podem brigar por motivos aparentemente pequenos, como o cônjuge querer sair sozinho com amigos ou comprar um celular caro para ele, enquanto o outro possui um celular barato.

Quando os casais se unem, unem-se duas pessoas diferentes. Muitas dessas diferenças aparecem no namoro, mas são negligenciadas. Em nome do amor, os casais acreditam que conseguem superá-las após o casamento. Contudo, diferenças na forma como os cônjuges veem o casamento podem aparecer apenas após a união conjugal. Quando isso acontece, faz-se necessário que os cônjuges conversem abertamente sobre essas diferenças e negociem acordos possíveis de serem cumpridos pelos dois. Se isso não acontece, conflitos de longo prazo dominam a relação. Frequentemente, os casais não percebem a origem do conflito; acreditam, por exemplo, que o cônjuge está apenas com ciúme, sendo que, na verdade, ele pode considerar eticamente errado o comportamento do parceiro de querer sair sozinho. Acredito que os cônjuges precisam compreender as suas próprias expectativas e as dos seus parceiros, entender se valorizam com mais ênfase a conjugalidade ou a individualidade, para se adaptarem bem um ao outro. Caso esse entendimento seja díficil, a terapia de casal pode facilitar.


Rodrigo Tavares Mendonça é psicólogo e especialista em psicoterapia de família e casal pela PUC Minas. Contato: (37) 9.9924-2528.

 

 

 

 

 

 

 

 

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