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Basta de violência!

Basta de violência!  Grito antigo  de todos nós brasileiros que, parece, nunca encontra eco e sempre nos volta sem resposta, de roupa velha e cara cansada. Hoje estou de luto. Luto pelos vivos, luto por todos aqueles que têm de presenciar a violência adentrando suas famílias sem poderem fazer nada.

Uma  indignação absurda  me toma, me dói. Tenho um casal de  tios, ele com 86 anos, ela com 84. Moram sozinhos numa fazenda, num lugar  ermo, aonde só se chega por estradinhas de chão que varam o mato denso e atravessam corguinhos aqui e ali…

Conheço aquele lugar desde os tempos de criança. Ali passei dias inesquecíveis das férias escolares. Uma multidão de primos e primas, numa família simples, mas muito feliz! Passo tempo sem vê-los, mas o carinho que sinto por aquela gente continua bem guardado aqui no peito.

Como aceitar sem revolta o que aconteceu com esse casal querido neste fim de semana? Na sexta à noite, os bandidos chegaram de surpresa. Invadiram a casa. E o resto  não se  sabe direito. O que sei, é o que vi  num leito de hospital: meu tio quase irreconhecível, o rosto todo disforme, cheio de cortes e hematomas. Foi encontrado inconsciente, em meio a um mar de sangue.

Minha tia, em estado de choque, não pode falar. Teve o nariz fraturado e  os olhos inchados  não se abrem por causa dos socos que levou. Fico imaginando os momentos de terror vividos por aqueles dois. (Parece bobagem, mas dá uma vontade tremenda de que o Super-homem, o Homem Aranha, o Fantasma, ou o Diabo fossem de verdade e baixassem ali para ensinar como se trata  Monstros que se aproveitam de gente idosa e indefesa). Não se sabe exatamente  como tudo se deu. E quem saberá? O cofre aberto e vazio é a chave: chegaram pra levar tudo. E levaram!

Não deu pra resistir. Chorei ali diante daquele homem que nunca fez mal a uma mosca. Viveu a vida inteira para cuidar dos filhos, para o trabalho duro na plantação das roças, para a lida dos currais. Minha tia, sempre servindo ao marido, aos filhos, aos netos, a quem dela precisasse. O que justifica tanta crueldade? O olhar incrédulo de todos nós diante de tal barbaridade não consegue compreender.

Volto para casa com uma estranha sensação: medo do ser humano! Custa-me crer que alguém, se dizendo humano, possa praticar tamanha atrocidade. É de arrepiar nos sabermos assim acuados, sem saída: se antes a violência era marca das grandes cidades, agora não é mais. De maneira cruel e hedionda ela se estende também aos rincões mais afastados deste País, atingido a todos sem distinção. E vem com tudo, quebrando, torturando, fazendo jorrar sem piedade o sangue de inocentes.

Tomada por uma angústia sem tamanho me pergunto: por que tudo isso meu Deus? Estou de luto, mas luto! Não dá pra calar esse grito de todos nós. E enquanto houver um resto de vida haverá  esperança, ainda que tenhamos de ir para as ruas e protestar eternamente pelo nosso direito de viver em paz.

Marina Alves é professora, escritora e membro da Academia de Letras de Lagoa da Prata
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