Artigo: Para entender a Ansiedade
A verdade é que todos têm ansiedade, porque ela é uma reação natural do organismo humano, um mecanismo evolutivo de defesa necessário para a sobrevivência.
Em uma palestra recente, perguntei quem tinha ansiedade e a maioria das pessoas não levantaram a mão, apontando que elas não tinham. Essa pequena experiência me mostrou que muitas pessoas pensam que a ansiedade é um problema, um transtorno ou uma doença mental, como se fosse um sintoma que uns têm e outros não. A verdade é que todos têm ansiedade, porque ela é uma reação natural do organismo humano, um mecanismo evolutivo de defesa necessário para a sobrevivência.
A ansiedade é desencadeada pelo medo. Quando sente medo a pessoa entra em um estado de ansiedade, um mecanismo de defesa do organismo para a proteger de uma ameaça. Em outras palavras, a ansiedade prepara o organismo para enfrentar ou fugir de uma ameaça. Um exemplo que costumo oferecer a meus pacientes: se um leão aparece na sala onde você está agora, provavelmente você sentirá medo e entrará em um estado de ansiedade. O seu coração pode bater mais rápido, sua respiração pode ficar mais ofegante, você pode ter a conhecida “sensação de cabeça vazia” (quando o raciocínio fica prejudicado), pode começar a suar frio e sentir formigamento ou dormência nos membros e, se a ansiedade estiver intensa demais, pode ter uma sensação de desmaio. Outros sintomas ainda podem aparecer, como ânsia de vômito, agitação psicomotora, dor no corpo e insônia (se a pessoa sobreviver ao leão, obviamente).
Como a ansiedade é uma reação natural do organismo e um mecanismo de defesa (o coração dispara para que se bombeie mais sangue para uma resposta mais rápida), ela não é um problema, um transtorno ou uma doença mental. O problema aparece quando se sente medo mesmo que não exista leão nenhum a sua frente. O problema, então, não é propriamente a ansiedade, mas o medo exagerado ou inadequado. O organismo humano não diferencia a percepção de uma ameaça da imaginação de uma ameaça, se a pessoa sente medo, sendo esse medo adequado ou inadequado, a reação ansiosa aparecerá.
Existem medos pontuais, que passam após um acontecimento específico. Por exemplo: se uma pessoa sente medo de fracassar em uma prova, poderá sentir ansiedade até a hora da prova; após a prova, provavelmente sentirá alívio. E existem medos contínuos, que sempre aparecem em situações cotidianas. Por exemplo: o medo de se expressar em público, mesmo que para um pequeno grupo de pessoas no trabalho ou para o seu superior, pode aparecer cotidianamente e, com ele, a ansiedade pode aparecer da mesma forma. As pessoas podem, por exemplo, sentir medo de nunca alcançarem a felicidade, de não superarem o fim de um relacionamento e de nunca amarem ou serem amadas novamente, de não serem capazes de construírem amizades de confiança, de terminarem uma relação insatisfatória. Enfim, a lista de medos contínuos possíveis é infinita. O resultado é que a pessoa sentirá uma ansiedade igualmente contínua, podendo inclusive acreditar que a ansiedade é um traço da sua personalidade, deixando de perceber os medos que podem a estar desencadeando diariamente.
Um problema maior aparece quando a pessoa sente medo dos próprios sintomas da ansiedade. Assim, se a pessoa sente medo de ficar sozinha em casa e, além desse medo, ela começa a sentir medo da aceleração dos batimentos cardíacos, por exemplo, acreditando que pode sofrer um infarto, ela sentirá um medo maior ainda. Esse segundo medo (o medo dos sintomas da ansiedade) pode desencadear uma crise de ansiedade e, se muito intensa, uma crise de pânico. A recorrência dessas crises pode levar ao diagnóstico de transtorno do pânico, quando, além das crises, a pessoa começa a evitar sair de casa ou ficar no meio de muitas pessoas por medo de sentir novas crises.
Importante observar que o senso de capacidade de enfrentar ou lidar com as dificuldades da vida que podem causar medo é o fator que desencadeia ou não o estado de ansiedade. Por exemplo: se uma pessoa acreditar que consegue enfrentar o leão na sua frente, mesmo que essa crença esteja inadequada, ela pode não sentir ansiedade. Como regra geral, quanto mais a pessoa se percebe capaz de enfrentar os problemas da vida, ou seja, se se percebe capaz de superar a morte de uma pessoa amada, de amar ou ser amada novamente após o fim de um relacionamento, de alcançar o sucesso profissional, de construir novas e verdadeiras amizades ou de tirar uma boa nota em uma prova, por exemplo, menos ansiedade ela pode desenvolver.
Se você sofre com uma ansiedade constante procure compreender os medos que podem desencadeá-la e, se necessário, um tratamento psicológico para conseguir tanto identificar esses medos quanto superá-los.
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Rodrigo Tavares Mendonça é psicólogo e especialista em psicoterapia de família e casal. Contato: (37) 9.9924-2528.