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Artigo de Opinião: A Vida Tem Sentido?

O psicólogo Rodrigo Tavares Mendonça é psicólogo e especialista em psicoterapia de família e casal. Neste artigo ele reflete sobre o sentido da vida.

Rodrigo Tavares Mendonça

Qual o sentido da vida? Acredito que atualmente a busca pelo sentido da vida confundiu-se
com traçar e alcançar objetivos. Para muitas pessoas, a vida tornou-se uma espécie de jogo,
com fases e desafios para serem enfrentados. O objetivo é vencer. Dizem que precisamos
estabelecer metas e superar a procrastinação para vencer os desafios e ser feliz. O resultado é
uma busca incessante e uma cobrança igualmente adjetivada. Será mesmo que esse é o
caminho para uma vida com sentido?

O escritor inglês Douglas Adams, autor da série literária O Guia do Mochileiro das Galáxias,
imaginou um universo com inúmeros planetas habitados por seres inteligentes. Nesse
universo, os seres mais inteligentes, aqueles que buscavam respostas para todas as perguntas,
construíram um supercomputador com um único propósito: calcular o sentido da vida, do
universo e tudo mais. Após milhares de anos de processamento, o supercomputador
encontrou a resposta: 42. A decepção, obviamente, foi geral. A resposta não fazia sentido.
Posteriormente perceberam, contudo, que a resposta estava certa, que o problema estava na
pergunta. Para uma pergunta errada qualquer resposta está certa. E a pergunta estava errada.
Não existe um sentido para a vida, então não faz sentido perguntar.

A vida contemporânea acontece no domínio do capitalismo, com economia de mercado,
empresas competindo entre si e com metas para alcançar. Acredito que o modelo empresarial
de existência está sendo reproduzido em nosso espaço psíquico. Reproduzimos esse modelo
quando acreditamos que a vida humana se baseia na competição ou que precisamos alcançar
metas ou objetivos para nos realizarmos. Assim, colocamos como equivalentes os conceitos
de sentido da vida e de objetivos na vida.

O problema está no significado que concedemos à palavra “sentido”. Confundir sentido com
objetivo é um erro radical. Objetivos estão fora de nós e do nosso tempo, são metas para
alcançar. E, quando se alcança, a realidade pode ser completamente diferente da expectativa.
Eles podem ou não fazer sentido para nós. Um paciente me relatou que por anos sonhou em
comprar um carro esportivo, bem acima do nível popular. Após anos de esforço e sucesso
profissional, conseguiu. Porém quando passou o entusiasmo inicial, a felicidade sentida pela
compra foi menor do que a esperada. Percebeu que o seu sonho não era exatamente o que
queria de verdade. Assim, a expectativa de felicidade deu lugar à frustração.

Esse paciente teria evitado a frustração se compreendesse o famoso pensamento do monge
vietnamita Thich Nhat Hanh: “Não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o
caminho.” No caso concreto, a felicidade não está na compra do carro, mas no caminho até
ele. Em outras palavras, não está no futuro, mas no presente. Da mesma forma, acredito que o
sentido da vida não está em alcançar as metas traçadas, embora traçar metas possa ser
importante para direcionar a vida, mas somente em viver a vida no momento presente com
significado.

E significado é a palavra-chave. Um dos sentidos da palavra “sentido” é significado, que por
sua vez denota valor. Então, o sentido da vida é ter uma vida com significado ou, em outras
palavras, uma vida que tenha valor. Em vez de buscar o sentido da vida, acredito existir uma
pergunta melhor: como fazer a vida ter valor? Viver uma vida com sentido é viver uma vida
que tenha valor, que seja cara para si mesmo e para os outros.

Uma resposta maravilhosa para a pergunta acima foi dada pelo filme Soul, dirigido por Pete
Docter e lançado no ano passado pela Pixar. No universo do filme, antes de se encarnarem as
almas se preparam em uma escola da vida, que existe em uma etapa anterior à vida na Terra.
Lá, elas aprendem a encontrar seus objetivos na vida terrena. Porém uma alma infantil se
encarna por erro diretamente em um corpo adulto. Conforme aprendeu na escola pré-vida, ela
busca encontrar seus objetivos na vida, porém não consegue e se frustra. Conclui que ela não
serve para viver, que sua vida não tem sentido. Contudo, a trama evolui e a alma infantil faz
uma linda descoberta: alcançar objetivos na vida não é o mesmo que encontrar um propósito
para viver. Assim, ela aprende que o propósito para viver é simplesmente viver. Em outras
palavras, que o sentido da vida está em sentir a vida, como sentir o vento batendo em seu
rosto ou o mar molhando seus pés, não em alcançar objetivos ou vencer desafios.

Na verdade, a vida não tem sentido nenhum, assim como a pergunta pelo sentido da vida.
Nós construímos o sentido dela no viver quando fazemos ela ter significado ou valor. Em O
Guia do Mochileiro das Galáxias, o supercomputador mostrou que a pergunta estava errada,
assim como qualquer resposta. Em Soul, a alma infantil descobriu que o sentido da vida é
sentir a vida. E Thich Nhat Hanh nos mostra que a vida deve ser vivida no momento presente.
Acredito que esses três elementos se unem para nos fornecer uma reflexão maravilhosa sobre
essa pergunta tão fundamental para a existência humana e, ao mesmo tempo, tão
desnecessária.

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