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Arte muda e transforma: cineasta lagopratense tem projetos com destaque nacional e internacional

O Jornal Cidade conversou com a cineasta e poeta Izabela Silva, que disse que a sua decisão de fazer cinema nunca foi um sonho, mas que tudo mudou após seu contato real com a arte, e contou como tudo aconteceu e como seus projetos se tornaram destaques.

Matheus Costa

Quando você cresce em uma sociedade desprovida de cultura, sem o menor contato com a arte, seja ela um museu ou cinema, suas escolhas de profissão ficam escassas, obrigando você a pensar apenas naquelas “profissões privilegiadas”, como por exemplo: advogado, médico, dentista, entre outras. E este foi o caso da lagopratense Izabela Silva, conhecida também como Iz.

Hoje, com 25 anos e, atualmente, morando em São Paulo, Izabela, é filha da dona Zélia Maria e do seu Marcelino Pio. Em conversa com o Jornal Cidade, ela contou que ao terminar o ensino médio na Escola Estadual Nossa Senhora de Guadalupe, se mudou para Belo Horizonte a fim de estudar medicina. Contudo, ao chegar lá, se deparou com uma cultura completamente diferente.

Eu sempre digo para as pessoas que a decisão de fazer cinema nunca foi um sonho, mas uma escolha. Quando você nasce em uma família humilde e numa cidade que não existe museu, nem cinema, o contato com a arte se apresenta como um universo muito distante e se cria um estereótipo e um preconceito às vezes também muito grande. Quando eu me formei no terceiro ano no Guadalupe me mudei para Belo Horizonte com o objetivo de estudar medicina, mas quando cheguei lá foi um choque cultural muito grande. Pela primeira vez tinha a oportunidade de visitar os centros culturais, os museus e foi tudo muito apaixonante pra mim”, contou.

Izabela disse ainda que em Lagoa da Prata, ela já participava de um movimento chamado E-Cult, iniciado em outubro de 2012 juntamente com Alex Bessas, Sabrina Brum, Daniel do Bell, Carol Shineider e outros. “O E-Cult foi um lugar essencial para minha formação, porque foi onde despertou a minha fome de cultura e, logo depois, me mudando para Belo Horizonte e vendo a s diversas atividades e um mercado cultural gigante, eu fiquei muito indignada de ver que não acontecia nada em Lagoa da Prata, e que estávamos ali tomando a iniciativa que o governo municipal deveria estar fazendo e mostrando que Lagoa da Prata quer e tem a necessidade de cultura. Os eventos do E-Cult foram um sucesso em todas suas edições e não teve uma pessoa que foi e que saiu de lá falando que não gostou. Então por isso esses dois acontecimentos foram muito importantes na minha escolha de seguir o caminho da produção artística”, declarou ela.

Foto: Izabela Silva/Arquivo Pessoal.

A jornada começa e os desafios também

Conforme Izabela, sua entrada em uma universidade tão grande como a PUC foi algo muito transformador não só para ela como para toda a família, “pois eu estava acessando um lugar de privilégio muito grande e isso quebrou diversas barreiras culturais e do pensamento político e social meu e da minha família. Eles sempre iam me visitar e eu levava eles em diversas atividades artísticas e compartilhava as coisas que eu aprendia na faculdade. Foi muito especial. Na PUC tive aulas não só de prática e teoria em cinema, mas de história da arte, história do brasil, política, sociologia, psicanálise, economia… E tudo isso abriu muito os meus horizontes e sou muito grata à oportunidade de fazer este curso pelo Prouni, por que eu jamais teria a possibilidade de pagar a mensalidade desse curso. E terminar a faculdade em si foi um grande desafio, pois foram muitas as batalhas financeiras para conseguir morar e m Belo Horizonte e equilibrar o trabalho com as demandas da faculdade, morando sozinha requer muita persistência, suporte emocional e força de vontade. Mas acho que com o tempo os desafios só vão aumentando. Infelizmente quando você nasce com um coração inquieto, os desejos vão se tornando cada vez maiores”.

“Depois que eu formei decidi me mudar para São Paulo por ser um mercado maior e aqui começou uma outra jornada. Entrar num mercado onde a maioria dos filmes são feitos por homens brancos de classe média alta e extremamente machista, é uma batalha. E foram inúmeras as vezes que o meu trabalho foi questionado, menosprezado ou perdi alguma oferta de trabalho pelo simples fato de ser uma mulher, ou quando recebi um valor muito menor que um outro homem dentro de uma equipe onde exercemos a mesma função. Sendo mulher precisamos trabalhar dez vezes mais, estudar cinco vezes mais, fazer muitos cursos e se especializar para conseguir se provar melhor que um homem. Mas o jogo está virando, estamos nos reunindo e criando uma rede de contatos de mulheres que são profissionais do audiovisual e o futuro será feminino, com toda certeza”, relatou Iz.

A jornada e os desafios valeram a pena

Neste ano de 2020, Izabela usou este momento difícil de isolamento social para trabalhar em seus projetos durante seu período de quarentena em Lagoa da Prata, projetos estes que tiveram destaque nacional e internacional.

“O primeiro foi a minha contribuição nas imagens para o vídeo poema “Náufrago” do Emiliano Goyeneche para o terceiro episódio da série “Surtos Líricos” da TripTv e que na versão em português recebeu a voz do Ney Matogrosso. Logo depois meu vídeo poema “La Ventana”, que realizei junto com minha mãe, Zélia Maria, e a poeta mexicana, Sofia Minerva, foi selecionado para dois festivais: a mostra “Como será o amanhã?” da galeria Art Veine no Rio de Janeiro, com a curadoria de Nelson Ricardo Martins, o filme ficou em 14º lugar entre mais de 300 filmes inscritos de todo o mundo. Depois ele também foi selecionado no “4º Festival Latino Americano Confluências de Arte”, que se realiza anualmente entre a Argentina, Uruguai e Paraguai, mas que este ano devido a pandemia se realizou online”.

“Eu fiquei muito feliz com estas conquistas por que foram acontecimentos completamente inesperados e não planejados. Eu havia passado o fim de semana pescando com meus pais no Rio São Francisco e registrei algumas imagens da natureza e de um pescador, que postei no meu Instagram. O Emiliano viu as imagens e gostou muito e pediu para utilizar no vídeo dele e depois ele levou para a TripTv. E o “La Ventana” surgiu de um momento de intimidade com minha mãe: ela estava ali parada na janela, havia uma luz bonita e registrei o vídeo sem saber o que faria ao certo com ele, mas que depois se encaixou perfeitamente com a minha poesia. O que acho mais interessante é que são filmes singelos que buscam uma linguagem muito simples e acessível, filmes que fazemos para nós mesmos e para as pessoas que amamos, que não fazem dinheiro ou história contemporânea e que são muito diferentes do que estamos acostumados a ver na televisão e nas grandes produções de Hollywood, mas que são tão potentes e emocionantes quanto. Ambos são registros feitos com o celular e que nos mostram que o cinema está na palma de nossas mãos, basta deixar a sensibilidade florescer”, contou.

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