Mulheres na ciência: pesquisadora lagopratense comenta desafios e avanços das mulheres na pesquisa científica
Fernanda Farnese é professora da IFG-MG e Doutora em Fisiologia Vegetal pela UFV. Para ela, mais do que incentivar meninas à carreira científica, o problema é mantê-las na carreira de pesquisadora conforme elas progridem na profissão.
Lugar de mulher é onde ela quiser e a sociedade, ao que tudo indica, caminha rumo a um destino no qual a escolha profissional da mulher seja devidamente respeitada. Contudo, da mesma forma que é possível reparar uma mudança na dinâmica da tradicional divisão de papéis desempenhados por homens e mulheres, ainda é perceptível a pressão do matrimônio e da maternidade na progressão de carreira feminina.
Isto, é claro, sem citar a vergonhosa disparidade salarial entre gêneros, responsável por pagar mais aos homens – muito mais, em alguns casos – que às mulheres, mesmo exercendo a mesma função e tendo o mesmo grau de escolaridade.O microcosmo dos profissionais da ciência, embora heróico por proporcionar avanços inimagináveis em diferentes áreas, não é menos machista.
Fernanda Farnese, natural de Lagoa da Prata, Bióloga, professora do Instituto Federal Goiano e Doutora em Fisiologia Vegetal pela Universidade Federal de Viçosa, é uma das cientistas que se destacam em sua área.
Em 2021, ela recebeu o “Twas-Lacrep Young Scientists Prize”, prémio atribuído anualmente pela The Word Academy of Sciences (Academia Mundial de Ciências) a jovens cientistas da América Latina e Caribe. No ano anterior, foi agraciada com o prêmio “Para Mulheres Na Ciência”, iniciativa da Unesco e da Academia Brasileira de Ciências.
Celebrando o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, Farnese conversou com o Jornal Cidade sobre os avanços e os desafios pelos quais passou e ainda passa em virtude do gênero.
De acordo com a bióloga, sua paixão pela ciência nasceu quando conheceu Konoe Furuya, sua professora de Biologia do Ensino Médio. O impacto da professora sobre o aluno foi tanto que Fernanda decidiu seguir o mesmo rumo e, quem sabe, da mesma forma que foi impactada, impactar a vida de outras meninas.
A respeito do interesse de jovens meninas pela pesquisa científica, Fernanda cita que ele diminui conforme as cientistas tentam subir na hierarquia.
“Embora eu seja apaixonada pela minha profissão, a gente não pode negar que temos alguns empecilhos. E o maior deles é que, na medida em que subimos na carreira de cientistas, a gente perde meninas e mulheres. Nossas meninas vão ficando pelo caminho. Então quando a gente olha para a base, nós temos um número significativo de mulheres, mas à medida que a gente sobe ali na hierarquia, esse número de mulheres diminui”, ressalta Fernanda.
Entre os motivos que a pesquisadora cita para entender este fenômeno está o fato de que o trabalho de mulheres cientistas tende a receber menos citações, menos recursos e de que a maternidade não é considerada na trajetória profissional – problema este que também é frequente em outras profissões que as mulheres pleiteiam.
Mas como mudar este cenário? A resposta não é fácil e certamente não virá da noite para o dia. Pelo contrário, exige políticas públicas, debates entre diferentes setores da sociedade e, é claro, muita informação. Sobre isso, para Fernanda, celebrar o Dia Internacional das Mulheres de Meninas nas Ciência é um passo na direção certa.