fbpx
jc1140x200

Psicólogas da região Centro-Oeste de Minas alertam sobre o uso excessivo de tela para crianças

O uso excessivo de tecnologia na infância é uma preocupação crescente, afetando crianças cada vez mais novas.

Stéfani Couto


No cenário de um mundo cada vez mais conectado, o uso de dispositivos eletrônicos por crianças se tornou uma realidade onipresente, suscitando discussões e preocupações sobre seus efeitos nas novas gerações. Tablets, smartphones e computadores agora fazem parte do cotidiano infantil.

É comum observar crianças dedicando longas horas à interação com telas de dispositivos eletrônicos, uma tendência que levanta questionamentos sobre seu potencial impacto no desenvolvimento saudável. O ato de brincar de maneira livre, ao ar livre e com outros colegas é um elemento fundamental para estimular a criatividade, a imaginação e a interação social. Além disso, as brincadeiras desempenham um papel crucial no desenvolvimento emocional das crianças, permitindo que elas expressem sentimentos, resolvam conflitos e cultivem habilidades de resolução de problemas.

Para uma compreensão mais profunda dessas dinâmicas e para descobrir maneiras criativas e envolventes de incentivar brincadeiras, conduzimos uma entrevista exclusiva com as psicólogas Maylla Fernandes e Thaís Braga, residentes em Arcos.

Nossa discussão com as profissionais revelou que as brincadeiras e jogos infantis desempenham um papel vital no processo de desenvolvimento e aprendizado das crianças. Além de proporcionar diversão, essas atividades têm impacto positivo nos aspectos sociais, cognitivos e emocionais das crianças. Através do componente lúdico, as crianças exploram e expressam sentimentos e emoções, criam situações hipotéticas que estimulam o desenvolvimento de habilidades reflexivas, analíticas, de raciocínio, linguagem, imaginação e ajuste criativo.

Segundo Maylla, “a criança se desenvolve através do brincar e consideramos a brincadeira uma “coisa séria”. Através dessa interação, a criança aprende de maneira lúdica situações e emoções para o enfrentamento da realidade, aprende-se a identificar e lidar com sentimentos e emoções,visto que a criança tem uma imaturidade emocional. A parte cognitiva da criança tende a evoluir e muito a partir da brincadeira, possibilitando um desenvolvimento de traços grossos e traços finos, movimento e desenvolvimento e aprendizagem.”

Maylla Fernanda, psicóloga clínica.

 

A supervisão e orientação dos pais desempenham um papel crucial na gestão do uso de telas pelas crianças. Estabelecer limites de tempo, garantir o acesso a conteúdos apropriados à idade e promover atividades offline são estratégias importantes para equilibrar o uso da tecnologia. Pais e cuidadores também devem participar ativamente na vida digital de seus filhos, conversando sobre segurança online e promovendo a alfabetização digital.

Thaís Braga ressalta a importância da participação ativa dos adultos, como pais, educadores e cuidadores, no processo de brincadeira das crianças. O envolvimento dos adultos fortalece os laços afetivos e motiva as crianças. Além disso, os adultos desempenham um papel interventivo ao estabelecer regras e estimular a criatividade das crianças. Materiais como músicas, contos, jogos sensoriais e passeios culturais também são recursos valiosos para enriquecer o brincar.

Thaís Braga, psicóloga clínica.

“Adultos, como pais, educadores e/ou cuidadores, precisam conscientizar sobre a importância do brincar e sua participação, uma vez que o seu envolvimento reforça os laços afetivos e aumenta o nível de interesse e motivação da criança. O papel do adulto dentro das brincadeiras e jogos, possui caráter interventivo, na inserção de regras e elaboração das inquietudes que acontecem no mundo real para o imaginário. Promovem o estímulo da criação, despertando ideias, questionamentos e soluções.”

Em relação ao uso excessivo de telas, Maylla enfatiza os impactos negativos na saúde e no desenvolvimento das crianças. Ela salienta a importância do diálogo e da comunicação assertiva para diminuir o tempo de tela e a necessidade de estabelecer acordos e horários apropriados, evitando o uso da tecnologia como punição.

Maylla orienta que “a psicologia pode ajudar na orientação de pais e responsáveis, sugerir brincadeiras e uma interação pais ou cuidadores/crianças de maneira lúdica e acolhedora. A psicologia infantil tem se tornado muito crescente nestes últimos tempos, tem um aumento considerável pela busca da psicologia na 1° e 2° infância principalmente. A Terapia Cognitiva Comportamental (TCC) é uma abordagem com bases científicas e que tem grande eficácia.”

O estudo conduzido pelo TIC KIDS ONLINE BRASIL 2019 revelou que aproximadamente 89% da população com idades entre 9 e 17 anos no Brasil estava fazendo uso da internet, com o telefone celular sendo o dispositivo principal para acessar a rede.

Maylla orienta que “a psicologia pode ajudar na orientação de pais e responsáveis, sugerir brincadeiras e uma interação pais ou cuidadores/crianças de maneira lúdica e acolhedora.”

Thaís também enfatizou a importância dos adultos nas brincadeiras: O papel do adulto dentro das brincadeiras e jogos, possui caráter interventivo, na inserção de regras e elaboração das inquietudes que acontecem no mundo real para o imaginário. Promovem o estímulo da criação, despertando ideias, questionamentos e soluções.

A falta de tempo para brincar ao ar livre e em espaços não estruturados também é abordada na entrevista. Thaís enfatiza a importância de criar ambientes que estimulem a autonomia das crianças e a organização de rotinas. Passeios em parques, praças e atividades na natureza enriquecem o tempo de qualidade das crianças.

“Interferências ambientais, bem como a falta disciplinar em rotinas podem ser determinantes em respostas comportamentais. Os espaços devem ser projetados cuidadosamente para atenderem as necessidades das crianças, de forma que se sintam confortáveis e seguras, proporcionando a acessibilidade em seu desenvolvimento social, emocional e cognitivo. A adequação espacial deve ser pensada de forma que estimule sua autonomia. Quanto ao tempo e horários, também podem influenciar comportamentos, para tanto esses requerem normas e regras, estruturação de rotinas, e técnicas que possibilitam a execução de atividades. De forma lúdica a criação de quadro, calendários, livros, listas facilitam a organização de rotinas e tarefas separando um tempinho exclusivo para elas. Passeios em parques, praças, piqueniques, acampamentos, atividades físicas na natureza, visam enriquecer o tempo de qualidade da criança com família e amigos. A forma com que a criança internaliza suas experiências, trazem fatores determinantes em suas relações interpessoais e intrapessoais.”

Para estimular a criatividade e a imaginação das crianças, Thaís Braga destaca técnicas psicológicas que reforçam habilidades criativas no manejo das emoções e comportamentos.

“Há abordagens e técnicas psicológicas que possibilitam o reforçamento das habilidades criativas no manejo das emoções e comportamentos da criança. Entre elas, intervenções na psicoeducação, questões sociais, autoestima, autoimagem, autocuidado, gerenciamento das ansiedades, medos e estresses. A forma lúdica nesses reforçamentos, vão além dos contextos clínicos, estão também nos meios educacionais e familiares. Contudo é importante saber identificar e fazer a leitura de sinais verbais e não verbais emitidos por uma criança. Entender o que ela quer dizer e o que está sentindo pode não ser tão simples. A busca por orientações profissionais neste caso, propicia o conhecimento na utilização de tais técnicas, ferramentas e na compreensão das expressividades dos pequenos, auxiliando também em seu autoconhecimento. A utilização destes recursos envolve o uso de uma linguagem adequada na interação com a criança, indicações de materiais ,elaboração e condutas de aplicações, estimulando o reforço cognitivo, afetivo e adaptação de comportamentos, manejo de regras, limites, empatia e colaboração. Em forma de desenhos, artesanatos, técnica de respiração e relaxamento estão são possibilidades recreativas e lúdicas no contexto do brincar.”

Essas interações promovem amizades e o conhecimento mútuo. Thaís Braga incentiva a participação dos pais e responsáveis nas brincadeiras e sugere a frequência em locais com mais crianças, ampliando o círculo de convivência familiar e organizando eventos infantis. A interação na escola e a participação em grupos de aprendizagem também são estratégias recomendadas.

Maylla finaliza dizendo que “a interação com outras crianças contribuem para a socialização e bom desempenho no meio, onde possibilita trocas e aprendizagem mútua, cada criança consegue contribuir a sua maneira com os demais e assim uma intervenção psicológica pode ser feita por meio de observação e desenvolvimento.”

De acordo com informações do Instituto Nacional de Ciências Médicas Gerais (NIGMS) dos Estados Unidos, a exposição à luz emitida por dispositivos eletrônicos durante a noite pode desregular os ritmos biológicos, resultando em problemas de sono e estando associada a condições médicas crônicas, como obesidade, diabetes e depressão.

Além disso, o tempo excessivo passado diante das telas pode substituir o tempo dedicado a atividades físicas benéficas para o sono. Um estudo publicado em 2022 na revista médica Cureus, intitulado “Impacto do Tempo Excessivo nas Telas na Saúde Física, Saúde Mental e Padrões de Sono: Uma Revisão da Literatura”, destacou essa preocupação.

O uso prolongado de dispositivos eletrônicos também pode afetar o desenvolvimento cerebral e aumentar o risco de distúrbios cognitivos, emocionais e comportamentais em adolescentes e jovens adultos. O artigo “A Era Digital e o Cérebro: Impactos do Uso Excessivo de Telas no Desenvolvimento e Seus Efeitos na Saúde Mental”, publicado no Journal of Integrative Neuroscience em 2022, aborda esse problema.

Segundo essa pesquisa, o uso excessivo de telas pode prejudicar a atenção, concentração, aprendizado, memória, regulação emocional, funcionamento social, saúde física e aumentar o risco de distúrbios mentais e abuso de substâncias. Além disso, sugere que tais efeitos podem persistir na idade adulta e aumentar a vulnerabilidade à neurodegeneração, o que por sua vez amplia o risco de comprometimento cognitivo leve, doença de Alzheimer precoce e demências relacionadas.

O equilíbrio entre o uso de telas e o tempo dedicado a brincadeiras é essencial para o desenvolvimento infantil saudável. A participação ativa dos pais e a consciência dos impactos do uso de telas podem ajudar as crianças a crescerem de maneira mais equilibrada. A interação social e o brincar ao ar livre continuam sendo elementos fundamentais no desenvolvimento das crianças, enriquecendo sua capacidade de aprender, criar e se relacionar.

jc1140x200
Abrir o WhatsApp
Como podemos ajudar?
Olá, como podemos ajudar?