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Inclusão social: acessibilidade não é favor, é direito

Apesar da inclusão ser promovida em pequenas ações na cidade por instituições e algumas empresas, a acessibilidade ainda se encontra ausente no município de Lagoa da Prata em todas as esferas sociais, de lazer e também no mercado de trabalho. Fatores que dificultam a vida de uma pessoa com deficiência (PCD).

Karine Pires

A inclusão ainda é uma pauta debatida por instituições e pessoas engajadas para tornar a comunidade mais acessível para todos, principalmente para as pessoas com deficiência (PCD’s). No último mês, foram realizadas campanhas de conscientização em prol da saúde mental e também da acessibilidade para PCD’s. Mas o debate se faz necessário independente do mês de campanha. O grupo enfrenta desafios diariamente. O Jornal Cidade preparou uma reportagem especial para saber se em Lagoa da Prata, a inclusão das PCD’s tem sido promovida nos espaços sociais e no mercado de trabalho da cidade.

Eloisa Maria de Melo, é auxiliar de comunicação no Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de Lagoa da Prata e também é deficiente visual. Apesar de receber ajuda de amigos para se deslocar em bairros da cidade, ela conta que tem dificuldade de se locomover em alguns locais e também de frequentar clubes, por depender da ajuda de alguém para fazer determinadas atividades. “Quanto a bairros eu nunca vou sozinha, sempre com pessoas amigas, então eu não tenho problema com isso. Eu tenho dificuldade é com mesas em cima de passeio e construções em geral, muita dificuldade”.

Apesar de encontrar obstáculos como a ausência de acesso nos lugares, ela é grata e correspondida pelos colegas de trabalho e desconhecidos — que sempre são solícitos quando a ajudam nas ruas da cidade. No entanto, enfatiza que não é só no lazer que o acesso é complicado, no trabalho também.

“Os meus locais de trabalho são a Igreja e o Saae, para deficiente visual não tem nada adaptado, eu que tenho que buscar adaptação quando eu chego, porque antes de mim nunca trabalhou alguém que não enxergasse na paróquia e no Saae, então vou falando com as pessoas, sobre minhas dificuldades e graças a Deus, eles tem me correspondido. Aqui em Lagoa eu que tenho que correr atrás de adaptação”.

Mercado de trabalho, capacitismo e ausência de inclusão

A psicóloga organizacional da ACE/CDL de Lagoa da Prata, Margareth Abreu, explica em um vídeo promovido pela entidade, que a maioria das vagas divulgadas pelas empresas da cidade quase não enquadram PCD’s. A informação foi dada no mês de agosto, na Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla, promovida pela Apae de Lagoa da Prata.

Uma busca no site de vagas em Lagoa, como no Sine, por exemplo, veremos que as oportunidades são praticamente inexistentes e não percebemos que esta é uma conquista que realmente anda a passos bem lentos por aqui. Veja bem, é preciso adaptar todo o processo de recrutamento, afim de incluir a pessoa com deficiência, portanto é necessário incluir formatos acessíveis como Braille, fontes especiais, áudio, a equipe de recrutamento deve ser inclusiva. O local de entrevista, por exemplo, precisa ser acessível. Além disso, as demais equipes e setores da empresa devem ser preparados, implantando uma cultura de respeito, de empatia e conhecimento, sobre as pessoas com deficiência. É importante que gestores e líderes sejam os primeiros a aprender, a se relacionar com esse grupo, já que eles são exemplos. Então, eu vejo que é preciso alterar o cenário da empresa, a mentalidade dos gestores e rotinas de trabalho para promover a inclusão da PCD no mercado de trabalho”, explica, Margareth.

A Lei 8213/1991 também conhecida como a Lei de Cotas para PCD’s, determina que pessoas com deficiência, ocupem de 2 a 5% do quadro das companhias com 100 colaboradores. Através da lei, PCD’s possuem o direito resguardado para ingressar no mercado de trabalho. Margareth também ressalta a importância de preencher as vagas e também de investir na capacitação profissional do grupo.

“ A inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho ainda é vista por muitas empresas como uma obrigação legal. Muitas delas colocam em prática programas que estimulam a diversidade entre seus colaboradores, deixando de fora um grupo de pessoas com deficiências, por terem limitações físicas ou intelectuais e que são taxados injustamente de pouco produtivas e que acabam não tendo oportunidade nesse mercado. É muito raro encontrar um empresário que queira investir na capacitação de pessoas ditas limitadas, mas mal sabem eles que nesse grupo existem muitos talentos que merecem atenção e que podem ser desenvolvidos. O que se vê é um avanço gradativo nessa questão, mas existe um longo caminho para inclusão. Isso porque a qualidade das vagas para esse grupo ainda é bem baixa, sendo escolhido somente para cumprir a lei”.

Mariana de Azevedo é pedagoga e intérprete da Lingua Brasileira de Sinais (Libras), atualmente ela tem desenvolvido trabalhos na cidade para empresas e outras instituições na tradução de materiais audiovisuais para a comunidade surda. Antes da pandemia da covid-19 chegar, Mariana juntamente com a Pastoral do Surdo da Igreja São Carlos, elaboraram um curso para capacitar pessoas com o intuito de transmitir a missa para os surdos.

“Aqui em Lagoa da Prata não tem nenhum curso de Libras. Quando eu vim para cá, aos finais de semana, eu comecei a procurar os surdos daqui. Nós fundamos a Pastoral do Surdo na Igreja Católica, junto com o padre Cristiano. E então, pela Pastoral do Surdo, desenvolvemos um curso básico de Libras com o intuito de trazer mais pessoas para me ajudar a interpretar as missas. Agora com a pandemia estamos parados, mas depois, nós temos a intenção sim de voltar a fazer os cursos”.

Acessibilidade não é favor, é direito

Eloísia reforça que é preciso ter uma sociedade inclusive, não só para uma PCD que nasceu com alguma condição, como também, para pessoas que possam vir a adquirir uma deficiência

devido a alguma circunstância. “As pessoas que vão acolher aquela pessoa com alguma necessidade especial, ela não está sendo acolhida por obrigação. Ninguém está fazendo favor para ela, ela está ocupando um espaço que é dela de direito e como todos, ela tem direitos e deveres”.

Mariana reitera que é preciso refletir sobre o atendimento humanizado dentro de lojas e estabelecimentos, e reforça que está a disposição para parcerias com as empresas da cidade para que Lagoa da Prata se torne mais inclusive.

“Eu queria deixar o seguinte recado: que eles reflitam! Hoje a sua loja ou o seu negócio está pronto para receber qualquer tipo de cliente? Seja ele surdo, deficiente visual ou deficiente intelectual? Os seus funcionários, os seus atendentes estão preparados para um atendimento humanizado?  Se eles só estão preparados para atender as pessoas que se dizem “normal” tem algum problema aí”.

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