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É preciso muito acolhimento, amor, respeito e proteção”, disse filha de portadora de Alzheimer

A reportagem do Jornal Cidade conversou com a geriatra Fernanda Vieira e Souto, que explicou sobre a doença e levantou importantes questões sobre o assunto.

Rhaiane Carvalho


O Alzheimer é uma doença que acomete milhares de pessoas, em especial, idosos. Uma doença que muitas vezes demora ser diagnosticada por falta de informações, principalmente, quando se trata de idosos que tem lapsos de memórias mais frequentes. O mês de fevereiro é marcado por campanhas de luta e conscientização sobre o Alzheimer, uma doença degenerativa e, até o momento, incurável. Funções cerebrais como memória, linguagem, cálculo, comportamento são comprometidos de forma lentamente progressiva levando o paciente a uma dependência para executar suas atividades de vida diária. No Brasil estima-se que cerca de um milhão de pessoas sofram de Alzheimer. A doença acomete principalmente pessoas entre 60 e 90 anos, podendo aparecer antes e também depois desta faixa de idade, porém com menor frequência.

Para saber mais sobre essa doença, a reportagem do Jornal Cidade conversou com a geriatra Fernanda Vieira e Souto, que falou sobre os sintomas a serem observados e também a importância de cuidar de quem cuida da pessoa com Alzheimer. “A gente tem que observar muito. Quem aqui nunca passou por aquela sensação de esquecimento, de não lembrar o que queria dizer, de esquecer o nome de alguém ou o que iria pegar e acabou esquecendo quando chegou no lugar? Estes “lapsos de memória” são preocupantes? Podem ser os primeiros sinais de demência? Estas Dúvidas são frequentes na terceira idade. Com o envelhecimento do cérebro, algumas capacidades cognitivas tornam-se mais lentificadas e a capacidade de concentração em vários focos é reduzida. E isto não significa demência. Porém quando estas dificuldades começam a interferir na autonomia do idoso, na sua capacidade de resolver problemas e manter a sua autonomia, aí sim precisamos estar atentos. Muitas vezes estamos diante de uma redução da concentração associada a atenção dividida, ansiedade e depressão, deficiência de vitaminas e alterações metabólicas que podem piorar a memória do idoso. Vale lembrar que NÃO EXISTE pílula mágica que melhore a memória. Nenhuma medicação ou fitoterápico até o momento se mostrou eficaz neste sentido. Remédio bom para a memória é manter o seu cérebro ativo. Por outro lado, muitos remédios podem piorar a nossa memória. A lista é grande! E se você ou seus familiares perceberem alterações de memória que estão atrapalhando a sua autonomia e capacidade de realizar as atividades do dia a dia sozinho, peça ajuda. Procure um médico capaz de te avaliar de forma ampla e individualizada. Nem sempre é demência. E nem sempre é Alzheimer”, explicou.

Como é feito o diagnóstico

Segundo a médica, o diagnóstico é clínico, através da história contada pelo familiar ou cuidador. Por isto, é importantíssimo que o acompanhante do paciente na consulta seja alguém que convive com ele e observa as alterações no dia a dia.

“A história clínica nos traz informações como prejuízo de memória recente, frequentemente poupando as memórias antigas, fala repetitiva, esquecimento sobre datas e eventos, desorientação em espaço e tempo e dificuldade de realizar atividades de forma independente. As histórias da juventude estão muito presentes e são trazidas com frequência para o momento atual. A família começa ajudar o idoso nas atividades do dia a dia. Ocorre perda de autonomia para atividades mais complexas como: pagar contas, cuidar das medicações, sair de casa sozinho… Com a evolução da doença o idosos necessita de ajuda para as atividades básicas do dia a dia como tomar banho, se vestir, ir até o banheiro e se alimentar. Esta evolução é LENTA E PROGRESSIVA, ocorre em anos”.

Fernanda ainda acrescentou que junto com esses fatores é frequente os sintomas de comportamento: falta de vontade de fazer as coisas, irritabilidade, “teimosias”, mania de perseguição e conspiração contra algumas pessoas, depressão, alterações do sono, alucinações, entre outras.

A segunda etapa para fechar o diagnóstico é feita com uma bateria de testes cognitivos que feitos no consultório.

“Ela mostra de forma objetiva as dificuldades trazidas pela família. Excluir depressão é muito importante, pois ela pode simular um quadro demencial em idosos. Feito isto, solicitamos exames que são complementares para excluir causas de demência reversíveis. Solicitamos também um exame de imagem cerebral que pode ser RNM ou Tomografia. Este exame não faz o diagnóstico de Alzheimer, mas nos traz achados que são mais típicos nesta patologia e também afasta outras causas de demência como demência vascular, hidrocefalia de pressão normal e tumores. Entendam que o exame não traz o diagnóstico. Ele é complementar. E que a peça fundamental para este diagnóstico é as informações serem passadas por quem convive com o idoso. Esta pessoa tem que estar junto na consulta”.

Evolução da doença

O Alzheimer é uma doença progressiva. Não se iluda. Saber disto faz você se adaptar a cada fase da doença para cuidar melhor de quem ama, conforme explica a médica, que também fala sobre as fases da doença, veja:

  • Fase inicial – Demência Leve

Muitas vezes confundida com “é normal do envelhecimento”, o paciente se atrapalha com as memórias recentes, faz perguntas repetitivas, esquece de fatos atuais. Por vezes, quando a família bate de frente e diz: “já te falei”, “você acabou de perguntar isto” o paciente sente-se envergonhado e constrangido, algumas vezes fica irritado e mais agressivo. Para quem não convive com o paciente, pode passar despercebido. Ele começa a sentir dificuldades de realizar atividades mais complexas e resolução de problemas. Mas ainda consegue manter a sua autonomia para grande parte das atividades de vida diária.  Esta fase dura em média 1-3 anos.

 

  • Fase intermediária

Os esquecimentos são mais perceptíveis, o paciente perde a capacidade de realizar atividades mais complexas como pagar contas, cuidar dos remédios, ficar em casa sozinho sem se expor a riscos e sair sozinho.

“Geralmente, é neste momento que as famílias me procuram, pois a convivência torna-se mais difícil. Os sintomas comportamentais aparecem: irritação, tristeza, alucinações, alterações do sono, mania de perseguição, querer voltar pra casa (estando em casa). Algumas alterações de apetite já aparecem aqui nesta fase. E ele torna-se progressivamente mais dependente de cuidado. Esta fase dura de 3-8 anos em média”, explica.

 

  • Fase avançada

Nesta etapa, o paciente é dependente para todas as atividades básicas de vida diária: precisa de ajuda para tomar banho, se vestir, se alimentar, usam fralda, auxílio para se locomover (maioria é acamado ou passa a maior parte do dia deitado ou sentado). É esperado que o fale poucas palavras (mas a comunicação não verbal segue super presente). Podem não reconhecer mais os familiares (ao menos o seu rosto atual). A recusa alimentar é muito frequente. Para chegar nesta fase são 8 a 15 anos de evolução.

 

E como fica quem cuida?

Só quem cuida de um idoso frágil ou alguém que necessite de atenção em tempo integral sabe o peso desta rotina. Não é fácil! Exige muito amor e paciência, mas isto por si só não é suficiente. Você precisa ser bom tecnicamente para cumprir esta missão. E estar atento aos sinais de esgotamento do cuidador é fundamental para que se procure ajuda e isto não influencie no cuidado deste idoso. É importante dividirmos o cuidado com mais alguém. Eu sei que para muitos isto parece impossível, mas nem sempre a rede de apoio vem da própria família”, explicou a médica.

Roselí Medeiros cuida mãe, que tem Alzheimer e Parkinson, segundo ela, a prática é bem mais difícil, assustadora e triste.

“De início, pensei que seria mais fácil, mas com o passar dos meses fui percebendo que era bem mais complexo por se tratar de uma doença que envolve o corpo todo. Cada dia que passa ela precisa mais dos meus cuidados e dos da minha irmã também. Essa doença deixa a pessoa com a autoestima muito baixa, ela não tem vontade de fazer nada; nem sequer para tomar banho. Por ela, continua com a mesma roupa sempre, às vezes suja de xixi por causa da incontinência urinária. Minha mãe era uma pessoa extremamente vaidosa, não saía na rua sem passar hidratante, batom e o pó de arroz dela. Ela era muito cuidadosa com ela antes da doença. Tenho muito medo do avanço dessa doença por ela e por mim, pois se precisar ficar acamada não será fácil”.

A doença da mãe tem mudado a visão de Roselí sobre muitos aspectos. “Penso em fazer exercícios físicos, conversar mais com as pessoas. Uma das coisas que já mudei foi deixar de ser tão apegadas às coisas materiais”.

Ela ainda acrescentou como a saúde da mãe tem sido afetada pelo Alzheimer.

“A doença tem afetado ela diariamente em várias situações. Hoje ela tem incontinência urinária, às vezes alucinações, perda de controle do intestino, dificuldade em pegar alguns objetos; ela já não cozinha mais; abaixou demais a autoestima dela, afetou, obviamente, a memória, ocasionando a repetição de assuntos e esquecendo de tudo, até se comeu, tomou banho; ela sente muito sono também; a questão da higiene foi muito afetada, tanto a pessoal quanto a da própria residência por não dar conta de fazer algumas coisas, precisando dos meus cuidados também nesse sentido. É muito importante as pessoas que moram na casa apoiar a pessoa com Alzheimer, eles se calam muito, ficam, muitas vezes só olhando, se sentindo inúteis, enquanto ainda não tem a memória total afetada. É preciso muito acolhimento, amor, respeito e proteção”.

 

Sinais de alerta para os cuidadores:

  • Sensação de cansaço em tempo integral;
  • Já acorda cansado;
  • Sentimento de tristeza, impotência e falta de ânimo para fazer as coisas;
  • Irritabilidade frequente;
  • Mesmo nos momentos que não está cuidando do idoso não consegue pensar em outra coisa;
  • Labilidade emocional, choro fácil e falta de esperança;
  • Abandonou atividades prazerosas que fazia antes;
  • Sente culpa ao fazer coisas que não envolvem cuidar do idoso;
  • Insônia ou sonolência excessiva;
  • Alteração de peso – ganho ou perda de peso.
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