Profissionais falam sobre problemas causados pela obesidade
A doença é considerada pandêmica, crônica e complexa, e se classifica em 2º lugar entre as causas de morte que poderiam ser prevenidas, perdendo apenas para o tabagismo.
A obesidade tornou-se, nos últimos tempos, um problema de saúde pública. Muitas questões envolvem a obesidade como é o caso do preconceito, despreparo da sociedade, autoestima, dificuldade para locomoção, mas a principal delas é relacioada à saúde. A Organização Mundial da Saúde define a obesidade como o acúmulo de gordura no corpo capaz de fazer mal à saúde. A doença é considerada pandêmica, crônica e complexa, e se classifica em 2º lugar entre as causas de morte que poderiam ser prevenidas, perdendo apenas para o tabagismo. O Jornal Cidade conversou com a médica Vanessa Cristina, que explicou um pouco sobre o assunto.
“Precisamos entender o que leva essa pessoa a ser obesa, pois a obesidade é uma doença multifatorial. Pode estar associada à genética, ao ambiente, às questões sociais, insônia, problemas advindos do sistema endócrino, uso de medicamentos antidepressivos ou com corticoides, dieta rica em alimentos ultraprocessados, excesso de açúcar e bebidas alcoólicas. Enfim, precisamos entender como é a rotina do paciente. Vale ressaltar também que a própria rotina pode tornar uma pessoa obesa, pois vivemos com pressa, sem tempo para comermos e quanto mais planejarmos o cardápio semanal.”, explicou.
Ela ainda explicou sobre como é possível desconfiar, além do peso, que já foi acometido pela obesidade.
“A obesidade traz sérios problemas de saúde, muitas ou podemos dizer até que a maioria das partes de nosso corpo passa a ser afetada pelas suas consequência, que podem ser: doenças cardiovasculares; aumento da gordura no sangue (dislipidemia); diabetes (resistência à insulina); AVC (Acidente Vascular Cerebral); cálculos (pedras) na vesícula; gordura no fígado; apneia do sono; alterações respiratórias; dores lombares; dores articulares (dor no joelho); cansaço; falta de condicionamento físico; refluxo gastroesofágico; problemas psicológicos; doença nos rins; Diabetes gestacional ou pré-eclampsia (em grávidas)”, informou.
Vanessa ainda acrescenta que as pessoas demoram muito para procurar o tratamento porque acham que podem resolver o problema sozinhas e algumas vezes acabam fazendo até algumas loucuras como dietas totalmente restritivas. “Ainda falta muito entendimento de que a obesidade é uma doença crônica e não uma situação transitória que depende de boa vontade”.
As dificuldades de ser obeso em um mundo sem empatia
Sentar em um banco e sobrar espaço para outra pessoa, viajar de ônibus e avião sem se espremer para caber no corredor e poltronas, se encaixar em um perfil para ser contratado, não encontrar roupas que sirvam… Quem nunca? Quem não vive o drama de enfrentar essas e outras dificuldades por causa do peso. Todos os dias, pessoas obesas saem de casa sabendo que o que não faltarão são desafios para que elas sobrevivam ao dia, como transporte público, escritórios, restaurantes e outros ambientes que não estão preparados para acomodá-las. Além disso, como se não bastasse, sabem também que vão ser alvos de piadas, julgamentos e ouvir de muita gente que precisam emagrecer. Esse preconceito tem nome, ‘Gordofobia’.
Ao sair pelas ruas a gente percebe facilmente que quase nada é adaptado para que pessoas obesas usufruam, em igualdade, de locais aproveitados por todos.
“Não encontro problemas em ser gorda, mas encontro problemas para ir ao cinema e sentar confortavelmente na cadeira, em andar em corredor de um ônibus ou avião; em comprar um biquíni, pois parece que gordo não vai à praia, ou não pode ir, não sei. Meu problema em ser gorda não me afeta exceto nisso ou se esbarro em alguma doença que possa ser derivada disso. Estou mudando a alimentação por questões pessoais e vejo que as pessoas ficam surpresas quando me veem comendo vegetais. Já partem do princípio de que é porque quero emagrecer, me dão parabéns. E não é”, disse Renata Granjeiro, professora.
“A gente vai aceitando ser diminuído, e não é preparado para que isso seja o contrário. Aprendemos na raça que não, que isso não é aceitável. Todos merecem respeito. A obesidade nem sempre aparece por genética ou descuido, existem mais coisas envolvidas e que merecem respeito”, João Souza, estudante de engenharia.
Segundo a psicóloga Patrícia Ângela Pinto, que é psicóloga clínica, terapeuta familiar e de casais; formada em Terapia Familiar Sistêmica e Constelação Familiar e em Terapia do Esquema, o impacto emocional na vida dessas pessoas é enorme, o primeiro deles, é o de não pertencimento, ou seja, o fato de se sentir excluído pela sociedade e pela própria família. Pensando que a família é a primeira referência da criança como ambiente e relações de amor e segurança, os dizeres de forma direta (você está comendo demais) ou indireta (através de piadinhas), tem um efeito devastador na vida daquela criança e do adulto que ela irá se tornar.
“A comida tem uma caráter afetivo para as pessoas, além de nutrir o corpo, nutre também a alma, o coração. Muitos adultos usam compulsivamente da comida para alivio de suas dores emocionais e frustrações, continuam a fazer uso do alimento de uma forma infantil, pois para um bebê aliviar seu desconforto, normalmente lhe e oferecido o peito, a mamadeira. A criança também se compensa através da comida pela ausência emocional dos pais, por exemplo. Estar atento as relações que cada pessoa estabelece com a comida é fundamental e os pais também devem ficar vigilantes à forma como introduzem e mantem a alimentação dos seus filhos: obrigar a comer, oferecer alimentos como recompensa, culpabilizar por não ter comido. Olhe para a PESSOA e não para uma parte dela, o corpo não a define, cada ser humano é uma soma de características físicas, emocionais, profissionais e comportamentais e definitivamente, ninguém é incompetente na vida por ser gordo!”, explicou.