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Professores afirmam que pandemia pode ter impactado na alfabetização das crianças

Será que todas as crianças tiveram oportunidades iguais e estrutura para continuarem sendo alfabetizadas nesse período de distanciamento?

Rhaiane Carvalho


A pandemia trouxe a necessidade do isolamento e, junto com ela, novas formas de tentar garantir o aprendizado das crianças. Escolas de portas fechadas, uma nova realidade se instalou na maioria das residências. Mais sensíveis às dificuldades devido à faixa etária, de 5 a 10 anos de idade, o ensino à distância foi um desafio em termos de aprendizado e estrutura. Essa fase é crucial para o desenvolvimento escolar da criança, por ser o período da alfabetização e consolidação da leitura, da escrita e dos fundamentos matemáticos. E porque, nessa idade, elas têm pouca autonomia no ensino remoto e, portanto, o contato próximo aos professores fez muita falta.

Uma pesquisa divulgada pelo Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas para a Infância (Unicef) – braço da Organização das Nações Unidas para a infância- e o Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec) – Educação – apontou que a faixa etária correspondente ao ensino fundamental 1 foi a mais afetada pela exclusão escolar durante a pandemia. Segundo a pesquisa, das mais de 5 milhões de crianças e adolescentes que estavam sem acesso à educação no Brasil em novembro de 2021, cerca de 40% tinham entre 6 e 10 anos de idade. Agora, uma preocupação de especialistas e educadores é que as lacunas na alfabetização durante a pandemia, caso não sejam enfrentadas, virem uma bola de neve que prejudique o desempenho das crianças nas etapas seguintes de ensino.

Agora, de volta às salas de aula, uma nova realidade bate à porta das crianças e professores. Será que todas as crianças tiveram oportunidades iguais e estrutura para continuarem sendo alfabetizadas nesse período de distanciamento? A reportagem do Jornal Cidade conversou com professoras que trabalham diretamente com a alfabetização para saber como elas têm visto essa volta das crianças em sala de aula e o impacto que a pandemia, no período de isolamento integral, causou no aprendizado dos alunos. Soleina de Castro e Cardoso é professora e supervisora escolar, ela conta que com certeza muitas crianças foram prejudicas, o que ainda pode ser reversível, mas que também não se pode negar a questão de como a falta de estrutura prejudica muito mais do que aquele que tem todo suporte em casa.

“A urgência é que essa fase do aprendizado é fundamental: as competências de leitura e escrita que a criança desenvolve ali são cruciais para seguir com a aprendizagem. E para aprender a ler e escrever elas precisam de experiências pedagógicas intencionais e de interações (com adultos e entre si) que não aconteceram na quantidade necessária durante a pandemia. Mas isso não significa que essas crianças estejam “fadadas a arrastar esse fracasso” ao longo de sua vida, sobretudo porque elas ainda têm bastante tempo de anos escolares pela frente. Trabalho também com crianças carentes e, algumas não tinham nem condições de ir buscar na escola a cesta básica que foi oferecida, imagina então ter internet para fazer aula online”, explica.

Já a pedagoga Helenice Freitas diz que a fase da alfabetização bem feita é crucial para o restante da vida escolar dos alunos.

“O impacto que isso tem para a trajetória escolar é muito grande. Se o aluno não se alfabetiza na idade certa, é muito difícil você imaginar que ele consegue acompanhar, consegue aprender os diferentes componentes curriculares ao longo da vida escolar que ele vai ter. Todos os alunos teriam que estar lendo, e não é a realidade. Percebemos que há uma carência nesse retorno às aulas e que a alfabetização foi muito afetada pela pandemia”.

Vivian Maia é professora desde 2007, formada em pedagogia e com especialização em Neurociência e neuropsicopedagogia iniciou na Educação Escolar antes mesmo de concluir a graduação, atuando, atualmente, como professora na Escola Estadual Neca Quirino e bibliotecária Escola Estadual Abraão Lincoln, ambas no sul de Minas, na cidade de Passos. “Durante o ensino remoto desenvolvi meu trabalho através das redes sociais, utilizei o material disponibilizado pela Secretaria de Educação de Minas Gerais e o Plano de Estudo Tutorado (PET); também utilizei as aulas ministradas pela Tv Rede Minas e acesso ao aplicativo Conexão”.

(Professora Vivian Maia/arquivo pessoal).

 

A pedagoga ainda falou sobre as dificuldades encontradas durante o período.

“A maior delas foi a impossibilidade do contato visual, aquele em que nos acostumamos e que nos faz reconhecer as dificuldades das crianças. Nem todos os alunos possuíam recursos adequados ou acesso à internet, o que pedia de mim novas saídas e diferentes estratégias para manter o nível de aprendizagem”.

A volta às aulas exigiu de Vivian um olhar extrassala de aula para ajudar os alunos no processo de aprendizagem.

“À medida que os alunos foram retornando presencialmente, apresentavam diversas dificuldades, inclusive socialmente falando. Vendo que os alunos estavam com vários níveis de déficit, criei estratégias de ensino e, através da melhora do quadro de aprendizagem e participação, recebemos o prêmio do Governo Estadual, “Transforma Minas”, deixando a uma das escolas que já lecionei em 7º lugar em todo o Estado. Através da experiência do ensino remoto e do retorno presencial nesse contexto pandêmico, percebi que a falta do trabalho concreto, o contato presencial e o olhar atento do educador é o que mais afeta a Educação; a falta da convivência com o erro, com o acerto e a vivência real do que é a escola e do ambiente físico educador tornam os educandos apáticos e sem vontade. Mesmo ciente que não escolhemos a pandemia, sabemos que a distância física é causadora dos males da Educação”.

 

 

 

 

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