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Lagopratenses se encontram na pista de skate e compartilham paixão pelo rap

Fotos: Rafael Robatine

De uns tempos pra cá o rap vem ganhando cada vez mais espaço na cena musical nacional. Seja nas redes sociais, nas plataformas de streaming ou em grandes festivais de músicas. O rap vem mostrando sua força e poder de expressão.

Belo Horizonte tem hoje uma das principais cenas do rap nacional. Uma grande fatia do rap de qualidade que é produzido no país vem da capital mineira. Nomes como Djonga, Froid, Fabricio FBC, Clara Lima e Sidoka comprovam a força do rap mineiro e fortalece a ideia que BH é a Compton brasileira (uma referência à cidade californiana, que colocou o rap americano em evidência comercial no fim dos anos 80).

Lagoa da Prata não está imune a essa febre. Um grupo de jovens apaixonados pelas rimas e batidas vem se encontrando na pista de skate da Praça Capitão José Bahia para compor canções, promover batalhas de rima e fazer um intercâmbio de ideias a respeito do movimento hip-hop. Jhonathan Amaral é um dos MC’s mais influentes na cena do rap lacustre. Com 23 anos de idade, o MC diz que o rap sempre esteve presente na sua vida e que ouve o estilo musical desde criança por influência da irmã.

“Eu cresci ouvindo rap em casa. Desde a infância a música foi bem presente na minha vida. Minha irmã mais velha sempre gostou de rap e eu cresci ouvindo Racionais, RZO, Consciência Humana e, querendo ou não, essas influências foram moldando não só o que eu escrevo como também o meu caráter”, confessa o MC.

Jhonathan começou a compor em 2011 e desde então não largou a caneta. Com diversas canções e alguns clipes postados no youtube e redes sociais, o MC é um dos precursores do rap em Lagoa da Prata e é visto como um exemplo pela garotada mais nova que acompanha o movimento.

Além dos MC’s e rimadores, o rap tem um personagem essencial que é a figura do DJ. O DJ é o responsável por construir a batida, elaborar a base sobre a qual os MC’s vão rimar. O DJ da cena rap de Lagoa da Prata é Gabriel Ahnert. Com 21 anos, Ahnert é o responsável por compor e produzir os beats para os MC’s da cena lacustre. Formado em informática e mecânica pelo Instituto Federal de Bambuí, Ahnert compõe há três anos e é uma figura ativa no rap lagopratense. De acordo com o DJ, é muito gratificante ver o crescimento da cena na cidade, porém nem tudo são flores.

“Ainda existe muito preconceito contra quem escuta e faz rap. Desde sempre o rap foi associado à criminalidade. Por mais que todos aqui trabalham e têm suas responsabilidades, sempre vai ter quem diz que rap é música de vagabundo e bandido. Mas não é esse preconceito que vai tirar nosso foco”, enfatiza Ahnert.

Outro aspecto que incomoda o DJ é a questão da falta de apoio do poder público. “Aqui não temos o acesso nem aos banheiros da estação ferroviária. Sempre estamos aqui fazendo nosso som, a estação ao lado tem toda uma estrutura da qual a gente poderia fazer uso, mas não nos é permitido. A estação está sempre fechada”. Mas de acordo com o DJ, o poder púbico se faz presente de outra forma.

“A polícia tá sempre colando. É o prazo da galera se juntar que a viatura chega e rola os baculejos. Isso é mais um exemplo de preconceito que o rap sofre. Mesmo sabendo que a gente está aqui fazendo música, é recorrente as abordagens policiais. Eu entendo que é o trampo deles, que eles são pagos pra isso e na real nunca ouve excessos por parte da polícia. Já estamos acostumados e não vai ser isso que vai acabar com o movimento”, completa Ahnert .

Outro nome que vem ganhando destaque na cena do rap local é Guilherme Borges. O jovem de 19 anos é conhecido como MC GB. Com uma pegada mais leve, GB é outro rapper que tem diversas composições e sempre compartilha suas canções nas redes sociais. De acordo com GB, o movimento em Lagoa vem crescendo gradativamente e tem tudo para tomar ainda mais corpo.“Quando eu comecei a colar aqui na pista, éramos poucos, uns cinco ou seis que sempre vinham aqui pra ouvir rap e fazer batalhas de rima. Hoje em dia têm vinte, trinta pessoas que sempre estão aqui. E esse número só tem a crescer”, completa o MC.

Mulheres no Rap

E se engana quem pensa que só de homens é feito o Rap em Lagoa da Prata. A cena também tem uma participante forte e que levanta a bandeira do feminismo no movimento. Roberta Maria tem 16 anos e é apaixonada pelo rap. Além de MC, Roberta é skatista, já disputou diversos campeonatos e é referência do skate na região.

Roberta explica que faz rap há dois anos e que o skate fez com que ela se interessasse pelo gênero musical.

“Eu comecei a frequentar a pista e o interesse pelo rap foi imediato. Vi os meninos rimarem e aquilo me chamou muito a atenção. As letras correspondem ao meu cotidiano, ao que eu vivo e acredito. E desde então eu comecei a ouvir, entender e escrever rap”.

A jovem MC salienta que a participação feminina no movimento ainda é bem tímida e muito disso se deve ao fato de ainda existir muito machismo no meio.

“Infelizmente muita gente de dentro do movimento parece não compreender o sentido real do hip-hop. Tem muito machismo e homofobia, principalmente quando acontecem as batalhas de rima. Muita gente tentar me rebaixar pelo simples fato de eu ser mulher. Mas isso não faz com que eu desista ou abaixe a cabeça, muito pelo contrário. Eu faço minha música justamente pra combater isso. Mas infelizmente muitas garotas não têm a mesma maturidade e o jogo de cintura que eu tenho. E isso acaba afastando as meninas do movimento”, confessa Roberta.

Apesar das adversidades e do preconceito que existe até mesmo dentro do próprio movimento de rap em Lagoa da Prata, Roberta tem muito bem definido o que quer. Fã da mineira Clara Lima, Roberta diz que se espelha na MC de BH para conquistar seu espaço na música. “Quero seguir os passos da Clara Lima, de quem sou fã. Uma mina que surgiu nas batalhas de MC’s em BH e hoje tem seu espaço no rap nacional”.

Poorline

Com o crescimento do movimento hip-hop em Lagoa da Prata, o DJ e produtor Gabriel Ahnert, sentiu a necessidade de criar uma produtora para assessorar e produzir os artistas da cena. Criada há quatro anos, a Poorline auxilia os músicos no que tange à produção musical e vídeo-clips. Ahnert deixa claro que as portas da Poorline estão abertas para o rap de Lagoa da Prata.

“Criamos a marca com o intuito de ajudar os artistas que estão em desenvolvimento na cena. Eu como DJ, MC, beatmaker e videomaker, trabalho em prol da cultura e do bem estar da minha família. Ainda temos poucos integrantes pelo fato de estarmos aqui para acolher quem de fato quer seguir firme na área artística. Não fechamos compromisso com quem quer só lazer”, acrescenta Ahnert.

Gabriel Noronha é um dos MC’s que recebem assessoria da Poorline. Considerado um exemplo de dedicação entre os MC’s da cena Lacustre, Noronha diz que suas influências são os próprios amigos que estão na correria do dia a dia pra fazer e produzir a música autoral.

“Quem está com a gente aqui na Poorline tá sempre procurando levar o rap muito a sério, independente das dificuldades. Precisamos nos dedicar ainda mais, pois todo esforço gera recompensa. Nós não podemos parar, por mais que vai ter gente que vá criticar, temos que ter fé, acreditar em nosso potencial e nunca querer se comparar com ninguém. Temos que nos comparar com nós mesmos. Olhar para o passado, enxergar a evolução que conquistamos e saber onde podemos chegar”, finaliza Noronha.

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