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Errar é super-humano: um comentário sobre ‘Tudo em todo lugar ao mesmo tempo’

Filme queridinho da crítica em 2022 entrega sim originalidade em seu formato, mas ganha mesmo o público ao explorar temas com os quais ele se identifica.

Por João Alves*


Ninguém suporta mais comentários, rodas de conversa e críticas em torno “Tudo em mesmo lugar ao mesmo tempo”. Incluindo eu. E é exatamente por isso que resolvi desabafar sobre o filme, ao invés de refletir sobre ele, em um diálogo sem fim comigo mesmo, o tempo todo.

Na verdade,  mesmo antes das grandes premiações desta temporada – que deu ao filme um selo de qualidade mais formal, para não dizer mais pomposo – o longa fazia barulho entre os entusiastas da ficção-científica, do cinema entendido como “alternativo”, e recebeu boas críticas (pelo menos neste universo). Os motivos são vários, mas a originalidade da proposta e a forma como alguns temas sensíveis são explorados estão no topo. 

Uma relação inusitada, contudo, chamou a atenção para uma linha interpretativa que, se considerada, dá ao filme uma camada extra de sentido. Por trás dessa confusão em que tudo acontece no mesmo lugar ao mesmo, há uma alegoria para o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) que, embora mais comum na infância, também é presente no cotidiano de adultos – como no da protagonista do filme, Evelyn. É difícil focar em algo quando a cabeça está em outro lugar, ou em vários lugares, simultaneamente.  Daí este título necessariamente longo. 

Confesso que essa associação guiou minha leitura do filme. E depois de saber desse segredo, como um fofoqueiro curioso, fui atrás de outros. Com todo respeito às produções da Marvel, que também exploram o conceito de multiverso, o vencedor do Oscar deste ano o fez com profundidade. 

Mais que uma ficção científica, “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo” é uma narrativa bem montada sobre TDAH, depressão, niilismo e maternidade. É sobretudo um filme sobre aquele momento, inevitável, nostálgico e melancólico, em que olhamos para trás e nos perguntamos: “e se eu tivesse seguido um caminho diferente?”. 

A resposta perambula entre várias possibilidades, em um exercício ao mesmo tempo sádico e de auto-piedade. Como se houvesse, de fato, a possibilidade de voltar atrás.  E aqui entra a sabedoria dos memes da internet: É sobre isso e está tudo bem. Como “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo” mostra, em meio aos erros, e ao caos da aleatoriedade do universo, há momentos (poucos) que fazem sentido. Pedacinhos do tempo que merecem ser vividos e apreciados e que compensam todo o resto. Errar é super-humano. 

Em um momento particularmente sombrio,  e aqui peço desculpas por sair do papel de comentarista de cinema e escrever algo pessoal – surpresa! Há um humano por trás desta tela – assistir ao filme dos Daniels foi, para mim, um desses pedacinhos de vida que nos ajudam a seguir em frente. 

Não poderia encerrar o comentário sem homenagear as excelentes atuações de Michele Yeoh, agora, primeira atriz de origem asiática a vencer o Oscar de melhor atriz, e de Jennifer Lee Curtiz, cuja contribuição para o cinema não cabe em uma estatueta, é claro, mas cá para nós, quem rejeitaria uma dessas? 

O filme está disponível no streaming para aluguel e assinantes da PrimeVideo, mas é possível alugá-lo online ou assistí-lo no cinema.

@joaoalvez é estudante de Jornalismo pela UFMG. 

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