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Vila Luciânia: Memórias de uma Comunidade lagopratense

Conheça a história da Vila Luciânia, fundada por Antônio Luciano Pereira Filho, ex-proprietário da usina. Descubra as lembranças e transformações vividas por seus moradores ao longo dos anos.

Por Stéfani Couto


Conhecido por intensas memórias afetivas, a Vila Luciânia, localizada em Lagoa da Prata, deixou saudades e uma história rica e intrinsecamente ligada à Usina Luciânia, hoje conhecida como Raízen. Fundada por Antônio Luciano Pereira Filho, ex-proprietário da usina, a vila foi palco de importantes momentos para os trabalhadores e moradores da região.

Antônio Luciano Pereira Filho, conhecido como “dono de Belo Horizonte”, era um empresário influente no ramo cinematográfico. Até 1960, todas as salas de cinema na capital mineira eram de sua propriedade, o que lhe rendeu grande fama e prestígio na época. Além disso, Luciano teve mais de trinta filhos, que herdaram uma herança estimada em 3 bilhões. No entanto, ele faleceu em 1990, deixando para trás um legado marcante.

Um dos pontos icônicos da Vila Luciânia era o Cine Luciânia, fundado em 1954 e pertencente à Cia. Industrial e Agrícola Oeste de Minas – Usina Ovídio de Abreu. Com capacidade para acomodar trezentas pessoas, o cinema funcionava três vezes por semana e recebia os filmes rapidamente devido à sua conexão com outros cinemas da propriedade de Antônio Luciano Pereira Filho na capital mineira. No entanto, o cinema acabou em 1989 após uma greve dos trabalhadores na Usina Luciânia, o que causou decepção nos antigos donos da usina e resultou no êxodo de muitas famílias para a cidade. O espaço do galpão do cinema foi posteriormente utilizado como depósito de sacas de açúcar.

Outro marco importante na Vila Luciânia era o Supermercado da Vila Luciânia, que existia desde a fundação da vila, em 1949. O supermercado vendia alimentos, eletrodomésticos, utensílios e proporcionava aos trabalhadores da usina a oportunidade de vender suas hortaliças. Era um local que reunia a comunidade e oferecia uma ampla variedade de produtos. Moradores da época lembram-se com nostalgia dos bons momentos vividos no supermercado, especialmente durante o Natal, quando a loja ficava toda enfeitada e as crianças admiravam os brinquedos.

 

“Passei bons momentos nesse supermercado. Lá tinha de tudo: gêneros alimentícios, vestuário, calçados, brinquedos e até bicicletas. Na época do Natal, a loja ficava toda enfeitada, e as crianças ficavam ali admirando os brinquedos. Cada local da Vila Luciânia tem histórias de muitas pessoas que viveram por lá. A Vila Luciânia foi um lugar muito importante para mim. Foi lá que meu pai encontrou seu porto seguro em 1962, depois de sair do município de Campo Belo. A vida era difícil naquele tempo, mas ele encontrou trabalho, uma casa gratuita com água e luz. Trabalhou como cortador de cana por 22 anos, até 1984, e depois realizou outros serviços na lavoura até se aposentar. Em seguida, veio minha mãe, meu irmão mais velho e depois os outros irmãos e eu, com a graça de Deus. Não tínhamos muitas coisas, mas fomos felizes na Usina. O momento mais triste foi a morte da minha mãe, aos 56 anos, em maio de 1993, e um mês depois a morte do meu irmão, com 25 anos. No mesmo ano, mudamos para Lagoa da Prata. Tive muitos amigos na Usina, parecia que todos éramos uma família. Se alguém precisava de mantimentos, o vizinho ajudava. Se alguém se casava, todos estavam convidados para a festa. Foram tantas coisas que vivi nos meus primeiros vinte anos. Depois, conto mais. Um abraço para todos aqueles que viveram comigo na Usina. Fomos felizes”, Marcos Aparecido.

A criação da Usina Luciânia em Lagoa da Prata teve início com um encontro casual entre José Mendes Macedo, ex-prefeito da cidade, e dois amigos influentes no Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), no Rio de Janeiro, em 1945. Esse encontro levou à disponibilização de cotas para a instalação de usinas açucareiras no país. José Mendes Macedo lutou pela causa no IAA e conseguiu destinar 100.000 cotas para Lagoa da Prata, impulsionando a criação da usina.

A instalação da usina contou com o apoio de Jovelino Rabelo, um líder industrial da região, e do Dr. Francisco Botelho Martins Vieira, genro de Jovelino e engenheiro responsável pela orientação inicial do empreendimento. A usina foi montada pela empresa francesa Fives Lilly, que forneceu o primeiro engenho para a produção de açúcar, e contou com técnicos especializados no setor. A primeira safra foi realizada em outubro de 1948.

Após o início da produção, a Companhia Industrial e Agrícola Oeste de Minas (Ciaom), nome fantasia da Usina São Francisco, foi transferida para o grupo financeiro de Antônio Luciano Pereira Filho, sob a direção de seu pai, Cel. Antônio Luciano Pereira. Essa mudança ocorreu em 26 de fevereiro de 1949, como registrado na Junta Comercial do Estado de Minas Gerais.

 

A Vila Luciânia e a Usina Luciânia foram marcos na vida dos moradores e trabalhadores da região, proporcionando moradia, saúde, diversão e estudo gratuitos. A vila foi um porto seguro para muitas famílias, oferecendo oportunidades de trabalho e uma comunidade unida. Mesmo com o passar do tempo e as transformações, a memória da Vila Luciânia e sua conexão com a Usina Luciânia permanecem vivas nas histórias e lembranças daqueles que vivenciaram esse período tão significativo na região de Lagoa da Prata.

“Sou da Usina, amava aquele lugar. Foi o melhor lugar em que morei e trabalhei. Todos recebiam seus salários mensais. Quem não conseguia esperar pelo pagamento vendia açúcar e óleo com o cheque de adiantamento. Quem recebia no mês podia comprar em Lagoa onde quisesse, e lá tinha de tudo: moradia, saúde, diversão e estudo, tudo gratuito”, Vera Lucia.

José Mendes Macedo foi o primeiro prefeito de Lagoa da Prata e participou ativamente da criação da Usina Luciânia.

A Usina Luciânia, ao longo dos anos, desempenhou um papel crucial na economia local, gerando empregos e impulsionando o desenvolvimento da região. Além da produção de açúcar, a usina também se dedicou à produção de álcool, utilizando tecnologias avançadas para maximizar a eficiência e a qualidade dos produtos.

“As principais atividades econômicas giravam em torno da produção de açúcar. Os trabalhadores estavam envolvidos nas etapas de cultivo, colheita e processamento da cana-de-açúcar. Além disso, a vila geralmente dependia da usina para empregos e sustento, pois a produção de açúcar era uma das principais fontes de renda da região”, moradora da antiga Vila Luciânia que preferiu não ser identificada.

A comunidade da Vila Luciânia desfrutava de diversos benefícios oferecidos pela usina. Os trabalhadores e seus familiares tinham acesso a assistência médica, educação e lazer. A usina contava com um hospital próprio, que oferecia atendimento médico e odontológico para os funcionários e seus dependentes. Escolas foram construídas na vila, proporcionando educação gratuita para as crianças da região. Além disso, a usina promovia atividades esportivas e culturais, como campeonatos de futebol, festas juninas e apresentações teatrais.

 

A presença da usina e da Vila Luciânia também trouxe mudanças significativas na paisagem e infraestrutura da região. Foram construídas estradas, pontes e redes de abastecimento de água e energia elétrica para atender às necessidades da usina e dos moradores da vila. A população cresceu, novas casas foram construídas e o comércio local se desenvolveu para atender às demandas da comunidade.

No entanto, ao longo dos anos, a usina passou por mudanças em sua administração e enfrentou desafios no mercado sucroenergético. Em 1996, a Companhia Industrial e Agrícola Oeste de Minas (Ciaom) foi adquirida pelo Grupo Ometto, que posteriormente se tornou a Biosev, uma das maiores produtoras de açúcar e álcool do país. Essas mudanças tiveram impactos na Vila Luciânia, com alterações na estrutura e nas políticas de gestão.

A relação entre a comunidade e a usina continua presente, embora tenha passado por transformações ao longo do tempo. A história da Vila Luciânia e sua ligação com a Usina Luciânia representam um capítulo importante na história de Lagoa da Prata e da indústria açucareira e sucroenergética no Brasil.

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