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Gordofobia – por que é tão necessário falar sobre?

Todos os dias, pessoas obesas saem de casa sabendo que o que não faltarão são desafios para que elas sobrevivam ao dia, como transporte público, escritórios, restaurantes e outros ambientes que não estão preparados para acomodá-las.

Sentar em um banco e sobrar espaço para outra pessoa, viajar de ônibus e avião sem se espremer para caber no corredor e poltronas, se encaixar em um perfil para ser contratado, não encontrar roupas que sirvam… Quem nunca? Quem não vive o drama de enfrentar essas e outras dificuldades por causa do peso. Todos os dias, pessoas obesas saem de casa sabendo que o que não faltarão são desafios para que elas sobrevivam ao dia, como transporte público, escritórios, restaurantes e outros ambientes que não estão preparados para acomodá-las. Além disso, como se não bastasse, sabem também que vão ser alvos de piadas, julgamentos e ouvir de muita gente que precisam emagrecer. Esse preconceito tem nome, ‘Gordofobia’.

Ao sair pelas ruas a gente percebe facilmente que quase nada é adaptado para que pessoas obesas usufruam, em igualdade, de locais aproveitados por todos.

“Meu corpo nunca foi um problema pra mim, mas sempre foi para os outros e para os lugares que ocupo. Eu não tenho problema em ser gorda, e não é ser gordinha, é gorda, pois magra não é magrinha, é magra, então o por qual motivo serei gordinha? Não tem a necessidade diminuir nada. A não ser o preconceito das pessoas. Não encontro problemas em ser gorda, mas encontro problemas para ir ao cinema e sentar confortavelmente na cadeira, em andar em corredor de um ônibus ou avião; em comprar um biquíni, pois parece que gordo não vai à praia, ou não pode ir, não sei. Meu problema em ser gorda não me afeta exceto nisso ou se esbarro em alguma doença que possa ser derivada disso. Estou mudando a alimentação por questões pessoais e vejo que as pessoas ficam surpresas quando me veem comendo vegetais. Já partem do princípio de que é porque quero emagrecer, me dão parabéns. E não é”, disse Renata Granjeiro, professora.

João Souza disse que durante muitos anos sentiu vergonha do seu corpo e se recusava a sair de casa às vezes, selecionando locais que talvez poderia ser aceito.

“Eu escolhia tudo, até entender que eu não precisava disso, que todo mundo estava vivendo normal e eu, por questões desnecessárias, vivia apenas o que achava que me era permitido. Mas quem disse que eu não podia isso ou aquilo? Pois é, a minha cabeça. Mas isso vem de lá de trás, na escola isso não é trabalhado, a gente é o ‘gordo baleia’ e pronto, todo mundo concorda, a gente acostuma a ser e está tudo certo. Só que a gente vai aceitando ser diminuído, e não é preparado para que isso seja o contrário. Aprendemos na raça que não, que isso não é aceitável. Todos merecem respeito. A obesidade nem sempre aparece por genética ou descuido, existem mais coisas envolvidas e que merecem respeito. Hoje sou muito tranquilo quanto a isso. Não mereceu a minha atenção, tchau!”

“Meu peso me rendeu a honra de ser empreendedora. Sim, eu queria me vestir bonita igual as pessoas magras, mas saía e não encontrava roupas bacanas, só umas roupas que mais pareciam lençol ou cortina. Então eu pensei que muitas pessoas estariam passando pelo mesmo problema e resolvi estudar a possibilidade de olhar para esse público. O que não entendo é que quando saio às ruas pessoas gordas ou consideradas acima do peso são a maioria, mas as lojas insistem em só vender P, M e G. Na dor, encontrei a oportunidade. E tenho certeza que estou ajudando muitas pessoas a se olharem diferente”, Neilane Fonseca.

Patrícia Ângela Pinto é psicóloga clínica, terapeuta familiar e de casais; formada em Terapia Familiar Sistêmica e Constelação Familiar, e em Terapia do Esquema, escreveu um texto sobre o assunto para o Jornal Cidade. Leia na íntegra:

Vamos conversar sobre Gordofobia?

Gordofobia é um termo para identificar o preconceito que pessoas gordas sofrem na vida afetiva, social e profissional. É um neologismo para o comportamento de pessoas que julgam alguém inferior, desprezível ou repugnante por ser gordo. Funciona como qualquer outro preconceito baseado em uma característica única. Pessoas que estão acima do peso enfrentam verdadeiras batalhas no seu dia a dia, desde adaptações em ambientes públicos, até a compra de roupas.  Esse preconceito está enraizado nos indivíduos, que muitas vezes não se dão conta que são preconceituosas, e o mascaram através de se mostrarem preocupadas com aquela pessoa.

O impacto emocional na vida delas é enorme, o primeiro deles, é o de não pertencimento, ou seja, o fato de se sentir excluído pela sociedade e pela própria família.  Pensando que a família é a primeira referência da criança como ambiente e relações de amor e segurança, os dizeres de forma direta (você está comendo demais) ou indireta (através de piadinhas), tem um efeito devastador na vida daquela criança e do adulto que ela irá se tornar.

A comida tem uma caráter afetivo para as pessoas, além de nutrir o corpo, nutre também a alma, o coração. Muitos adultos usam compulsivamente da comida para alivio de suas dores emocionais e frustrações, continuam a fazer uso do alimento de uma forma infantil, pois para um bebê aliviar seu desconforto, normalmente lhe e oferecido o peito, a mamadeira.  A criança também se compensa através da comida pela ausência emocional dos pais, por exemplo. Estar atento as relações que cada pessoa estabelece com a comida é fundamental e os pais também devem ficar vigilantes à forma como introduzem e mantem a alimentação dos seus filhos: obrigar a comer, oferecer alimentos como recompensa, culpabilizar por não ter comido…

 

(Patrícia Ângela Pinto / arquivo pessoal).

A comida deve ser sim fonte de prazer e satisfação de uma necessidade que é básica ao seres humanos, mas é importante sempre procurar mantê-la de um modo saudável, sem culpa e sofrimento. Uma relação não saudável vemos na bulimia (comer abundantemente e depois se sentir culpado, provocando o vômito) e na anorexia (recusa em se alimentar por uma distorção da imagem corporal, achar se gorda). Por trás de uma obesidade pode estar oculto sérios problemas emocionais, que precisam ser vistos, não criticados. Mas, existe casos, onde a genética interfere ou onde o excesso de peso não incomoda, o que também precisa ser respeitado.

Fica, então, a dica para que cada pessoa reveja seus comportamentos e posturas preconceituosas e seja mais empático, sem sair por ai se achando o dono da razão e agindo de uma forma arrogante (se achando superior ao outro), querendo impor sua forma de pensar e agir. A pessoa que tem obesidade na maioria das vezes sofre muito pelo estigma social e familiar e numa tentativa de agradar o outro costuma recorrer a tratamentos que colocam em risco sua própria vida, usando chás ou fazendo dietas mirabolantes, como temos visto atualmente na mídia. Todo tratamento para emagrecer requer acompanhamento médico e psicológico, inclusive a cirurgia bariátrica, muito recorrente, pode ser apenas uma troca de compulsão: da comida para o álcool, por exemplo.

Ser gordo ou magro é escolha de cada um, e o que é certo para mim, não é o certo para o outro. Vemos hoje uma dificuldade geral de aceitar e conviver com o outro como ele é, como se tivesse que haver um padrão geral de corpos e comportamentos, onde somente o belo e o perfeito pudessem existir. Ora, isso é uma fantasia, perfeição não existe nem em pessoas, muito menos em corpos. Constantemente, recebo no meu consultório adultos com suas crianças feridas, devido a críticas ligadas ao seu próprio corpo na infância. Pode até ser uma “brincadeirinha” para quem faz, mas com certeza não é para quem ouve!  Gera traumas, baixa autoestima, sentimentos de menos valia, feridas que podem se fechar, mas que deixam cicatrizes na vida da pessoa.

O convite é que cada um olhe para si, pois quem muito se preocupa com a vida do outro, não está olhando e provavelmente foge de suas próprias querelas.

Se o outro não lhe pediu ajuda, você não deve ajudar, só porque acha que é o melhor para ele, se pergunte se você tem competência para isso, o emocional de alguém é algo sério e pode trazer muitos transtornos quando subjugado. Olhe para a PESSOA e não para uma parte dela, o corpo não a define, cada ser humano é uma soma de características físicas, emocionais, profissionais e comportamentais e definitivamente, ninguém é incompetente na vida ou pode ser considerado menos feliz por ser gordo!

(Patrícia Ângela Pinto atende na Avenida Getúlio Vargas, 1176 – loja 2 – Centro – Lagoa da Prata. Contato: (37) 9 88061929.

A legislação

O preconceito contra pessoas gordas não existe no código penal para ser considerado crime, mas todo aquele que tem seu psicológico abalado por ofensas, bem como os direitos da personalidade atingidos, como o nome, a honra e a intimidade tem direito à indenização por injúria e danos morais, que são da esfera criminal e cível.

A gordofobia se trata de diversas dificuldades enfrentadas pelas pessoas gordas, desde ofensas e ridicularizarão, falta de acessibilidade – como catracas apertadas no ônibus – e até mesmo a discriminação médica, quando o paciente é tratado mais agressivamente do que uma pessoa magra seria.

A gordofobia se enquadra em  diversas dificuldades enfrentadas pelas pessoas gordas, desde ofensas e ridicularização, falta de acessibilidade, entre outros transtornos. Desta maneira, é possível denunciar esses atos por se tratarem de uma discriminação. Após a vítima identificar que sofreu gordofobia, ela deve analisar se processará o agressor na esfera cível ou criminal. Nas duas opções é preciso juntar todas as provas do ocorrido.

O site Jusbrasil reúne hoje 66 menções à gordofobia. Um levantamento realizado pelo Estadão mostra que o Tribunal Superior do Trabalho (TST) registrou aumento do número de ações de pessoas contra empresas por causa desse preconceito. Até agosto de 2022, haviam 1.414 processos tramitando na Corte, dos quais 328 deram entrada nos últimos dois anos.

A penalização pode variar conforme o crime enquadrado. No caso de danos morais, por exemplo, as punições são multas ou detenção. O valor da multa é decidido conforme a agressão cometida.

O preconceito contra pessoas gordas é capaz de gerar muita dor, traumas e até apatia social. Ele oprime especialmente as mulheres, que precisam atender às exigências estéticas sociais.

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