Fato inédito na história política da cidade, Wilmar de Oliveira filho apresentou a carta de renúncia ao presidente da Câmara
O prefeito de Santo Antônio do Monte, Wilmar de Oliveira Filho/PSDB, renunciou ao cargo na última segunda-feira. Uma carta de renúncia foi encaminhada ao presidente da Câmara Municipal, Martim Rodrigues dos Santos, e apresentada na última sessão legislativa, às 20h do mesmo dia. A decisão foi tomada momentos antes, às 19h, após uma reunião do prefeito com os secretários de governo.
Wilmar Filho ocupou o cargo de chefe do Executivo durante dois anos e quatro meses, no terceiro mandato não consecutivo. Na carta enviada ao Legislativo, ele comunicou sua decisão irrevogável de se afastar em definitivo da função, alegando ser um pedido da família.
O ex-prefeito tem 59 anos, é médico clínico geral e atende na Fundação Dr. José Maria dos Mares Guia. Já ocupou o cargo de secretário de Estado da Saúde e é ex-presidente da Superintendência Regional da Saúde e fundador do primeiro Consórcio Intermunicipal de Saúde em Minas Gerais. Este foi seu terceiro mandato na prefeitura – o primeiro foi entre 1993 e 1996 e o segundo de 2001 a 2004.
Leia a íntegra da carta enviada pelo prefeito à Câmara:
“Após reflexão amadurecida e submetendo-me ao apelo familiar irrecorrível, venho nessa oportunidade, na condição de Prefeito de Santo Antônio Do Monte, eleito no pleito de 2012, dar conhecimento aos poderes constituídos deste Município, de forma especial, à Câmara de Vereadores e à nossa população, da minha decisão irrevogável de afastar em definitivo do cargo de Prefeito Municipal.
Tenho a consciência tranquila de minha dedicação e de meus sacrifícios para atender da melhor forma esta terra e seu povo. Agradeço efusivamente a distinção e o apreço que recebi da população, dos servidores municipais e dos íntegros representantes dos poderes: Legislativo e Judiciário no período que estive no exercício de tão nobre função pública.
Registre, pois, Vossa Excelência a decisão tomada, em cumprimento ao disposto na Lei Orgânica de Santo Antônio do Monte, comunicando-a aos demais pares da Câmara Municipal, afim de dar posse no cargo ora vago ao Excelentíssimo Senhor Vice-Prefeito Edmilson Aparecido da Costa, a quem rogo à Deus, que tenha pleno sucesso em suas funções.
Com respeito, subscrevo-me, atenciosamente,
Wilmar de Oliveira Filho”
Vice Dinho do Braz assume o cargo de prefeito
O vice-prefeito Edmilson Aparecido da Costa/PSDB, conhecido na cidade como Dinho do Braz, assumiu o cargo de chefe do Executivo em cerimônia realizada na última terça-feira, na Câmara Municipal. Ele é advogado, tem 38 anos e foi vereador por dois mandatos consecutivos, de 2005 a 2012. Em seu discurso de posse, o novo prefeito afirmou que medidas impopulares serão tomadas nessa nova gestão. “Hoje a nossa administração está relativamente controlada, mas encontra-se com algumas despesas que a gente tem que eliminar. Algumas medidas drásticas e até impopulares serão tomadas, mas em momento algum irá atingir a coletividade. A minha administração será voltada para a coletividade e não para interesse particular. Santo Antônio do Monte não precisa se preocupar, pois o que é certo é certo e o que é errado é errado. Em 2016 quero entregar a administração juntamente com os vereadores sem qualquer problema. Estarei na administração até 2016 e isso vai passar, mas as responsabilidades devem ir até o fim. Neste momento a vida requer de mim coragem. Busco inspiração no Dr. Wilmar Filho, que considero meu pai na vida política. Reconheço as razões que o levaram a afastar da vida política. Desejo que ele encontre paz e serenidade junto à sua família, coisa que ele não teve durante estes dois anos de mandato. O nosso slogan que era “Por amor e respeito a Santo Antônio do Monte” está mudando hoje para “Santo Antônio do Monte, uma cidade de todos’”, finaliza o prefeito.
Vereador Luis Resende liga renúncia à “oposição irresponsável”
Em seu pronunciamento durante a sessão da Câmara, o vereador Luis Resende atribuiu a renúncia ao que ele chamou de “oposição irresponsável”. “Nós não podemos é ter outro mandato em que o prefeito, por causa de uma oposição que parece que quer o poder de qualquer maneira, vir aqui nessa casa e entregar o cargo. Aí Santo Antônio do Monte não terá pessoas de bem para comandar. O cara perde a vontade de trabalhar. Tem que ter oposição sim. Mas não pode ser cretina e irresponsável. O Wilmar não teve paz. Isso não é justo. Ninguém sabe da prefeitura de Santo Antônio mais do que eu. Nenhum prefeito passou tanta humilhação e oposição irresponsável como o Wilmar passou. Tem que ter oposição progressista. Ficamos tristes, porque é um líder, cidadão de bem, honesto, grande político, grande prefeito, ele fez muito pela cidade”, desabafou Resende.
A administração municipal, e principalmente o prefeito Wilmar Filho, vinham sofrendo desde o início do mandato uma grande pressão nas redes sociais, entre críticas, cobranças e insultos. Todos os vereadores se pronunciaram sobre a renúncia do prefeito. Carlos Campinho, um dos líderes da oposição, falou do respeito que tem pelo ex-prefeito. “Quero desejar a ele boa sorte em sua caminhada. Estou aqui para fazer um trabalho de oposição responsável. Dr. Wilmar sempre me respeitou e sempre o respeitei, sempre questionei, sempre cobrei e sempre fiscalizei. O novo prefeito vai ser bem vindo, vai ser respeitado por mim e pela casa. Mas vai ser cobrado da mesma forma como fiz uma oposição responsável ao Dr. Wilmar. Estive com o Dr. Wilmar há duas semanas. A gente sabe que a sua saúde está abalada. Ele pediu que fizéssemos orações para ele. Quem conhece o meu coração sabe que não tenho inimigo. Que Deus o abençoe”, disse Campinho.
De acordo com Luis, falta dinheiro para administrar. Será?
Em 28 meses de governo, a administração municipal de Santo Antônio do Monte enfrentou várias dificuldades financeiras e de gestão, como a UPA, construída no mandato anterior e que até hoje não foi inaugurada, tomada de empréstimo bancário para quitar repasses em atraso do fundo de previdência dos servidores municipais (FAAS), atraso no pagamento de fornecedores, entre outros. O vereador Luis Resende, em seu pronunciamento, defendeu a administração de Wilmar Filho e disse que a prefeitura da cidade não tem dinheiro para investir. “Não está fácil ser prefeito, não! Não tem mágico não! Não tem administrador que passou aqui que faça a prefeitura funcionar com os recursos que tem. Eu aposto que não funciona. O prefeito cortou tudo o que podia cortar. Tinha que sair mesmo, tem que renunciar. Não tem dinheiro. Não tem como a máquina funcionar”, desabafou.
Os números disponibilizados pelo portal Minas Transparente (www.minastransparente.tce.mg.gov.br), do Tribunal de Contas de Minas Gerais,
contradizem a afirmação do vereador e do governo, de que o município está sem dinheiro. Santo Antônio do Monte obteve de receitas, no exercício de 2014, o total de R$ 70.782.251,00. É como se tivesse entrado nos cofres públicos o equivalente a R$ 2.568,66 por cada habitante. O governo do ex-prefeito Wilmar Filho teve à disposição para gerir a cidade um valor por pessoa na ordem de 38% a mais do que recebeu a administração de Bom Despacho, de R$ 1.854,33 per capita. Se comparado com Lagoa da Prata, a receita de Santo Antônio do Monte por habitante foi 55% maior. O prefeito Paulo Cesar Teodoro teve à disposição um recurso de R$ 1.656,60 por pessoa para administrar o município, conforme o gráfico.
Proporcionalmente com menos dinheiro que S. A. do Monte, governo de Lagoa da Prata investiu em obras mais de R$ 10 milhões com recursos próprios do município
Todos os municípios brasileiros passam por dificuldades financeiras. Além de assumirem os serviços diretos com a própria população, os gestores municipais precisam investir os recursos da cidade em diversas ações que são de responsabilidade do Estado e da União, como a segurança pública, por exemplo. Geralmente, o aluguel dos imóveis que abrigam as delegacias e os quartéis das polícias, bem como o combustível das viaturas, é pago pelas prefeituras. E somente uma parte mínima dos impostos pagos pelo cidadão chega aos cofres do seu município. As cidades também encontram dificuldades em oferecer um serviço de saúde digno ao cidadão – muitas das vezes por desamparo dos governos estaduais e federal, e outras vezes, por má gestão.
Com todas essas dificuldades, o governo de Lagoa da Prata tem encontrado alternativas para executar obras com recursos próprios. Em 2013, o prefeito Paulo César Teodoro reajustou impostos municipais e promoveu uma economia nos gastos da administração. A pedido do Jornal Cidade, a Secretaria Municipal de Fazenda está produzindo um levantamento dos valores investidos pela administração desde o início do mandato. O relatório das ações do governo será publicado nas próximas edições, porém, a seguir, veja uma prévia dos recursos próprios investidos por Lagoa da Prata.
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