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Unidos pelo casamento; separados pela pandemia?

Para muitos, ficar em casa pode ser tranquilo e até relaxante; para outros, pode ser um pesadelo. Com o isolamento social, o número de violência doméstica teve um aumento de 44,9% e, por consequência, o número de divórcios também aumentou.

Reportagem: Matheus Costa

Com a pandemia, cresce significativamente o número de pedidos de divórcio no Brasil. A informação é da advogada da área de Família e Sucessões, Débora Guelman, em entrevista fornecida dia 18 de maio deste ano ao programa Tarde Nacional, no site da Empresa Brasil de Comunicação.

Segundo a advogada, 70% da procura pela separação é feita por mulheres, as quais queixam-se da sobrecarga de atividades oriundas de jornada tripla, composta por trabalho, cuidado com casa e filhos. Guelman ainda alerta que muitas mulheres tem buscado pelo divórcio após terem sido vítimas de violência doméstica.

De acordo com matéria publicada em 20 de abril deste ano, no site da Agência Brasil, no estado de São Paulo houve um aumento de 44,9 % de violência contra a mulher. A comparação foi entre março de 2020 e março de 2019. A análise apresenta dados de seis estados brasileiros e foi realizada no mês de abril, com base em dados quantitativos de boletins de ocorrência produzidos pelas Polícias Civis, número de ocorrências atendidas pela Polícia Militar e medidas protetivas de urgência determinadas pelos Tribunais de Justiça.

Foto: Luciene Morais/Arquivo pessoal.

De acordo com a psicóloga Especialista em Terapia Comportamental e Cognitiva e Neuropsicologia, Luciene Morais de Lagoa da Prata, não se pode afirmar que apenas a pandemia causou o aumento destes números. “Afinal as contingências envolvidas são bastantes complexas para serem identificadas e analisadas. Podemos, porém, refletir sobre alguns aspectos que norteiam para a construção de respostas. Contrário aos contos de fadas, apresentados pelas histórias infantis, o casamento apresenta-se como um grande desafio, o qual torna-se ainda mais turbinado de responsabilidades após a chegada dos filhos. A forma de funcionamento de um casal, em período anterior à pandemia, sinaliza sobre seu modo de organizar. Tais informações podem oferecer pistas capazes de predizerem sobre possíveis mudanças na relação, mediante uma pandemia”, contou.

Para melhor entendimento do assunto, Luciene contou de uma forma fictícia como, na maioria das vezes, os casos acontecem.

“Imaginemos a situação (fictícia) do Zé. Ele passa o dia todo no trabalho, mas não abre mão de ao final do dia passar no bar do amigo Mané, onde bebe sua marvada pinga, vai embora trocando as pernas e acaba dormindo na sala mesmo, ou melhor: apagando. Maria, sua esposa, do lar, espera sua chegada no quarto com as crianças, de porta fechada, que é mesmo pra evitar qualquer tipo de aborrecimento com o marido embriagado. Só dorme quando tem certeza que Zé dormiu e diz ficar ansiosa só de imaginar ele chegando, batendo as portas e xingando aquele monte de palavras feias. Ela conta que no outro dia ele levanta cedo e vai trabalhar. Não comentam nada sobre o assunto e é vida que segue. Disse que Zé tem essa mania de xingar, mas nunca agrediu nem ela nem os meninos. Que na mesa não tem fartura, mas nunca falta. Com a pandemia, Zé, trabalhador autônomo, ficou desempregado. O bar do Mané teve seu funcionamento interditado. Zé agora passa o dia em casa, com esposa e filhos, insiste em sair pra procurar ‘bicos’, mas não consegue trabalho. Maria está ainda mais ansiosa, conseguiu apoio na rede pública de Assistência Social onde recebeu uma cesta básica. Seus vizinhos ajudaram a pagar as contas de água e energia elétrica. Mas quanto ao Zé? Ah, dele ela tem fugido mais que o diabo foge da cruz. Conta que o homem parece que transformou de tão nervoso que ficou na noite passada. Depois de muito xingar, ele fez algo que nunca tinha feito: bateu muito nela, na frente dos filhos”, contou ela.

Conforme a psicóloga, a história do Zé e da Maria é fictícia, todavia retrata a vida de inúmeros casais. “Trata-se de uma relação na qual ocorrem abusos psicológicos, que muitas vezes não são percebidos pela vítima como sendo uma situação de violência. Zé, dentro do possível, colocava o alimento na mesa para a família. O uso abusivo de álcool era uma válvula de escape não só para ele, mas para a própria Maria, a qual experimentava um mínimo de alívio quando o marido estava bebendo no bar, pois não estava em casa xingando a ela e aos filhos. Ela queixava-se de ansiedade, sendo identificado que geralmente a ansiedade começava a ficar mais forte, justamente quando faltavam alguns minutos para o Zé chegar em casa. Sentia-se menos ansiosa quando ele saía para o trabalho. Por fim, não sabemos se Maria acionou a polícia, se pediu medida protetiva, quiçá sabemos se ela se separou de Zé. Mesmo porque, tal decisão não depende apenas de Maria, tampouco da pandemia. Podemos dizer que a pandemia favoreceu para ocorrência da violência física de Zé contra Maria, mas a verdade é que esta já ocorria antes, de forma velada. Vou deixar aqui algumas perguntas a você leitor (a), pois acredito que ao respondê-las poderá obter pistas sobre o final dessa história. Vamos lá? Você sabe me dizer se Maria tinha apoio familiar (financeiro e afetivo)? Maria trabalhava ou tinha possibilidades de conseguir um trabalho e sustentar a si e aos filhos? Ela acreditava piamente que casamento é para sempre? O que Maria pensava sobre mulher divorciada? Maria tinha esperança de que Zé mudasse o jeito dele? Caro leitor (a), de fato não sei o que aconteceu com o Zé, tampouco com Maria e seus filhos, mas torço para que de fato, juntos ou separados, todos tenham ficado bem! Se você tiver notícias, me conte, pois, desejo saber! Um forte abraço!”, finalizou.

Para casos de mulheres vítimas de violência, denunciem de forma anônima discando 100 ou 180 ou acione a Polícia Militar (190) ou a Guarda Civil Municipal (153).

Para aqueles que desejam entrar em contato com a psicóloga Luciene, basta ir ao seu escritório situado na Av. Ver. Antenor Chagas Madeira nº 281 – Bairro Marília ou pelo telefone (37) 9 9869 9964.

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