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Um achado: Sítios arqueológicos são encontrados por amigos em Santo Antônio do Monte

O professor de biologia Emerson Alencar, o estudante de ciências biológicas Odair Souza e observador de aves Wilian Silveira, são os responsáveis pela descoberta de pinturas rupestres e fragmentos cerâmicos que evidenciam que hominedios ocuparam o local.

Rhaiane Carvalho


A história do homem e sua evolução se perpetua em Santo Antônio do Monte após um grupo de amigos e ambientalistas encontrarem um sítio arqueológico em uma propriedade rural localizada no município. O professor de biologia Emerson Alencar, o estudante de ciências biológicas Odair Souza e observador de aves Wilian Silveira encontraram pinturas rupestres e fragmentos cerâmicos que evidenciam que hominídeos ocuparam o local em dois momentos distintos da história.

Para entender melhor o que é um sítio arqueológico, o Jornal Cidade conversou com o arqueólogo, Adriano Carvalho, que explicou sobre o material encontrado em Santo Antônio do Monte, a função do arqueólogo no processo e a lei que ampara artes rupestres.  Adriano é arqueólogo formado em Artes pela EBA/UFMG e atua na área de arqueologia desde 2003 participando desde então, de mais de 70 projetos acadêmicos e de contrato. “O município de Santo Antônio do Monte, recentemente, “descobriu” que sua história remonta a um tempo bem mais antigo do que seus atuais 320 anos. Achados recentes de ‘pinturas rupestres’ e fragmentos em cerâmica nos mostram, através das evidências, um passado indígena já imemorial nos lembrando da antiguidade da presença do homem em nossas terras. Devido à esta antiguidade, é raro encontrar documentação escrita sobre quem eram esses primeiros habitantes da região. Há, sempre, muita especulação, mas pouca comprovação de fato, dada à falta de documentos. Como se esclarecer este ‘mistério’ então? É neste momento que entra em cena um tipo de profissional pouco conhecido. O arqueólogo. Diferentemente do que comumente se pensa e propaga, o arqueólogo não pesquisa dinossauros, quem cuida destes seres são os paleontólogos. O arqueólogo tem como principal campo de trabalho o ser humano e sua cultura materializada através dos vestígios de sua passagem ao longo do tempo, seja mais antigo ou mais recente. Este profissional procura pistas das atividades humanas e, através dos seus achados, estuda e interpreta as antigas ocupações”, explicou.

Os achados de Santo Antônio do Monte não foram visitados até o momento por nenhum profissional dessa área, conforme explica o arqueólogo. “Entretanto, as fotos já foram analisadas por um arqueólogo que aponta a indubitabilidade de que se trata de fato, de pinturas feitas na rocha (pinturas rupestres) elaboradas por antigas populações indígenas que habitaram o território que hoje, pertence a este município. Fica a dúvida quanto a antiguidade deste achado. As pinturas possuem traços particulares que permitem classificá-las como pertencentes a Tradição Planalto. A ‘Tradição’ é formada por um conjunto de atributos comuns que permitem, grosso modo, uma classificação mínima. As pinturas Planalto datadas em Minas Gerais, possuem entre 2 e 7 mil anos embora datações sempre sejam polêmicas e possam ser contestadas. Ressalta-se que não há pesquisas arqueológicas com datações de pinturas na região até o momento. Independente da antiguidade, a localização em si de um sítio arqueológico é sempre de grande importância, pois revela um pouco dos primeiros ocupantes de uma região e, consequentemente, de nossa história”.

“É preciso ressaltar também, que todo sítio arqueológico assim como os vestígios encontrados neste são protegidos por lei, e, qualquer escavação, manipulação ou coleta de material só pode ser feita por um profissional qualificado (neste caso, o arqueólogo) e mediante a autorização do Instituto do Patrimônio Histórico Artístico e Nacional (Iphan). Portanto, o conhecimento, estudo e preservação destes antigos vestígios, é dever de todo cidadão já que estes fazem parte de um período imemorial de nosso passado, de nossa história”.

Para conhecer o trabalho do arqueólogo Adriano Carvalho entre em contato através do e-mail: [email protected] ou (31) 9 9601-4387 (31)  9 7567-2235.

 A descoberta

A reportagem conversou com Odair Souza, um dos descobridores dos sítios arqueológicos em Santo Antônio do Monte no dia 23 de março deste ano. Segundo Odair, os amigos não faziam ideia da existência desse sítio, que foi encontrado por meio de um trabalho de campo que o grupo desenvolve.  “Chegamos a esse sítio, através de um trabalho de campo realizado na Área de Preservação Permanente (APP) e explorando a área, nos deparamos com as pinturas. Eu estava de frente para a rocha e chamei logo os amigos Emerson e Wiliam. Naquele momento não acreditamos no que tínhamos encontrado. Ficamos muito felizes e só algum tempo depois, pensamos com mais calma e percebemos a importância daquele achado! Começamos a refletir como era viver ali, como era a questão da caça, coleta de frutos e formas de sobrevivência naquela época, explicou”.

Souza ainda falou sobre o processo para que o local seja reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). “Ao descobrirmos o sítio e as pinturas, contactamos arqueólogos da região e enviamos as fotos para uma pré-análise. Ainda não foi realizado nenhum estudo técnico no local. Em pesquisa, levantamos que se trata de um sítio arqueológico multicomponensial, pois descobrimos as pinturas rupestres, que estão na rocha, e sobre a superfície os fragmentos cerâmicos. Segundo os arqueólogos, as pinturas pertencem à uma ocupação mais antiga, sendo que, hominídeos que produziram tais pinturas não são da mesma ocupação dos fragmentos cerâmicos, que já é característica de ocupações mais recentes. A avaliação agora dependerá do Iphan. Comunicamos ao Instituto através de ficha específica preenchida no site e para a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Secretaria Municipal de Cultura, ambas do município de Santo Antônio do Monte. Um processo administrativo já foi instaurado no Iphan para a realização do registro”.

Odair Souza (esquerda), Wilian Silveira (centro) e Emerson Alencar (direita).

Odair também informou que no município há relatos de outros vestígios históricos. “Já tivemos relatos de achados de machadinhas e outros fragmentos, mas ainda não tínhamos encontrado um sítio arqueológico ou algo do tipo”.

Souza destacou que a importâncias desse sítio é enorme, além do fato histórico, há algo incomum comparado com outros sítios descobertos na região.

“De modo geral, isso é importante para todos, pois, esse sítio pode ter alguma característica que o relacione com outros sítios da região. Inclusive, ressalto que o primeiro ponto incomum é o fato de que as pinturas estão preservadas em uma rocha gnaisse, e geralmente as rochas que preservam melhor esse tipo de pintura são rochas calcárias”. Ele ainda acrescentou sobre a consciência perante a preservação dos materiais encontrados. “Não coletamos nenhum tipo de material, fotografando tudo in loco. Em seguida, mantivemos sigilo durante três meses, tempo necessário para entrarmos em contato com todos os envolvidos no processo de registro”.

Segundo o secretário de Cultura, Ismael Costa, assim que se tornar um patrimônio histórico de Santo Antônio do Monte, a Prefeitura dará todo apoio para a preservação dos sítios. “A Secretaria Municipal de Cultura e Turismo recebe esta descoberta, que deve se confirmar como o primeiro sítio arqueológico identificado no nosso município, ciente da relevância e disposta a trabalhar, juntamente com as instituições responsáveis, pela preservação deste que se torna um patrimônio histórico de Santo Antônio do Monte. E que, necessariamente, passará por análise especializada para melhor contextualização. Orientamos a todos que aguardem maiores informações e orientações para no momento adequado, terem acesso ao local”.

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