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Tem pão novo? | Artigo

Imagem: Ilustração / Reprodução da Internet

Antes de escrever meus sentimentos, quero pedir desculpas para algumas mães que me inspiraram com suas postagens nas redes sociais. Suas declarações de amor aos filhos me incomodaram. Elas podem estar com as melhores intenções, mas o mundo está mudando e quem se arrisca a gerar uma vida deve se transformar também. A convivência em sociedade, atualmente, é globalizada. Parece até clichê dizer isso. Contudo, se não pensarmos globalmente, jamais vamos conseguir mudar o local em que vivemos, começando por nossas casas. Bem, quero falar de cores, de pão velho, de perspectivas, de rumos que a vida deve tomar para que o futuro seja melhor. E abrir a mente é o caminho.

Começo a pensar nas limitações impostas pelos preconceitos, coisas que guardamos dos antepassados, certezas que vamos acumulando sem questioná-las. E vamos transferindo para outras gerações, como as frases da modinha, dos grupos de mulheres que expõem suas emoções maternas na internet. Frases como “Meu mundo é azul, sou mãe de menino” ou “Minha existência é rosa, sou mãe de menina” me deixam triste, contrariado com essas restrições impositivas dizendo que homem que é homem gosta da tonalidade do céu e as mulheres devem se vestir com as cores de algodão doce. Tenho pena dos inúmeros matizes possíveis que são deixados para escanteio. Principalmente, por eu preferir o vermelho, o laranja, o verde, o roxo. Se o planeta é diverso, por que se colocar nessas divisões simplistas? Que tal colorirmos a infância para que cada um faça suas próprias escolhas?

Paralelamente ao universo do arco-íris, um fato recente mexeu também com meus pensamentos. Minha amiga Kênia Melo postou no Instagram um texto que circula na web, intitulado “Tem pão velho?”. É uma história de um fato corriqueiro nas cidades, o caso de um menino de 9 anos que pede pão para se alimentar. O texto dizia assim:

“Eu estava molhando o jardim da minha casa, quando fui interpelada por um garotinho dizendo: – Dona, tem pão velho?

Olhei para aquele menino tão nostálgico e perguntei: – Onde você mora? – Depois do zoológico. – Bem longe, hein? – É… Mas eu tenho que pedir as coisas para comer. – Você está na escola? – Não. Minha mãe não pode comprar material. – Seu pai mora com vocês? – Ele sumiu. E o papo prosseguiu, até que disse: – Vou buscar o pão. Serve pão novo? – Não precisa, não. A senhora já conversou comigo, isso é suficiente.

Essa resposta caiu em mim como um raio. Tive a sensação de ter absorvido toda a solidão e a falta de amor daquela criança, daquele menino de apenas 9 anos, já sem sonhos, sem brinquedos, sem comida, sem escola e tão necessitado de um papo, de uma conversa amiga.

Caros amigos, quantas lições podemos tirar desta resposta: ‘Não precisa, não. A senhora já conversou comigo, isso é suficiente!’. Que poder mágico tem o gesto de falar e ouvir com amor!

Alguns anos já se passaram e continuam pedindo pão velho na minha casa… E eu dando pão novo, mas procurando antes compartilhar o pão das pequenas conversas, o pão dos gestos que acolhem e promovem.”

Talvez o meu pão novo seja partilhar ideias. Novas cores. Anseios que fico guardando no coração com vontade de provocar, sejam para alegrar sejam para estimular a reflexão. Meninos e meninas precisam de diálogo, de ensinamentos para a convivência na diversidade. Eles também têm muito a nos ensinar. Já estão nascendo diferentes, entendendo que misturar manga com leite não faz mal há muitos anos.


Juliano Azevedo

Jornalista, Professor Universitário, Escritor.

Site: www.blogdojuliano.com.br

Twitter e Facebook: @julianoazevedo

E-mail: [email protected]

Instagram: @julianoazevedo / @ondeeobanheiro

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