fbpx
jc1140x200

Santoantoniense expõe 66 obras inéditas na mostra “Almanaque

Miguel Gontijo expõe 66 obras inéditas na mostra “Almanaque – Pinturas de Miguel Gontijo”, que será aberta hoje (Foto: João Godinho / O Tempo )

Quando criança, em Santo Antônio do Monte, no interior de Minas Gerais, Miguel Gontijo, 67, costumava aguardar a chegada dos almanaques de farmácia, que lia avidamente, e de quadrinhos. O que no passado era um entretenimento se tornou, ao longo dos anos, objeto de uma pesquisa particular realizada pelo artista.

Em razão disso, ele conhece com profundidade o formato e os temas que mais apareciam nessas publicações, frequentemente voltadas ao homem do campo. A partir desse interesse de longa data, surge agora uma série de 66 obras que ele vai expor pela primeira vez na mostra “Almanaque – Pinturas de Miguel Gontijo”, a ser inaugurada hoje na Casa Fiat de Cultura.

“Eu era um apaixonado por aquelas edições, que deixaram de existir. Mas, até hoje, eu continuo comprando almanaque de histórias em quadrinhos. Muitas informações em relação ao universo gráfico, eu fui coletando dali”, diz Gontijo. Não à toa, a própria disposição das obras nas salas expositivas, ao seu ver, revela uma tentativa de construir um grande almanaque expandido.

A começar pela confecção da “capa” com 42 telas baseadas em um conjunto de fotografias do tipo “selfie”. “Eu produzi essas imagens e as transformei em pranchetas de estudo. Se você observar todas elas, vai perceber que a minha imagem muda. Às vezes, eu apareço como se eu estivesse preso ou como se fosse uma pessoa do Oriente. Há também uma menção ao travestismo, quando, no lugar do meu rosto, aparece o da minha filha. A ideia de passagem de uma coisa para a outra é interessante”, comenta Gontijo.

Dessa série até o último ambiente da exposição, onde figuram dois livros de artista, também inspirados nos almanaque, há 20 telas que se dispõem como grandes páginas ao olhar do visitante. Nelas são encontradas uma multiplicidade de referências, que fazem menção ao repertório de variedades contidos naqueles exemplares, como o calendário lunar, o horóscopo e as festas religiosas.

“Um dos primeiros trabalhos traz um lunário com todas as fases da lua justamente porque isso era algo muito frequente nessas publicações. A ideia era oferecer ao homem do campo informações que pudessem orientá-lo a programar, por exemplo, uma plantação de acordo com as fases da lua”, diz.

As histórias de terror compunham outra seção frequente naquelas espécies de revistas, o que aparece refletido também nas pinturas por meio da sobreposição de outras referências oriundas do cinema, mas capazes de evocar o mesmo imaginário relacionado ao universo sombrio. “Eu trago para a tela, por exemplo, a figura daquelas duas meninas do filme ‘O Iluminado’, de (Stanley) Kubrick. Há também um varal de ossos que ressalta esse clima”, afirma.

Cada um desses elementos, observa Gontijo, se relaciona a alguma característica dos almanaques, seja ela histórica ou formal. Mas ele defende que o público não deve se apegar a isso. “Essas informações todas surgem na minha cabeça na hora de produzir os quadros, mas, para mim, a importância maior delas é estética. Elas têm que conversar com o público. Não me interessa que queiram ver o que eu já vi”, sublinha.

Nas criações aparecem citações a títulos emblemáticos, como “Bristol”. De acordo com Gontijo, esse era um almanaque de origem norte-americana que circulou no Brasil e na América Latina após a Segunda Guerra Mundial. “Ele teve como objetivo principal doutrinar o público para a supremacia norte-americana”, frisa.

Outro sublinhado por ele é o “Almanaque Biotônico Fontoura”, que surge em 1920, criado por Monteiro Lobato, e com ele se populariza o personagem Jeca Tatu. “Com isso, esses produtos vendiam remédios, mas traziam também algumas dicas de saúde”, pontua.

Ainda em relação ao conteúdo, Gontijo ressalta que, muitas vezes, os almanaques traziam informações inverídicas. Os textos, portanto, não possuíam ligação direta com a realidade. “Se o editor, por exemplo, achasse que no dia 12 iria chover, ele marcava isso no calendário e as pessoas acreditavam”, conta.

Nas telas do artista, há também vários escritos, mas as palavras ali não guardam nenhum sentido, funcionam apenas como recurso estético. “Naquelas publicações, muitas vezes, circulavam afirmações sem nenhum embasamento científico. Atualmente, isso também é bastante reproduzido especialmente por meio da internet, que inclusive dispara informações numa velocidade e com um poder de penetração muito maior. Então, nesses quadros, eu também estou inserindo um pouco desse excesso de conteúdos que encontramos no mundo de hoje e nem sempre temos tempo de averiguar a qualidade disso”, conclui.

AGENDA

O quê. Abertura da mostra “Almanaque – Pinturas de Miguel Gontijo”

Quando. De hoje até 27/7; de 3ª a 6ª, das 10h às 21h; sáb. e dom., das 10h às 18h

Onde. Casa Fiat de Cultura (praça da Liberdade, 10, Funcionários)

Quanto. Entrada gratuita

Por: O Tempo

jc1140x200
Abrir o WhatsApp
Como podemos ajudar?
Olá, como podemos ajudar?