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Santo Antônio do Monte – Por medo, trabalhadores pedem demissão de fábricas de explosivos

Após acidente com mortes, setor em Santo Antônio do Monte enfrenta crise.
‘Do portão da fábrica para dentro não tem garantia de nada’, diz trabalhador.

 

 

O setor pirotécnico em Santo Antônio do Monte vem enfrentando dificuldades desde a explosão que matou quatro mulheres em uma fábrica de fogos de artifício da cidade. A área emprega cerca de 15 mil pessoas no município, mas segundo informações do Sindicato dos Trabalhadores das Fábricas de Fogos de Artifício (Sindfogos), pelo menos oito pessoas pediram demissão por medo e insegurança.

[pull_quote_left]Não quero isso para mim mais, saí de Alagoas para trabalhar e não para morrer como aconteceu com minha irmã. Depois disso eu quero procurar alguma outra coisa e, se não encontrar, volto para minha terra[/pull_quote_left]

Os funcionários alegam que não querem correr risco de vida, como por exemplo Tereza Maria da Conceição, de 36 anos. Ela perdeu a irmã na explosão no último dia 15 deste mês. “Não quero isso para mim mais, saí de Alagoas para trabalhar e não para morrer como aconteceu com minha irmã. Depois disso eu quero procurar alguma outra coisa e, se não encontrar, volto para minha terra”, disse.

[pull_quote_left]Estamos falando de um setor forte, contudo os jovens estão amedrontados e estão procurando outras funções. Infelizmente haverá queda nas contratações como tem havido também demissões por parte das empresas que pretendem enxugar o número de funcionários[/pull_quote_left]

Com a saída dos funcionários a crise no setor que ocorre desde o início da Copa do Mundo pode se agravar. Segundo o diretor do Sindfogos, Antônio Camargos, as fábricas poderão ter dificuldades de contratar novos empregados. “Estamos falando de um setor forte, contudo os jovens estão amedrontados e estão procurando outras funções. Infelizmente haverá queda nas contratações como tem havido também demissões por parte das empresas que pretendem enxugar o número de funcionários”, disse.

Samonte tem trabalhadores de pelo menos 84 cidades e estados diferentes, segundo os dados do sindicato. Geraldo Eustáquio Santos é natural de Oliveira e está empregado há 18 anos em uma fábrica de fogos. Ele diz que, o que chama atenção das pessoas de fora é a forte tradição na fabricação dos fogos que o município carrega. “Vim para Santo Antônio do Monte exclusivamente para trabalhar em 1996 e desde então sempre trabalhei com produção de explosivos. Sempre soube do risco, mas eu o assumi”, contou.

[pull_quote_right]Vim para Santo Antônio do Monte exclusivamente para trabalhar em 1996 e desde então sempre trabalhei com produção de explosivos. Sempre soube do risco, mas eu o assumi[/pull_quote_right]

Desde 1999 o setor já registrou 70 acidentes, alguns graves incluindo queimaduras, perda de audição e visão, perda de membros, doenças causadas por inalação de fumaça entre outras. No mesmo período já foram registradas 14 mortes. “É por medo que eu não quero mais voltar a trabalhar em fábrica”, afirmou uma funcionária que pediu demissão e não quis se identificar.

[pull_quote_right]É por medo que eu não quero mais voltar a trabalhar em fábrica[/pull_quote_right]

Paulo Bernardino da Silveira trabalha há 15 anos como descarregador de bombas, sabe o risco que corre e por isso afirma que todo cuidado é pouco. “Passou do portão da fábrica para dentro já corre risco de acidente, principalmente na parte de explosivos, por mais cuidados que se tem, podem acontecer acidentes”, disse.

O Sindfogos afirma que não tem conhecimento de nenhum trabalhador que tenha seguro de vida em Santo Antônio do Monte. Contudo, o coordenador do Sindicato das Indústrias de Explosivos do Estado de Minas Gerais (Sindemg), Américo Libério da Silva, diz que a obrigatoriedade não consta na convenção. “Os proprietários das fábricas é que decidem se vão oferecer ou não. O que podemos assegurar é que nenhuma empresa, diante de qualquer fatalidade, irá se omitir das responsabilidades”, ressaltou.

[pull_quote_right]Os proprietários das fábricas é que decidem se vão oferecer ou não. O que podemos assegurar é que nenhuma empresa, diante de qualquer fatalidade, irá se omitir das responsabilidades[/pull_quote_right]

Simara Constantino da Silveira é arrematadora. O serviço dela exige agilidade e é a última fase da produção do foguete. Depois de montar as bombas com o que foi produzido nos barracões, o produto é embalado e levado para o comércio. Mesmo sendo a última fase do processo, ela afirma que tem de haver muita atenção. “Com certeza é um serviço que tem de ter muito cuidado”, frisou.

Busca de informações
Familiares das vítimas estiveram no sindicato dos trabalhadores nesta quarta-feira (23) para buscar informações sobre os direitos e orientações sobre acertos. Nenhum dos funcionários envolvidos no acidente tinha seguro de vida. A mãe de uma das vítimas da explosão esteve no local junto com outro filho. “É uma dor que não se paga com acerto. Minha filha não valia esse dinheiro. Tudo o que eu queria era ter ela de volta e nada mais nesse mundo vai fazer isso acontecer”, lamentou.

Fábrica interditada
A superintendência Regional do Trabalho e Emprego de Minas Gerais interditou na quarta-feira (17) as atividades de fabricação de bombas numeradas, setor onde ocorreu a explosão. A própria fábrica deu férias coletivas aos funcionários até o fim do mês. O laudo da perícia técnica do Exército Brasileiro apontando as causas do acidente deve ficar pronto em 30 dias.

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Fonte: G1

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