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Santo Antônio do Monte tem crise de migrantes por queda na pirotecnia

Pessoas que buscavam oportunidades estão deixando a cidade. Crise econômica é um dos principais motivos, apontam sindicatos

A crise econômica provoca reflexos em vários setores do mercado e também tem refletido na mudança de perfil do público contratado para trabalhar nas fábricas de fogos de artifício de Santo Antônio do Monte. Isso porque as pessoas que migravam para a região em busca de trabalho têm retornado para suas cidades de origem.

De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Fábricas de Fogos de Artifício (Sindifogos), Antônio Camargos, a região tem perdido cada vez mais os trabalhadores que saíam de outros municípios em busca de emprego em Santo Antônio do Monte. Hoje, a maior parte dos contratados é da região.

“Os trabalhadores estão voltando com suas famílias para suas terras. As pessoas que vinham para a cidade em busca de um trabalho já não vêm mais. A cada dia ficamos mais tristes com essa realidade. Diminuiu muito o número de pessoas de fora na cidade por causa desta evasão de pessoas de outros estados”, destacou.

Segundo Américo Libério, diretor do Sindicato das Indústrias de Explosivos do Estado de Minas Gerais (Sindiemg), não houve fechamento de nenhuma empresa, mas a maioria delas tem atuado com 50% a menos na produção em relação aos dois últimos anos. E se a produção cai, consequentemente também são reduzidos os postos de trabalho.

“Com certeza isso esta acontecendo. Sabemos que para as pessoas que vieram há 10,15 anos atrás e que se casaram e criaram laços na cidade, fica de fato mais difícil de retornar. Entretanto, de cinco anos para cá, a mão de obra que a cidade recebeu e acolheu tem retornado por conta da crise. O perfil de contração tem mudado, de fato”, disse.

Além da crise, Libério atribui este retorno às especificidades do setor. Além de ser perigoso exige habilidade. “Temos mesmo uma dificuldade eminente por conta do tipo de produção. Os jovens hoje não querem se enquadrar na produção de fogos por caisa do perigo e o tipo de trabalho. Há ainda um movimento em Santo Antônio do Monte para que seja diversificado o setor produtivo”, revelou.

Mesmo com os riscos, Libério acredita que o salário pago aos trabalhadores é um ponto positivo. “Se houver um comparativo com os salários praticados na indústria de fogos e os demais seguimentos, é possível perceber que ainda é um salário bom. É um atrativo para que as pessoas continuem trabalhando”, ressaltou.

Os trabalhadores das indústrias de fogos ganham no mínimo um salário mínimo, mais 30% dele, que é o adicional de periculosidade. “Entretanto reafirmo que vivemos de fato uma crise nesse sentido. A expectativa de que pode melhorar se mantém, mas é pequena”, enfatizou.

Jaqueline Oliveira tem 25 anos e durante cinco morou em Santo Antônio do Monte. Ela se mudou do Norte de Minas para tentar uma vaga no setor pirotécnico a convite da irmã, que já estava empregada em uma fábrica de explosivos, mas este ano retornou à terra natal, por conta da crise no setor. “Onde eu trabalhava mais de 40 pessoas foram dispensadas  e eu não podia ficar sem fazer nada. Trabalhar com pólvora é muito perigoso e eu só comecei nesse ramo porque não exige estudo e nem nada. Voltei para casa de mão abanando. Quando saí pensei que conseguiria alguma coisa, mas hoje vejo que foi ilusão”, contou.

José Inácio, de 38 anos, também é do Norte do estado e trabalhou até 2015 com manuseio de pólvora em Santo Antônio do Monte. Hoje ele mora em Belo Horizonte onde é vendedor em um comércio ambulante.

“Quando mudei para lá fui com vários amigos porque era fácil arrumar serviço. Agora estão mandando todo mundo embora. Não dá para ficar numa cidade sem serviço. Recebi outra proposta de um amigo e fui embora. Quando fui recebi muitos conselhos bons, de pessoas que contavam que a cidade gerava muito emprego, hoje não tem mais isso, infelizmente”, afirmou.

Polo pirotécnico
Santo Antônio do Monte tem mais de 27 mil habitantes, segundo o último senso do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O polo de pirotecnia reúne aproximadamente 76 empresas especializadas na fabricação de fogos de tiros e cores, estalos de salão, traques e bombinhas de riscar, entre outros itens. A produção do Arranjo Produtivo Local (APL), que conta ainda com outras oito cidades vizinhas responde por praticamente todo o produto consumido no estado, cerca de 95% no país.

Dentre as oito cidades que compõe o Arranjo Produtivo Local, além de Santo Antônio do Monte, três dependem especificamente do setor. São elas: Pedra do Indaiá, Lagoa da Prata e Japaraíba. Nesta última, por exemplo, 10% de toda população esta diretamente empregada no ramo, de acordo com o secretário de Administração, Moisés Alves.

“Temos oito fabricas de fogos que atuam desde a produção numa escala média e baixa até a mais alta. Em números podemos destacar que cerca de 320 pessoas estão envolvidas diretamente no setor. O que representa 10% da população que não chega a 4 mil habitantes. Ainda deve-se levar em consideração que muitas pessoas da cidade deslocam para trabalhar no mesmo setor, porém em cidades vizinhas”, explicou.

Por: G1

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