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Recuperação faz da Volta Grande santuário da fauna e flora

A ilha formada após latifundiário mudar curso do Rio São Francisco, foi alvo de diversas ações judiciais. Após acordo realizado em 2017, empresa de consultoria ambiental vem realizando ações reparatórias de cercamento da ilha, reflorestamento e recuperação de lagoas.

Reportagem: Alan Russel

No fim da década de setenta, os donos da antiga Usina Luciânia, hoje Biosev, fizeram um atalho no curso do Rio São Francisco, mutilando mais de oito quilômetros do rio da integração nacional. O intuito dos antigos proprietários da usina era evitar que centenas de hectares de cana de açúcar fossem atingidos pelas enchentes do São Francisco. Desde então, houve muita cobrança da comunidade. O Ministério Público (MP), juntamente com os órgãos competentes, realizou estudos para viabilizar compensação ambiental reparatória para a região em que o Rio São Francisco perdeu oito quilômetros de rio.

Em 2017, após analisar diversos estudos na região, o MP decidiu que não era mais viável voltar o rio ao verdadeiro leito. Em contrapartida, foi acordado que os antigos donos da usina, deveriam realizar ações compensatórias ao Meio Ambiente como forma de amenizar o crime contra o Rio São Francisco.

O mestre em ciências ambientais, Frederico Muchon, é responsável pela empresa de consultoria ambiental que executa a obra. Muchon acompanhou de perto as tratativas judiciais e explica como se deu o acordo entre Ministério Público e os latifundiários.

“Em 2017 eu fui convidado para poder apresentar projetos ao Ministério Público que privilegiassem a questão ambiental. Após acordo, começamos os trabalhos e inicialmente foi feito o isolamento da área, e agora, toda a Volta Grande não pode mais ser utilizada para nenhum fim comercial”.

“Este trabalho foi dividido em etapas: Primeira etapa aconteceu no fim de 2017 e nesta etapa nós retificamos o canal do Rio. Também em 2017, fechamos os drenos da lagoa das piranhas, que fica dentro da área da Volta Grande; recuperando a lagoa que praticamente não existia mais. Em 2018, finalizamos e viabilizamos o restante da documentação. No ano de 2019 assinamos o acordo final e nesse acordo ficou definido recuperar também as Lagoas da região do coqueiro e realizar o plantio de mais de 100 mil mudas em torno da área e na parte interna da ilha”, explica Muchon

A reportagem do JC também esteve na região do coqueiro para ver de perto o complexo de lagoas recuperadas. De acordo com Frederico Muchon, essas três lagoas praticamente deixaram de existir por muitos anos, mas graças aos esforços dos envolvidos, as lagoas foram recuperadas

Lagoas recuperadas na região do coqueiro. (Foto: Rafael Robatine).
Foto: Rafael Robatine.
Foto: Rafael Robatine.

“No coqueiro nós temos três lagoas: A lagoa das batatas, lagoa dos porcos e também a lagoa dos patos. Dentro do acordo que foi firmado entre Ministério Público, Epom, que é a empresa dos antigos donos da Usina Luciânia e proprietários das terras, uma das condicionantes era revitalizar essas lagoas. Nós realizamos o fechamento de três drenos, com o objetivo de perenizar as três lagoas, fazendo com que essas lagoas consigam virar de um ano para o outro, de forma que o rio jogue água nas lagoas em períodos de cheia, trazendo os alevinos, a fim de que os peixes se desenvolvam e permaneçam até o ano seguinte, onde retornarão ao rio. Assim, teremos um ganho ambiental muito grande, com as lagoas totalmente recuperadas, como estão hoje, proporcionando recuperação e vida ambiental”, salienta o responsável pelas obras.

O prazo para finalizar o trabalho de reflorestamento e recuperação da área da Volta Grande é no segundo semestre de 2021. Muchon explica que assim que terminar os trabalhos, a área passa a ser de responsabilidade da Associação dos Pescadores do Alto São Francisco (Aapa), que irá utilizar da área para pesquisa, extensão e projetos de  educação ambiental

“Existe um contrato de comodato que foi firmado entre a Aapa e Epom, para que a partir do momento que entregarmos a obra, a Aapa possa assumir a responsabilidade de gerenciar esta área. Existem alguns projetos que a Aapa pretende criar, como área de soltura de animais e centro de educação ambiental.

Saulo de Castro é o presidente da Aapa e assim como Muchon, acompanhou de perto todo o imbróglio judicial envolvendo a Volta Grande. Saulo explica os projetos que a Associação dos Pescadores pretende realizar ao fim das obras de recuperação e reflorestamento da área.

“No ano de 2002, a Aapa entrou com uma ação junto ao Ministério Públicos e no ano passado chegou-se a um acordo onde ficou decidido que a área da Volta Grande será destinada à projetos ambientais. A área foi passada para Aapa em forma de comodato e nós, assim que terminarem os trabalhos de recuperação e reflorestamento, já vamos entrar desenvolvendo os projetos ambientais”, explica Saulo.

“Com a área livre, a primeira coisa que precisamos fazer é uma estrutura para servir de apoio e abrigo ao pesquisadores. Já inscrevemos a área junto ao IEF como Área de Soltura de Animais Silvestres (Asas), e temos projetos voltados a meliponicultura (criação de abelhas sem ferrão). Juntamente com o pessoal do pedal, queremos fazer o circuito de trilhas da Volta Grande, além de diversas atividades relacionadas à pesquisa, extensão e educação ambiental”.

Tanto Saulo de Castro, quanto Frederico Muchon, acreditam que com o reflorestamento e recuperação ambiental, a Volta Grande vai se tornar um santuário da fauna e flora na região. E deixam claro que o espaço é para todos. A Volta Grande vai estar à disposição da comunidade.

“A única forma de preservar é conhecendo. Se a gente não levar esse conhecimento para comunidade nós jamais vamos preservar de verdade. Levar conhecimento para comunidade, para que pessoas saibam que temos aqui em nossa região um lugar com tantas riquezas como é a Volta Grande. Às vezes pessoas saem pessoas do outro lado do mundo para ir até o pantanal ver sucuris e outros animais, e temos isso aqui em Lagoa da Prata, temos tudo isso na nossa porta. É algo que necessita ser explorado de forma consciente e sustentável, e todo mundo tem a ganhar com isso”, finaliza Saulo.

“O ganho ambiental desta obra que estamos realizando é indiscutível, o ganho paisagístico é indiscutível. Estamos criando algo fora do comum e as pessoas não tem conhecimento. Quando falamos de Volta Grande estamos falando de 220 hectares. E anexo aqui, temos mais de 3.000 hectares de corredor ecológico. É um verdadeiro santuário de fauna e flora na região do Alto São Francisco”, completa Muchon.

Linhas de plantio de árvores na parte externa da Volta Grande. (Foto: Rafael Robatine).
Linhas de plantio no interior da Volta Grande. (Foto: Rafael Robatine).
Local onde o rio foi mutilado. (Foto: Rafael Robatine).
Tuiuiús descansando na copa das árvores às margens do rio. (Foto: Rafael Robatine).
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