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Queimadas ocorridas frequentemente têm afetado moradores de Lagoa da Prata

Os impactos de uma queimada criminosa não se restringem apenas ao próprio ato de queimar algo simplesmente, de acordo com especialistas ouvidos pelo JC, a saúde pública é a mais impactada além do meio ambiente.

Karine Pires

As queimadas têm ocorrido frequentemente em Lagoa da Prata e em cidades da região Centro-Oeste Mineira. Elas têm afetado os moradores da cidade, que tem divulgado vídeos e fotos nas redes sociais, mostrando focos de incêndio próximos às próprias casas. O Jornal Cidade conversou com autoridades responsáveis e especialistas para saber quais são os impactos que este tipo de ação gera na saúde pública e também no meio ambiente.

Ocorrências na cidade 

O sargento Leonardo Ribeiro Borges, comandante da Polícia Militar de Meio Ambiente (PM MAmb) de Lagoa da Prata, explica que a maioria das queimadas que tem ocorrido neste ano na cidade e na região, é devido ao fato de que diversas pessoas estão utilizando o foco como técnica de limpeza para lotes. Ele afirma que a prática deste crime é cultural, mas que o assunto é trabalhado pela PM MAmb em escolas, visando conscientizar a população sobre esse tipo de atitude. De acordo com o sargento, essa prática está maior em comparação ao ano passado.

“Esse final de semana teve queimada na região toda, você deve ter observado que tem tido até uma nuvem de fumaça pairando sobre Lagoa da Prata, e isso tudo é consequência das queimadas. Em relação às queimadas propriamente dita, devemos considerar que esse ano tem um número maior de queimadas, porém menos proporção, ou seja, esse ano está tendo muito foco em lotes vagos na cidade dentro do perímetro urbano e uma menor quantidade na zona rural em comparação ao ano passado. Ano passado foi diferente, houve muitas queimadas na zona rural e também na zona urbana e esse ano tem uma diminuição na zona rural até agora”, afirma Leonardo.

 O sargento lembra que este período de estiagem ­- período em que o tempo fica mais seco e sem a presença de chuvas, vai perdurar ainda neste mês e parte do mês de outubro e que neste período é que as queimadas ocorrem com mais frequência. Ele reforça que os autores de focos de queimadas em lotes estão sendo autuados, mas a identificação do autor nem sempre é fácil e por isso, a PM MAmb conta com as denúncias da própria população, fator importante para identificar os focos e também o autor do crime.

Carros pipas do Saae e da Biosev também estão auxiliando a PM MAmb da cidade a controlarem as chamas, pois eles não possuem estrutura para apagarem focos de incêndio, visto que este trabalho é voltado para o Corpo de Bombeiros, mas são auxiliados pelas empresas em alguns casos. O sargento também afirmou que as pessoas que utilizam o fogo para limpeza em lotes não medem as consequências do próprio ato, pois além de incomodar os vizinhos com a fumaça e sujeira, estão prejudicando o próprio ar, consequentemente prejudicando a saúde pública da cidade toda.

Leonardo destaca que as pessoas podem achar que um pequeno foco de incêndio provocado simplesmente para queimar folhas em sua casa, pode soar inofensivo a primeiro momento, mas que além de incomodar os vizinhos também pode correr o risco de ser multado e preso. O autor pode responder de acordo com a lei de crimes ambientais (9.605, art. 54) que prevê reclusão de um a cinco anos e multa para o criminoso que for pego nesta atitude criminosa.

“Às vezes é um foguinho pequenininho que a pessoa colocou fogo ali só para queimar algumas folhas que estava no quintal, só que ela não mede as consequências que isso incomoda. Imagina você na sua casa que acabou de lavar roupa e colocou no varal, se o seu vizinho colocar fogo nas folhas? Essa fumaça além de entrar para sua casa vai ficar impregnado na roupa que você acabou de lavar. Então isso incomoda muito! E até nesses casos temos autuado sim. Em questão de grandes incêndios, a gente vê o responsável e fazemos a multa e prendemos. A autuação é cara, não compensa a pessoa arriscar, além de sua autuação administrativa, encaminhamos um boletim de ocorrência ao Ministério Público para promotoria apurar a área criminal o que é considerado crime”, disse.

 Centro-Oeste MG possui alto índice de queimadas

 Na região Centro-Oeste Mineira, Divinópolis é a cidade que possui maior número de focos de incêndios, não pelo tamanho ou quantidade de pessoas que a cidade possui, segundo o sargento da Polícia Ambiental. A situação está pior se comparado à Lagoa da Prata. Em Formiga há dois ou três anos há bastante incidência de focos de incêndio.

 Os impactos na saúde pública e no meio ambiente

A enfermeira Maria Luiza Morais Toledo explica que os impactos na saúde da população são imensos, ainda mais para quem já possui doenças respiratórias. Ela destacou que os idosos estão ficando ainda mais vulneráveis e em alguns casos, estão necessitando de internações hospitalares e progredindo ao óbito.

“Os impactos na nossa saúde são imensos, infelizmente temos um aumento do quadro das doenças respiratórias, tanto no surgimento de novas doenças como rinites e também no agravamento daquelas já crônicas como asma, DPOC (termo que se refere a duas doenças em que os pacientes têm dificuldade para inspirar e expirar. Estas doenças são enfisema e bronquite crônica.), entre outras. Os idosos fazem parte do grupo mais sensível e é nítido na nossa rotina o quanto os idosos que já tem doenças respiratórias estão agravando. Eles estão bastante vulneráveis neste período, pois está muito quente, seco e agora com bastante queimadas que infelizmente está sendo comum em nossa cidade, deixando os por vezes vulneráveis vindo até a necessitar de internações hospitalares e progredindo para óbito”.

 Maria Luiza ressalta que as doenças respiratórias ocasionadas ou agravadas pela fumaça, apresentam sintomas muito parecidos com a covid-19, pois as doenças possuem sintomas semelhantes e por esta razão, conforme os protocolos médicos da pandemia, os pacientes são colocados de quarentena.

“Os sintomas causados pela fumaça são semelhantes a covid-19, como falta de ar, tosse, coriza, entre outros, por causa disso pode vir a confundir. Conforme protocolos, pessoas com sintomas respiratórios podem sim ter covid-19, o período pandêmico que estamos vivendo não está favorecendo. A doença é nova, muito se desconhece ainda e em função da fácil transmissão, as pessoas que estão também sofrendo pela fumaça estão sendo colocadas em quarentena por prevenção.

 Para lidar com este período seco e principalmente de uma eventual fumaça, Maria Luíza orienta que é preciso se hidratar bastante neste período e seguir outras recomendações para preservar a saúde.

 “As recomendações seriam usarem roupas leves, manter uma boa alimentação, beber bastante líquidos ricos em vitaminas que intensifiquem o sistema imunológico , evitar ambientes com fumaça, deixar o ambiente umidificado em caso de não ter umidificador colocar uma bacia com água ou toalhas molhadas no quarto, se necessário lavar o nariz com soro fisiológico, manter uma boa higiene doméstica para não ter o acúmulo de poeiras e evitar exposição ao sol nos horários entre as 10h às 17 horas”, explica, Maria Luíza.

 E afinal, como o meio ambiente é afetado?

 Andreza Nataline Simões, engenheira Ambiental explica que a perda da Flora e da Fauna, qualidade do ar e impactos no solo são os principais impactos ao meio ambiente.

“Quando as queimadas atingem regiões florestais ou de matas, cuja vegetação é bem definida, tem-se a perda dessas espécies, sendo que a recuperação desse ambiente pode demorar anos. Em relação à fauna, a carbonização é a primeira consequência sentida pelas espécies, sendo que, aquelas que não morrem de imediato podem sofrer ferimentos graves que posteriormente levam à morte. Entretanto, aquelas espécies que conseguiram escapar do fogo, tem sua sobrevivência ameaçada em função da falta de abrigo ou alimento. As queimadas interferem diretamente na qualidade do ar, em função do lançamento da fumaça na atmosfera. É importante salientar que a fumaça lançada pode atingir e prejudicar uma região distante do seu local de origem, uma vez que ocorre o “deslocamento” dela. Além disso, a temperatura do ar também é afetada, apresentando-se mais elevada em comparação ao cenário da não ocorrência de queimadas”.

Andreza também explica que as queimadas afetam o solo que fica exposto, podendo sofrer ressecamento em função do sol e erosão devido às chuvas, fazendo com que ele perca sua capacidade produtiva ao longo dos anos. Outro fator prejudicial seria a perda de matéria orgânica, principalmente na camada superficial do solo, algo que compromete a fertilidade dele. A engenheira reiterou que neste período por mais que favoreça o surgimento de queimadas, as ações humanas são a principal causa, ela ressaltou o fato de muitas vezes as queimadas serem usadas para limpeza de pastagens ou a queima de lixos e folhas, mas que a fiscalização é importantíssima para identificar as causas desses incêndios.

Sabemos que as queimadas afetam diretamente a qualidade do ar, inclusive com a elevação da temperatura do ar. Assim, espera-se das autoridades responsáveis, que campanhas de conscientização sejam realizadas, a fim de informar a população sobre os malefícios das queimadas. Também deve-se fornecer apoio técnico ao meio agrícola, para que alternativas ao fogo sejam colocadas em prática para um manejo adequado do solo. Além disso, a fiscalização deve ser realizada de forma eficaz, punindo rigorosamente os responsáveis pelas queimadas”.

Além de fiscalizar, as autoridades devem investir em espaços e em ações para a preservação ambiental, de acordo com Andreza. “Centros urbanos bem arborizados, com espaços verdes como praças e parques, por exemplo, seriam um investimento que trariam benefícios a população e ao meio ambiente”, finalizou.

Incêndio no canavial

Muitas vezes por desinformação, as pessoas podem achar que a queima no canavial é promovida pela Biosev. Em uma entrevista ao Jornal Cidade, Leonardo Lovato, superintendente da unidade de Lagoa da Prata, ressaltou que a Biosev não provoca a queima do canavial no final da colheita e que a empresa promove políticas contra esse tipo de incêndio.

“O trabalho deixa bem claro que somos contra os incêndios, que degradam a qualidade da cana, do solo e promove riscos aos colaboradores. Gostaríamos que as pessoas entendam que não existe mais”, afirmou Leonardo, em uma entrevista ao Jornal Cidade.

Nossa redação entrou em contato com a Biosev para saber quais ações a empresa tem feito para a prevenção de incêndios e também sua posição sobre o assunto. Assim como anteriormente, a empresa repudia este tipo de ato.

Confira a nota na íntegra

A Biosev trabalha continuamente em ações de prevenção e combate a incêndios, com foco na segurança e saúde de todos os colaboradores e das comunidades onde atua.

Por entender que períodos de estiagem são os mais críticos devido a condições climáticas desfavoráveis como o calor, baixa umidade e ventos fortes, a Biosev realiza anualmente campanhas de conscientização, prevenção e controle tanto internamente nas operações, como envolvendo a sociedade e autoridades da região com o objetivo de alertar e conscientizar sobre os cuidados na proteção do meio ambiente. Em 2020, com o tema Com Fogo Não se Brinca, a campanha de esclarecimentos levou para todas as frentes de trabalho, e reforçou junto às comunidades onde a empresa atua, os cuidados com descarte de lixo, bitucas de cigarro e os perigos dos materiais jogados em rodovias.

Além disso, a Companhia possui, em todas as unidades, uma estrutura de monitoramento de satélites que verificam a temperatura local e identificam preventivamente possíveis focos de fumaça. O sistema informatizado emite alertas às centrais de monitoramento agrícola e aciona as Brigadas de Incêndio sempre que necessário. Na unidade Biosev de Lagoa da Prata, especificamente, a estrutura de prevenção e combate conta com: helicóptero; drones; 11 caminhões pipa; torres de observação em locais estratégicos; 200 brigadistas treinados para realização de combate à incêndios; colheita 100% mecanizada; local apropriado para manutenção de maquinário; e aceiros com distâncias recomendadas entre a cana e áreas de vegetação.

A Companhia reitera que, de acordo com o Art. 41 da  Lei nº 9.605, de 12 de Fevereiro de 1998, provocar incêndio em mata ou floresta é enquadrado como crime ambiental, e o autor está sujeito a reclusão, de dois a quatro anos, e multa. Por isso, a empresa disponibiliza o disque denúncia 24 horas pelo telefone: 0800 940 9199

Para denunciar algum foco de incêndio criminoso para a Polícia Ambiental de Lagoa da Prata, ligue para o número: 3261-1599.

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