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Personalidades falam sobre os desafios superados pelos negros em Lagoa da Prata

César da Silva, Humberta Delfino e Raimunda Alves.

O Dia da Consciência Negra é celebrado no Brasil no dia 20 de novembro. Este dia tem como objetivo uma reflexão sobre a introdução dos negros na sociedade brasileira. Lagoa da Prata tem vários personagens que através de sua luta fizeram
e fazem história no município. Conquistar um espaço na sociedade sempre foi uma luta incessante de pessoas como dona Humberta Pereira Delfino, César da Silva, Raimunda Santos, dentre outros. Conheça um pouco da história deles:

Vivências e experiência de dona Humberta Delfino

Aposentada, 92 anos, é conhecida em Lagoa da Prata por seus trabalhos à frente do Reinado.

“Sou descendente de sul-africano (por parte da minha bisavó) e angolano (por parte do meu bisavô). Meus pais tiveram 12 filhos: 6 homens e 6 mulheres. Nenhum de nós é estudado ou formado, todos vivemos do trabalho pesado. Os tempos eram difíceis, mas a gente vivia bem, meu avô era sitiante. Quando minha família chegou em Lagoa da Prata, aqui ainda era um arraialzinho com casinhas de sapé, não tinha rua, eram trilhos de gado. Para preservar a cultura negra que é tão importante para nós, meu avô trouxe o Reinado para a cidade. O Reinado é uma festa que a cidade inteira participa, ricos e pobres, pretos e brancos, é uma coisa muito linda de ver. As dificuldades para chegar até aqui foram inúmeras, coisas que a gente nem gosta de lembrar, mas vencemos e estamos vencendo até hoje o preconceito. As pessoas precisam ter mais respeito por nós, somos parte de um povo trabalhador e de uma nação em busca dos seus ideais”.

A sabedoria de dona Raimunda Alves

Pedagoga, 69 anos, está à frente do Sind/Ute há 20 anos.

“As dificuldades que a gente enfrenta como pessoa pobre é igual a todo mundo, mas como pessoa pobre, negra e mulher são piores. Eu tive muita dificuldade desde quando eu comecei a estudar. Quando comecei a fazer a quinta série, teve professor que disse que não havia vaga para mim. Aí começou a minha luta, só que a gente nem entendia como discriminação porque nunca tínhamos ouvido falar, atitudes assim eram consideradas normais.

Para trabalhar eu não tive dificuldades, porque tive que estudar muito para transpor os obstáculos. Assim, passei em um concurso público do Estado. Sou funcionária pública desde 1978.

Mas para trabalhar para o município, foi um caso atípico. Na época, o prefeito eleito disse que não precisava de voto de negro, e o candidato que estava saindo procurou todos os negros e assim nos contratou.

Trabalhando como professora, a “elite” de Lagoa da Prata chegava à escola e me convidava para trabalhar em suas casas como doméstica, ao invés de me perguntar qual era o meu cargo ali. Eles me identificavam como profissional da limpeza da escola. Subjugar as pessoas pela aparência é uma das piores formas do preconceito.

Se você é um brasileiro que paga seus impostos em dia, por que você não tem os seus direitos garantidos como os demais?

Parecíamos ter evoluído, mas agora com a disseminação das redes sociais vemos que essa mudança não aconteceu. Pelo contrário, hoje a discriminação é amplamente divulgada por meio da tecnologia. Isso é muito triste! O Brasil ainda tem que caminhar muito para essa consciência e libertação.

Para mudar essa cultura de preconceito o primeiro passo é a concepção de ‘quem eu sou?’. Somente a partir daí, quando soubermos quem somos, poderemos lutar”.

O legado de César da Silva, “O rei do Congado”

Auxiliar de expedição, 33 anos, Rei do Congado em LP.

Vencer o preconceito sempre foi o grande ideal de César. Em homenagem ao Dia Nacional da Consciência Negra, ele escreveu um “retrato da vida do negro”.

“Ode à Consciência Negra”

Quero honrar o sangue que corre nas minhas veias e nas veias de todos os brasileiros! Quero honrar a força da raça que sou. A escravidão do corpo jamais se curvou ao senhor, mantendo sua altivez e integridade, preferindo morrer a morrer de fome por saudade da mãe áfrica. As máscaras que selaram as suas bocas para impedir que comessem terra, o que os levaria à morte, não impediram que sua voz de liberdade voasse até hoje por meio do canto que nos acalantou e nos alegra na ginga da música, da dança e da arte em geral. Quero honrar o leite que saiu dos generosos seios negros, alimentando os senhorzinhos e as sinhazinhas, tornando-os mais nutridos de corpo e alma com o afeto, a luz da chama de sua mãe de leite que, com certeza, os fez mais felizes, alegres, esperançosos e matreiros. Quero honrar sua matreirice, que criou a capoeira – um jogo de luta que nos ajudou nas fugas, e hoje é altamente respeitada no mundo inteiro – sendo instrumento de alegria e cura do nosso corpo neurótico. Quero enfim, honrar tudo, o lembrado e não lembrado por mim, que se sintetiza no grande amor que minha Mãe Negra teve por mim e a quem devo imensa alegria de viver.

A grande honraria é a gratidão que todos nós devemos sentir, pois graças aos pais e mães negros somos um povo criativo, amoroso e pacífico mundialmente e até reconhecidos por esses talentos. Salve todos os orixás que zelam pelo Brasil e que a Madona Negra, nossa padroeira, nos abençoe. Axé…Axé…Axé para todos da etnia negra lagopratense”.

Liberdade de um povo

O dia 20 de novembro foi escolhido como uma homenagem a Zumbi dos Palmares, data na qual morreu, lutando pela liberdade do seu povo no Brasil, em 1695. Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, foi um personagem que dedicou a sua vida lutando contra a escravatura no período do Brasil Colonial, onde os escravos começaram a ser introduzidos por volta de 1594. Um quilombo é uma região que tinha como função lutar contra as doutrinas escravistas e também de conservar elementos da cultura africana no Brasil.

Em 2003, no dia 9 de Janeiro, a lei 10.639 incluiu o Dia Nacional da Consciência Negra no calendário escolar. A mesma lei torna obrigatório o ensino sobre diversas áreas da História e cultura Afro-Brasileira. São abordados temas como a luta dos negros no Brasil, cultura negra brasileira, o negro na sociedade nacional, inserção do negro no mercado de trabalho, discriminação, identificação de etnias etc.

Em 2011, a presidente Dilma Roussef sancionou a lei 12.519/2011, que criou a data, que pode ser considerada um feriado de acordo com a vontade dos municípios. Mais de 800 cidades brasileiras decretaram feriado em homenagem ao Dia Nacional da Consciência Negra.

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