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Os professores que marcaram minha vida | Artigo

Foto: Divulgação

Os professores que marcaram minha vida foram aqueles que vislumbraram o meu gosto pela escrita e procuraram me apoiar de alguma forma, numa prova concreta de que a escola não pode manter como sua única meta a administração de conteúdo, esquecendo-se do respeito aos dons de seus alunos.

No romance “Jardim de corpos” escrevi que temos o dever de fazer render os talentos e os dons que Deus nos concedeu. Não os podemos deixar ociosos ou desperdiçá-los em vão. Trago em mim um profundo agradecimento aos professores que observaram que a minha timidez e o meu jeito quieto vinham de minha congênita visão de mundo interior.

Habitam em mim a primeira professora Clélia Aparecida Souto, que me ensinou o bê-á-bá e prefaciou o meu livro “Pelas partes femininas”; a Lenir Greco, que no quarto ano do ensino fundamental detectou o menino fazedor de poemas; à especial amiga Maria Greco, recentemente falecida, que tanto me incentivou e elaborou a orelha de nosso romance “Lógica das Borboletas”; a saudosa Maria Luiza de Castro, que me estimulou na época em que fui seu aluno no ensino médio e, depois, além de ler meus artigos, sempre escrevia ao jornal em que eu trabalhava, derramando consideração e elogios; Ângela Rodrigues, que no ensino médio me cativou pela consideração demonstrada em relação ao horizonte de poesia que eu mantinha na alma e mais tarde veio prefaciar o meu romance “Jardim de Corpos”. Na faculdade de Jornalismo, encontrei o saudoso professor João Etienne Filho, poeta de belos versos, que me descortinou os caminhos da atividade de escritor, apontando-me as dificuldades existentes na carreira e a necessidade de persistente aplicação num país de tão baixo estoque de leitores, como é o caso do Brasil.

Notem vocês que na minha lembrança vêm a lume apenas os professores que estenderam a mão ao dom que me acompanha desde o berço: o gosto pelo exercício da arte da palavra escrita. Essa minha experiência sinaliza de maneira inequívoca que o nosso ensino não deve se preocupar tão-somente com a administração de conteúdo didático, como se a única coisa importante fosse dar condições de o aluno atender às exigências do mercado de trabalho ou alcançar nível superior de educação, guiado pela preocupação em graduar-se em atividade financeiramente mais rentável, ainda que tal decisão o leve ao exercício de profissão que nada tem a ver com ele, tornando-o uma pessoa infeliz.

Fica, pois, aos meus queridos professores e minhas queridas professoras toda a minha gratidão por me terem incentivado e me estimulado na direção da poesia e da escrita, que eram tendências que me banhavam a alma, dando-me condição de ainda hoje – já de cabelos brancos e os naturais problemas de saúde provocados pelo desgaste do tempo sobre a carcaça física humana – estar na estrada poético-literária, produzindo e ostentando o mesmo entusiasmo dos primeiros anos, sob a mais absoluta certeza de que o dom que sempre me acalentou os passos permanece milagrosamente jovem, vitaminado (e constantemente rejuvenescido) pelo elixir da poeira do aprendizado assentada, ao feitio de musgo na pedra, sobre os versos que agora faço.


Carlos Lúcio Gontijo – Poeta, escritor e jornalista
www.carlosluciogontijo.jor.br
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