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Opção voluntária pelo apocalipse

Não temos tido vontade de escrever artigos nem mesmo emitir opinião em tempo de ausência de diálogo e muita agressividade gratuita e inócua, que é o quadro a que assistimos principalmente na comunicação virtual, onde a realidade do mundo real, marcada pela educação desatrelada da cultura, vai promovendo seus estragos sociais.

Como costumamos dizer, a educação tem o objetivo de passar conteúdo, ensinando quanto dá, por exemplo, a soma de dois mais dois. Contudo, é a cultura (por meio da sensibilização emocional) que possibilita ao ser humano efetuar a divisão desse número de acordo com a situação. E tem mais, um dia o conhecimento adquirido na formação escolar pode perder-se por doenças da memória, mas a maneira de olhar as pessoas, de tratá-las e relacionar-se permanece – e isto é cultura!

Há em nossos dias certa opção pela propagação do caos, da violência, da maldade, como se o objetivo fosse manter a pessoa acuada, na defensiva. A busca pelas sombras humanas é projetada bem acima da procura pelas luzes que habitam o ser humano; e tanto agem nesse sentido que, ao que parece, a meta é estabelecer o pensamento de que a raça humana não passa de um estranho equívoco do Criador, que por seu turno passa a ser uma entidade superior nem tão suprema assim.

Por outro lado, as religiões têm buscado propagar com todo o esmero as hecatombes do apocalipse, pinçando sempre os trechos bíblicos mais tenebrosos, esquecendo-se de que a Bíblia é, sobretudo, o livro da esperança erguida sobre os alicerces da vida eterna. Há 826 passagens bíblicas falando sobre a alegria e a comemoração da graça da existência humana, mas os que cuidam de anunciar a palavra de Deus são sempre tomados pelo vezo de apresentar aos fiéis um Senhor sempre munido de chicote e disposição para a aplicação de impiedosos e apocalípticos castigos.

A combinação de religiões voltadas para o fim do mundo com meios de comunicação que nos levam a crer que nunca esteja nascendo sequer uma florzinha do campo nas casuais rachaduras da pedra bruta com que as pessoas nos são desenhadas e, ainda, a coesão de tudo isso com desvalorização dos elementos culturais na formação humana, erigiu a atual estratificação social, sobre a qual agem os agentes do submundo das drogas, do tráfego e da pregação de que viver não vale mesmo a pena e que o melhor seria a antecipação à chegada do apocalipse, possibilidade vista como solução plausível para os que se sentem fracassados e, material, espiritual e psicologicamente, incapazes de agir no campo da solução individual, optam pelo extermínio coletivo – são os suicidas homens-bomba –, na base do eu ponho fim à minha vida, mas levo alguém junto!

No mais, depois de tantos anos escrevendo e driblando a linha editorial de veículos de comunicação impressa, não temos paciência para nos impor o mesmo empenho e esforço intelectual de antigamente. Afinal, os blogs, os sites e os jornais alternativos são muitas vezes dirigidos por gente que veio da grande imprensa, mas que cometem o mesmo procedimento de seus antigos patrões: “Ou escrevem o que eu quero que vocês escrevam por mim, ou não terão espaço para a publicação de seus artigos!”

Infelizmente, somente se leva em consideração como artigo de opinião textos que se posicionam contra ou a favor de determinados embates políticos, excluindo-se exposições que nos remetam à espiritualidade, às emoções e sentimentos humanos, que em última análise influenciam decisivamente na escolha política de cada cidadão. Não é à toa que as seções de opinião se tornaram tão áridas e monótonas, revestindo-se de pautas jornalísticas de uma nota só, com todas as características de posicionamento partidário monolítico e explícita comprovação de viseira editorial, uma vez que dentro de infinita gama de assuntos a ser tratados não conseguem sair do arroz-com-feijão de ferozes colocações pró e contra isto e aquilo outro, que no andar da carruagem se nos revelam fontes de agressões e discórdias nada afeitas ao diálogo e tão propensas à disseminação do ódio entre pessoas e classes sociais.

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