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O luto e as crianças

Afinal, qual a melhor forma de conversar com as crianças sobre um tema que ainda deixa os adultos engasgados?

João Alves


Sem sombra de dúvidas, a morte é um dos processos mais complexos e difíceis que a experiência humana conhece. Não à toa, falar abertamente sobre o assunto ainda é tabu para pessoas de todas as idades. Quando não é reprimido de imediato, é recebido como sinal de agouro ou é tratado de forma superficial e, ironicamente, como um assunto evitável. “Vira essa boca pra lá”, dirão, especialmente os mais velhos, ou “Deus o livre e guarde”, acompanhado pelo infalível ritual de bater três vezes na madeira para afugentar a morte ou a mínima possibilidade dela. No entanto, ainda assim, ela vem. A temida visita da morte é uma das poucas certezas da vida e, às vezes, acontece de forma bastante prematura.

A trágica morte da cantora Marília Mendonça na última sexta-feira (5), vítima de um acidente de avião, pegou o país de surpresa e deixou milhares – para não dizer milhões – de fãs inconsoláveis com a perda. “Ninguém vai sofrer sozinho, todo mundo vai sofrer”. E sofreu, ainda sofre. Se a morte ainda é um assunto que deixa os adultos engasgados, há de se pensar nas crianças, que têm um entendimento limitado a  respeito e inúmeras dúvidas sobre. Diante disso, fica a questão: qual a melhor forma de conversar com as crianças sobre um assunto que, na medida do possível, tentamos evitar? 

Para falar sobre o tema, o Jornal Cidade conversou com as psicólogas Lorena Vargas e Gabriela Silva, que esclareceram alguns pontos importantes sobre o modo como as crianças experienciam o luto e compreendem a morte.

De acordo com Lorena Vargas, a morte muitas vezes é tratada como um segredo para as crianças. Ela explica que a infância é a fase em que a criança está construindo a linguagem, está aprendendo e, por isso, é o momento ideal para  começar a lidar com a morte e criar mecanismos para lidar com a situação.


“As crianças não têm entendimento prévio, elas precisam ser ensinadas, crianças aprendem aquilo que vivenciam. Aprende principalmente por exemplos. Assim, a maneira como os  familiares lidam com o luto influencia diretamente o entendimento da criança” , d
estacou Lorena Vargas.

A psicóloga Gabriela Silva completa que a forma como cada criança vivencia o luto é diferente, considerando que o entendimento delas é determinado pelo desenvolvimento cognitivo e intelectual específico de cada idade. Lorena Vargas também explica sobre a importância de se considerar a faixa etária:

“Ao abordar o tema morte com a criança é importante considerar a faixa etária. Crianças menores de 5 anos tendem a ver a morte como algo reversível, então para essas é melhor exemplos mais claros e concretos. Mas é sempre importante ter um diálogo aberto, contar o que aconteceu sem mentiras, explicar sobre os ritos pós morte, o que é velório, o que é enterro, etc. A espiritualidade ou religião de cada família pode ajudar muito neste momento, oferecendo uma explicação e até mesmo um conforto para a criança” , comentou Lorena.

As psicólogas explicam que o luto pode ocasionar vários sentimentos na criança. É comum que elas se sintam culpadas, abandonadas ou revoltadas. Gabriela comenta que a mudança de comportamento e a dificuldade de socialização são muito comuns e estão relacionados ao processo de entendimento da perda. Lorena acrescenta que os familiares devem tentar tornar este momento leve e natural:  _ Dar espaço para que as crianças expressem seus sentimentos e emoções. Quanto mais conhecimento elas tiverem, mais fácil será para elas criarem mecanismos para lidar.

Para Gabriela, o papel da família também é primordial, através do acolhimento e escuta dos sentimentos, ajudando na exteriorização da tristeza, raiva e aflições durante o processo.

O Jornal Cidade ainda perguntou sobre a participação das crianças durante os rituais de despedida, como velórios e sepultamentos. De acordo com a psicóloga Lorena, é fundamental explicar do que se trata e depois perguntar se a criança deseja participar ou não. Ela ainda explica que retirar a morte de cena ou tentar distrair a criança não é um bom caminho: _ É importante sempre esclarecer tudo. A morte é inevitável e mesmo causando muita dor precisa ser tratada como algo natural .

Gabriela, ao final, ressalta que em circunstâncias de luto, também é importante a ajuda de um profissional de psicologia. Através de métodos lúdicos, a opção pelo acolhimento psicológico pode ajudar tanto a criança quanto os adultos que estão sofrendo pela perda de um ente querido. 

 

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