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O cenário do Rock N’ Roll de Lagoa da Prata

Os lagopratenses possuem bandas que fortalecem a cena do gênero musical na região e também na cidade.

Reportagem: Karine Pires

Neste mês é celebrado o dia do rock no país, gênero musical símbolo de atitude e até mesmo rebeldia, que foi inspiração na vida de muitas pessoas e também marcou presença na terra lacustre. O Jornal Cidade conversou com alguns músicos para saber como o gênero impactou as vivências e experiências de vida de cada um e também para descobrir sobre a trajetória do rock no cenário musical lagopratense. 

Trajetória do rock em Lagoa da Prata

Década de 90

Na foto estão Juliano Rossi, Fabinho, Marcelo Braga, Licério Dias e Luckão, integrantes da banda Obelix. Foto: (Arquivo Pessoal/Juliano Rossi)

O jornalista Juliano Rossi, contou que participou do início da cena “rockeira” na cidade em meados da década de 90. Na época, ele e os amigos se reuniam para tocar no antigo Centro Cultural Luiz de Castro, local em que era palco dos ensaios da jovem banda. Para Juliano, esta época foi uma aventura de adolescente, mas futuramente, o que era um passatempo se tornou uma atividade profissional. Após um tempo praticando e se divertindo, o grupo que se inspirava em bandas consagradas no rock nacional como Paralamas do Sucesso, Engenheiros do Hawaii resolveu investir na arte profissionalmente e daí nascia a primeira banda de rock na cidade. 

“O Quinto Elemento nasceu em 1998 com a proposta de tocar pop, mas sempre rolava aquela pegada de rock. Eu acho que se não me falha a memória, dos anos 90 foi a primeira banda grande de rock de Lagoa da Prata.”

Língua de Musquito

A banda também surgiu na década de 90, além de reproduzir clássicos de músicos consagrados como Tim Maia, The Beatles e Rolling Stones também desenvolveu trabalhos autorais ao longo de sua trajetória. Em 2015 lançaram um EP com 4 canções, sendo elas: Fronteira, Eu sou Estranho, Se Lembra e Me deixa. Além das canções também houve uma faixa bônus intitulada com o nome da banda. A banda também já tocou eventos dentro e fora da cidade, em 2015 participou da 2ª edição do Pequenas Intervenções – Especial Dia Mundial do Rock, na extinta Fundação Futura. Também se apresentou no Festival de Comunicação e Artes 2015: Democracia e Diversidade Cultural, evento promovido pelos alunos e professores do Curso de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Minas Gerais no campus do Coração Eucarístico, em Belo Horizonte.

Foto: (Língua de Musquito/Divulgação)

 

1999 a 2004

Cabal Tribal

Foto: Cabal Tribal/ Divulgação.

A partir de 2000 o movimento começou a crescer e as bandas Vabso e Cabal Tribal nasciam para espalhar o som pela cidade. A Cabal Tribal surgiu em 2004 logo com uma canção autoral chamada “Conclusão”. Tempos depois a música seria o título do primeiro álbum da banda. Um dos integrantes da banda, Fábio Júnio Oliveira, conta que a banda teve muitas formações até chegar na atual, mas que essas mudanças só foram possíveis graças à variedade de músicos talentosos na cidade. 

“A cena do rock em Lagoa é riquíssima, muitos músicos de alto escalão, no entanto, se a Cabal Tribal existe hoje, é graças a grande quantidade de músicos que tivemos pra escolher. Sou muito feliz de fazer parte disso tudo, me sinto amado assim como minha banda, e hoje meus parceiros Hugo, André e Bell me permitem concretizar a história do rock em nossa querida cidade!”

Após a morte de Alisson Caetano, um dos integrantes da banda, os músicos continuaram os projetos, preservando a vontade de Alisson, que sempre lutou contra o fim da banda. 

“Em 2016 perdemos um dos pilares da banda, Alisson Caetano para Leucemia, motivo que atrasou um pouco nossos projetos mas como era ele quem lutava para não deixar a banda acabar, resolvemos dar continuidade com Bell que já era integrante na percussão. Então em 2017, voltamos a todo vapor com gravações de novas canções em um estúdio de grande porte chamado Sonastério em Belo Horizonte. Gravamos sete músicas autorais e fizemos alguns clipes de algumas, também tem outro clipe em andamento.”

2011 a 2020

Outras experiências no rock

O músico Daniel Ribeiro, conhecido também por Bell, participou de outras bandas além de tocar na Cabal Tribal. Ele também já tocou na banda “Língua de Musquito”. Atualmente ele toca na Bicho Mecânico de Asas desde 2012. Bell se recorda como teve o primeiro contato com o rock e como acompanhou o movimento na cidade.

‘’Quando era criança, lembro de assistir uns ensaios de uma banda de “Heavy Metal”, de uns irmãos que trabalhavam num posto de combustíveis. Nos anos 1990 e início de 2000, aconteceram duas edições do “Festival Gênesis”, na Praia Municipal; um foi incrível, e o outro um fiasco. No finado “Master Clube” acontecia, com incentivo dos proprietários, eventos e festivais de música, com disputa de premiação entre as bandas. Em várias épocas do ano, bandas organizavam festas com temáticas diversas com o intuito de movimentar a cena do rock. Lagoa já teve uma cena do rock mais movimentada com mais grupos musicais mas faz um tempo que não surgem novos.”

David Ribeiro que trilhou seu caminho na música também na banda Língua de Musquito, passando pela Cabal Tribal. Hoje é fundador do bar Stone Rock Bar, pub referência do rock em Lagoa e também na região nos últimos 5 anos. 

“A ideia era montar um bar diferente do que tinha na cidade simples, prático e objetivo. Espetinho, cerveja gelada e rock n” roll! Com o tempo foi crescendo, evoluindo e a tribo aumentando. Muita gente entendeu que rock’ n roll é mais um estilo de vida do que a música propriamente dita. Rock é liberdade, é exagero na pinga, é sinuca com cerveja e celebrar a vida com os amigos.”

BIMA

Foto: Gabriel Barbosa

A banda BIMA, formada por Carol Shineider, Débora Rezende, Daniel Ribeiro e Daniel Santos surgiu de uma vontade de querer fazer músicas autorais. A formação da banda passou por transformações, até a atual, que também conta com a participação de Bell no comando da bateria. Assim como a Cabal Tribal, a BIMA é uma banda que produz o próprio som autoral, através de um trabalho independente.

Para Débora, o rock perdeu muito espaço para outros gêneros como sertanejo e funk mas ela acredita que o trabalho independente está crescendo, fortalecendo a existência das próprias bandas que lutam bastante para tocar nos espaços e não recebem apoio muitas vezes do município, pois já tocaram em outras cidades em eventos organizados pelas próprias bandas. A artista ressalta que é uma troca bonita este tipo de iniciativa entre as bandas no entanto, esta falta de suporte do poder público é uma prática recorrente não só na cidade como em cidades vizinhas e no estado.

A importância do rock para alguns artistas

Para Bell, além de fazer da sua vocação profissional, o rock lhe trouxe oportunidades de conhecer mais pessoas e mais lugares fora de Lagoa, suas experiências vieram em fases onde cada uma teve sua importância.

“(…) Uma segunda fase, onde veio o gosto e dedicação de ter uma banda, com shows desafinados, mal executados e falta de organização. E uma terceira fase, com a melhora desse universo de shows, com maior profissionalismo e qualidade. Claro, sem falar no contato com muitas pessoas e festivais pelo o Mundo afora.”

Já para David Ribeiro o rock trouxe amizades e também influenciou na sua formação pessoal.

“O rock foi o que me influenciou na música, me influenciou muito como pessoa também. Posso dizer que tenho meia vida de rock n” roll, meia vida vivida rodeado de uma galera muito massa, gente com ideologias parecidas mas ao mesmo tempo gente diferente, cada um com suas manias.” 

Eventos e bares que privilegiam o rock

A cidade lacustre é conhecida por ter eventos e bares atrativos na região Centro-Oeste. O Moto Sunset, Pequenas Intervenções, Rocknic!, Festival de Cerveja, Festival de Inverno são alguns dos eventos que privilegiam o som alternativo na cidade de forma gratuita.

Além destes eventos, há também o Coletivo Nexalgum, uma organização sem fins lucrativos composta por voluntários que promovem a cultura local e o apoio de músicos para bandas da cidade e da região. Assim como o “Pequenas Intervenções”, a organização promove outros eventos de outras vertentes culturais, através de saraus, celebrações temáticas, festivais de artes integradas, entre outros de forma gratuita.  Já tiveram também festivais de música com atrações e premiações internacionais.

Para alguns músicos, ainda faltam eventos municipais que priorizem a presença de bandas da cidade e principalmente com o trabalhos autorais. 

Segundo Gustavo Silva, integrante da banda Metáfora “sem dúvidas, Lagoa tem muita demanda para este tipo de ambiente. Todo evento de rock e gêneros mais alternativos, andam lotando aqui em lagoa, e não atingem o movimento do bar por exemplo, que continua cheio durante os dias que rolam eventos. Sinal claro de que há muito espaço pra quem quer atender esse tipo de público. E sim, a quantidade de festivais neste sentido poderia aumentar aqui. Vejo muita gente de fora quando rola, o alcance é muito grande, principalmente quando a Praia Municipal é o palco. Até na “pracinha Donana” houve um público enorme em festas do tipo. Alô produtores, vamos agilizar isso aí!’

Para Débora Rezende, há uma carência de eventos culturais para abrir espaço para quem produz arte e que a banda e o próprio Coletivo Nexalgum que participa, tentam proporcionar esse apoio para os artistas locais.

“Além do Stone, quem também abre espaço para as bandas é o Coletivo Nexalgum, que surgiu em 2011 e faço parte também. Desde essa época a gente viu essa carência, acho que junto com o E-cult, a gente via essa carência de eventos culturais que abram espaço de fato pra quem tá produzindo arte. Porque a Prefeitura não apoia de fato os artistas locais.Quem está fazendo seu próprio som, porque sempre pega artistas de fora e banda cover. Nada contra banda cover, mas tem muita gente fazendo seu próprio som.”

Já para Fábio, o importante não é a quantidade, mas sim a qualidade de eventos e bares que privilegiam o gênero. Na sua visão, a cidade já está bem representada.

“A questão de bares e eventos de rock, creio que não é necessário muitos , é necessário o suficiente,e acho que pra montar algo voltado pro rock, tem que ter conhecimento e comprometimento com o estilo, então acho que estamos bem representado com Stone Rock Bar, com o Locomotiva Bar, por se tratar de donos conhecedores e amantes do estilo, eventos, creio eu que nos últimos tempos o Moto Sunset era a ” exposição” dos rockeiros, mas acho que o rock é um estilo de vida incompreendido pela sociedade comum, que se fosse o foco principal, o Brasil levaria a música mais a sério e deixaria de ouvir tanta banalidade musical.’’

História do Rock

O gênero conhecido mundialmente símbolo de atitude para muitos jovens, teve uma mulher negra como precursora do movimento nos Estados Unidos. A americana Sister Rosetta Tharpe, apresentava um programa de rádio na década de 30 e 40 e na voz, carregava blues e jazz que encantou os americanos e foi inspiração para diversos cantores considerados os reis do rock, como Elvis Presley, BB King, Bob Dylan, esse em especial definia Rosetta como a “essência do rock and roll”. Apesar da trajetória de sucesso, seu talento foi ofuscado pelo sucesso dos reis do rock, no entanto, ela quebrou paradigmas instituídos ao comportamento de uma mulher na época e é considerada a mãe do gênero musical. 

No Brasil não foi diferente, a pioneira do movimento também foi uma mulher. Nora Ney, cantora conhecida de samba-canção, gravou a primeira canção considerada do rock, Rock Around The Clock. Apesar de não seguir o cantando músicas do gênero ela inspirou artistas como Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Tim Maia entre outros.

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