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O abandonado “Mundo submerso” de Bueno de Rivera | Artigo

Foto: Reprodução da Internet / Ilustração

Atravessamos momento político conturbado, no qual o presente e o sonho de futuro melhor do Brasil se encontram “enjaulados”, ao feitio de meninas e meninos filhos de pais imigrantes ilegais nos Estados Unidos. A gente brasileira não possui representantes congressuais em sua defesa no Congresso, onde as votações se dão ao comando do deus-mercado, onde o que conta é o aprimoramento dos procedimentos capazes de carrear recursos para a meia-dúzia que controla todos os meios produtivos e financeiros do mundo.

Num ambiente assim delineado não há lugar para a boa cultura direcionada à reflexão e, por consequência, à formação de cidadãos preocupados com a realidade adversa em que vivemos, na qual as oportunidades de crescimento coletivo são cada vez mais inexistentes.

Nos últimos anos lancei muitos livros e fui a muitos lugares, como se fosse um mercador de ideias a constatar o solo cultural inóspito em que semeia sua produção cultural independente. Nem bem acabei de apresentar aos casuais leitores a obra infantil “A tartaruga Georgina” e me vejo envolvido com o livro “Bodas de bule”, composto de poemas e uma novela, com o qual Nina e eu comemoraremos 40 anos de matrimônio no mês de maio do ano que vem.

E como se não bastasse, passamos às mãos de Norma Raquel Gontijo, educadora e ex-secretária de Cultura de Santo Antônio do Monte, um livro com 100 poemas e frases intitulado “Menos olhos, menos chuva”, sob a pretensão de lançá-lo aos 70 anos (abril 2022), para que ela nos honre com um prefácio. Norma nos recebeu cheia de gentileza e disposta a encarar a empreitada de fazer a abertura solicitada, presenteando-nos com o primeiro livro do renomado poeta santo-antoniense Bueno de Rivera, que um dia ela encontrou numa caixa entre livros prestes a ser descartados, apesar de o importante autor tê-lo destinado a local que julgava seguro o suficiente para preservar a memória de seu esforço intelectual. Tratava-se do raro livro de poemas “Mundo submerso” – de muito significado e inigualável beleza aos olhos de todos os leitores que valorizam a verdadeira poesia.

Feliz com o presente que me foi dado pela prima Norma Raquel, tenho por meta proteger o “Mundo submerso” com uma capa dura e sempre que possível divulgá-lo em louvor ao poeta Bueno de Rivera, que além de prefaciar o meu segundo livro “Leite e lua” cuidou de me aconselhar, descortinando-me a necessidade de lapidação do dom da poesia com o qual havia nascido. Era o ano de 1977 e eu só voltaria a editar em 1987, depois de dez anos, buscando estilo próprio e fazendo da lata de lixo – como Bueno me ensinou – o meu melhor e mais fiel crítico.

A trajetória do exemplar do livro “Mundo submerso” que eu tenho agora sob minha guarda, salvo da fogueira da ignorância à qual estava condenado, serviu-me de alerta sobre a pouca importância com que são tratados todos os segmentos culturais no Brasil. Muitas vezes, não tenho com quem comentar um poema; recebo exemplares de autores amigos e encontro dificuldade na distribuição do rico tesouro; sou contemplado com alguma premiação do âmbito das letras e não tenho com quem comemorar, a não ser comigo mesmo, a minha esposa Nina e uns poucos amigos que sabem (e reconhecem) a minha luta.

Enfim, mergulhado nos versos que Bueno trouxe à luz em 1944 e consciente do desprezo (e menosprezo) dos brasileiros em relação aos livros, debruço os meus olhos nas mil e uma janelas abertas pelos horizontes da poesia contida no “Mundo submerso”, onde encontro a face triste do poeta: “Todo o semblante triste/ é um espelho da minha mágoa”.


   

Carlos Lúcio Gontijo

Poeta, escritor e jornalista

www.carlosluciogontijo.jor.br

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