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Mulheres no skate sim! Elas podem e devem estar onde quiserem

O skate feminino deixou de ser apenas um esporte praticado por elas, e passou a ser uma luta pela igualdade de gênero e respeito.

A skatista Rayssa Leal chamou a atenção de milhares de mulheres que ainda se sentiam apagadas ao escolher um esporte culturalmente masculino, o skate. No dia 26 de julho, Rayssa Leal tornou-se a medalhista mais jovem dos Jogos Olímpicos em 85 anos. Com apenas 13 anos, em sua primeira olimpíada ela trouxe para o país a medalha de prata e a ascensão das mulheres no skate.

O skate feminino deixou de ser apenas um esporte praticado por elas, e passou a ser uma luta pela igualdade de gênero e respeito. O número de mulheres skatistas no Brasil praticamente dobrou de 2009 a 2015, segundo pesquisa encomendada pela Confederação Brasileira de Skate ao Datafolha. Naquela ocasião, eram mais ou menos 1,6 milhão de meninas, número que certamente aumentou até hoje, principalmente após ter sua inclusão confirmada no maior evento esportivo do mundo.

Fabiana Andrade, de Arcos, tem 21 anos e pratica skate desde os 9 anos de idade. No esporte, ela encontrou a paixão e a oportunidade de mostrar que pode fazer tão bem quanto qualquer pessoa. “O skate no geral tem crescido bastante, cada vez mais tenho visto pessoas começando a andar de skate, ou voltando a andar, inclusive as minas, e acho que o número de meninas andando pelas ruas só tende a aumentar mesmo, ainda mais agora, com a visibilidade que passamos a ter, a força que estamos transmitindo. Me sinto incentivada todos os dias ao ver a cena atual, o crescimento do skate feminino.”

Rafaela Ribeiro é de Lagoa da Prata e disse que enfrentou bastante preconceito por escolher o esporte, mas que acredita que ele ainda será dominado pelas mulheres. “Sempre fui muito apaixonada pelo esporte, e desde meus 12 anos frequentava a antiga pista de skate próximo aos bairros Gomes e Santa Eugênia, mas só fui andar mesmo com 16 anos; andei por uns oito meses e parei. Estou voltando a andar agora com meus 23 anos e estou amando ter essa sensação de voltar. Sofri preconceito na época que comecei a andar e poucos meninos tiveram a intenção em ajudar. Isso foi um dos grandes motivos por ter parado. E mesmo hoje voltando, percebo que ainda continua somente meninos na modalidade. Mas acredito que isso ainda vai mudar muito”.

(Foto: Rafaela Ribeiro/Arquivo pessoal).

Ela ainda destacou a importância que as atletas da modalidade representam para ela e futuras gerações. “Acredito que esse será um grande incentivo para as novas gerações. Eu mesma tenho uma filha de 3 anos e super incentivo ela no esporte.  Acredito que a Rayssa Leal será para elas como a Letícia Bufoni foi pra mim. Espero que ela seja reconhecida assim como o Tony Halk é mundialmente conhecido pelo esporte”.

Eduarda Rezende Alves, também de Lagoa da Prata, disse que o esporte sempre foi sua paixão e nunca se sentiu menos skatista por ser uma mulher. “Sempre fui apaixonada por esse esporte. Desde novinha eu via na tv mulheres skatistas maravilhosas andando e me encantei. Letícia Bufoni foi minha inspiração. Me sinto exorbitantemente feliz. Na época que era a única mulher na pista, tinha muito apoio dos meus amigos skatistas também e  pensava que aquele lugar era tão meu quanto deles e de fato era”.

Através de seu pensamento sobre que aquele lugar também podia e devia ser ocupado por mulheres, Eduarda tinha prazer de ensinar quando muitas delas sentiam interesse.

  “Queria que a pista fosse cheia de meninas andando e se divertindo. Quando passava uma menina e me olhava ou se interessava pelo skate, eu sentia que poderia ser exemplo para ela e a ensinava a andar e não só isso, mostrava pra ela que ela podia se empoderar. Pra ela ver que não é só porque o homem é predominante em algo (exemplo, no skate), que  mulher tem que ter medo de viver, fazer o que quiser e estar onde ela quiser, porque ninguém deve privá-la disso. Eu sempre quis que a pista fosse cheia de mulheres, mas sempre houve muito preconceito por fora já que sempre nos chamavam de “sexo frágil”.

 

(Foto: Eduarda Rezende/Arquivo pessoal).

Ela ainda acrescentou que a luta da mulher é diária e que vão alcançar todos os ambientes predominados por homens.

 “Tenho a absoluta certeza que não só o skate, mas todos os outros esportes terão mais vozes femininas. As mulheres estão tomando seus lugares e se destacando neles. Nós, mulheres, somos f**** e estamos lutando dia após dia para termos o respeito que merecemos. Rayssa, Letícia, Pâmela e todas as outras skatistas femininas que estão crescendo na carreira são exemplos de que o termo “sexo frágil” nunca foi nada além de um grande termo preconceituoso para nós que podemos tudo!”.

Letícia Passos, de Lagoa da Prata, disse que ela mesmo olhava o esporte com preconceito até amadurecer e entender que esse espaço também é da mulher. “Conheci o skate na adolescência, com 14 anos. Andava muito com um grupo de garotos mais velhos na praça da Igreja São Sebastião. Fiquei um bom tempo parada por não ter companhia da minha idade. Na minha ideia era considerada “coisa de marginal” pelos mais velhos, na época. Voltei a andar com 20 anos quando conheci a Raissa Ribeiro, que me apresentou o longboard. É uma alegria imensa ver as mulheres ganharem esse espaço em esportes que são voltados para os homens. Rayssa Leal é, literalmente, uma fada, que veio para quebrar esse preconceito não só do skate, mas como mulheres praticarem esses tipos de esportes. E a maior emoção que eu senti foi ver pessoas que julgavam o skate na minha adolescência, torcendo e vibrando com ela. É lindo ver que aos poucos estamos quebrando barreiras e conquistando o nosso espaço onde queremos estar”.

(Foto: Letícia Passos/Arquivo pessoal)

 

Eles e a luta pelo reconhecimento do esporte

Lucas Luiz da Silva é de Lagoa da Prata, tem 32 anos, mas se interessou pelo skate aos 9. “Ao ver uns “caras” andando na Praça da Matriz em Arcos, quando estava no casamento de uma tia, me interessei pelo esporte. No começo, as inspirações eram os amigos e alguns atletas como Tony Hawk, Bob Burnquist, entre outros que eram da época. Quando comecei a andar, o esporte ainda não era popular e o pouco acesso que tinha era algumas VHS e revistas, então quando um amigo aprendia uma manobra que parecia impossível era o que mais inspirava e motivava”.

Segundo ele, as olimpíadas deram ainda mais visibilidade ao esporte. “Esse “boom” que teve nas Olimpíadas literalmente vai mudar o skate no Brasil e no mundo, imagino que mais pistas, campeonatos e marcas vão aparecer em peso, o skate sempre foi um esporte que não era bem visto, quando não era um brinquedo de criança era um esporte de malandro, e quem anda de skate sabe do que eu estou falando. Porém, o feito que a Rayssa Leal conseguiu elevou o esporte a outro nível e isso vai mostrar o que realmente o skate é!”

Nathan Soares é de Lagoa da Prata, tem 19 anos, e começou a praticar o skate por volta há cerca de 10 anos. “Logo depois de eu ver vários skatistas passando diariamente na porta da minha casa, consegui meu primeiro skate emprestado com um amigo, depois de um certo tempo minha mãe me deu meu primeiro skate de presente. No início achava bacana a ideia de andar em cima de “uma tabua com rodinhas”. Nem eu e nem minha família não imaginávamos que o skate era um esporte que iria me acompanhar durante todos esses anos. O skate começou em minha vida como um hobby, ao longo do tempo que fui praticando se tornou uma paixão que pretendo sempre levar em minha trajetória”.

Ele também falou sobre os campeonatos que já participou. “Já participei de várias competições, gostava bastante de competir, a sensação de estar sempre aprendendo em cada um deles, estar próximos a amigos distantes e ganhar premiações, era ótima. Teve um campeonato que foi bastante marcante para mim, o meu primeiro, que competi, na época andava apenas nas ruas de Lagoa da Prata e aprendia as manobras com meus amigos. Foi na cidade de Formiga em 2013, nunca tinha andado em pista de skate antes, cheguei logo cedo na cidade e comecei a treinar na pista, fiquei muito empolgado e feliz de estar andando pela primeira vez em uma pista de skate, e também participando pela primeira vez de um campeonato, no final do dia veio a premiação e falaram as colocações, consegui ficar em primeiro lugar na minha categoria e trazer a medalha para Lagoa da Prata”.

O atleta também falou sobre a importância das meninas no esporte.

“O skate feminino está se tornando cada vez mais forte! A visibilidade constante das mulheres andando de skate está sendo inspirador! As mulheres estão ganhando cada vez mais espaço no esporte, fazendo acontecer e quebrando barreiras, incentivando umas às outras e isso é muito importante. Não podemos deixar de falar sobre isso, porque é importante mesmo, principalmente agora que a Rayssa, de 13 anos, quebrou a barreira e trouxe um reconhecimento maior para o skate. Quando comecei, havia sim mulheres que andavam, mas acredito que no decorrer do tempo paravam por falta de incentivo, poucas continuaram nessa trajetória e seguem até hoje firme. Até para nós homens o skate antes era difícil de ser bem representado, o skate sempre será o esporte que não haverá inimizades independente de seu estilo, seja homem ou mulher”.

Nathan durante uma competição. (Arquivo pessoal),

Para Nathan, com as Olimpíadas, o esporte teve a oportunidade de quebrar barreiras. “O skate nas Olímpiadas foi bem representado por todos os competidores, pois todos  conseguiram ver, o que já deviam saber a muito tempo antes. Viram que ali, na verdade, não existe rivalidade, e sim todos andando por amor ao esporte, sempre torcendo e ajudando um ao outro. A Rayssa mostrou a todos seu alto nível de skate sendo tão nova e toda sua humildade e carisma. Ela conseguiu fazer o skate ser visto como um esporte de união e alegria por todo o mundo”.

 

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