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José Osvander dos Santos, o Cuíca | Artigo

Foto: Divulgação

O senhor José Osvander dos Santos é uma figura fantástica. Dono de uma voz grave poderosa, sempre é muito requisitado para locução de bingos e festas. Disse que nunca entendeu o porquê da voz sonora e potente.

Seus pais foram sempre pessoas simples, da lida, roceiros. Viveram em fazendas de algodão, milho e café. Morreram em Iguatama há mais de vinte anos atrás. Cresceu e viveu entre Pimenta, Piumhi, Doresópolis, Iguatama e agora por último, zona rural de Japaraíba. Na verdade seus avós viveram por estas bandas, pelo Espraiado dos Veloso, durante muitos e muitos anos.

Cuíca foi um apelido que ganhou ainda jovem, logo no início dos seus trabalhos, de suas atividades na Usina Luciânia. Naquele tempo era CIAOM, o nome da Usina. Começou na lavou de cana e aproveitando uma oportunidade do senhor Osvaldo Damasceno, dada a seu irmão, Helivelton, que não a aproveitou devido à “maleita” (malária, no dizer dos antigos) adquirida em viagem ao Mato Grosso, iniciou o seu aprendizado no volante de um caminhão. Logo passou a dirigir e operar tratores agrícolas mas foi mesmo no volante de um caminhão que ficou conhecido e afamado.

Gostava muito de dirigir. Fez dupla na Usina com o saudoso “Azeitona”, com o qual sempre andava junto, colado, igual “unha com carne”. Certa feita, julgando ter algum conhecimento acerca de caminhão, trouxeram para a Usina caminhões novos, com freios modernos, sendo que vários deles possuíam uma peça cujo nome soava estranho aos ouvidos de todos: cuíca de freio. Quando furava a cuíca de freio, fazia um barulho característico. Aí qualquer barulho parecido com este, o Osvaldo dizia que tinha furado a cuíca, furado a cuíca, e aí passaram a chamá-lo de “Cuíca”.

Casou-se com Vera, mudaram-se para uma fazenda pra frente da “Souza”, vindo a estabelecerem-se no povoado denominado “Coqueiro”. Morou ali com sua família até acabarem com as casas na Vila Luciânia, estinguindo por conseguinte as casas da Companhia que existiam e eram ocupadas por funcionários da Usina no Bonifácio, Coqueiro, Souza, Mesquita, Andradina, São Domingos dos Borginhos, São Domingos dos Martins, Zé Coelho, Zé Rufino, Abacaxis, Laranjeiras, Florais e o povoado da Dunduia, quase chegando em Garças de Minas.

Cuíca e Vera se casaram e trabalharam durante anos alternando serviços na Usina e em fazendas diversas. Cuíca conhece praticamente todas as cidades da nossa região, inclusive lugarejos, roças, fazendas. Já trabalhou com gado, gado de corte, gado leiteiro, amansador de cavalo, com hortas, frutas e verduras.

Nos seus tempos de mocidade praticou rodeio ganhando importantes quantias em dinheiro na época, o que sempre ajustava a sua condição financeira. Seus filhos foram criados em Lagoa da Prata com os avós e cedo partiram para os Estados Unidos onde até hoje, lá residem. Não querem mais voltar para o Brasil. Eles visitam o nosso país apenas para ver os pais.

Apesar dos insistentes convites para que eles passem um tempo vivendo nos Estados Unidos, Cuíca sempre diz que na verdade, ele nunca sairia nem de Minas Gerais, tanto mais para fora do país. Não tem vergonha de dizer que nunca pisaria dentro de um avião, por dinheiro nenhum no mundo.

E assim, vai tocando a sua vida, com alegria e simplicidade, retribuindo ao mundo a gentileza que sempre recebeu.

Cuíca resolveu trabalhar novamente com caminhão. Sente o peso dos “janeiros”, como ele mesmo diz e está tentando renovar a sua carteira de habilitação, vez que a deixou vencer e não mais estava disposto a verificar condições novas para a sua obtenção.

Cuíca afirmou que ia visitar a Vera, sendo que o motorista do ônibus que ia para Formiga era o saudoso e conhecido “Canarinho”, o qual trabalhou muitos anos na Empresa Nossa Senhora do Carmo.

Contou-me com tristeza e saudade sobre um amigo de longa data, que sempre o ajudou e que cedo partiu: Lucas Antonio de Resende, o Lucão. Disse que nunca trabalhou para o “Lucão” mas que sempre Lucão ia em sua casa comer paçoca de carne com rapadura. A bebida era caldo de cana moída na hora.

Com lágrimas nos olhos, lembrou com saudade dos seus tempos de mocidade e da sua amizade com o saudoso ex-prefeito.

Ao despedir-se, com lembranças dos amigos mais chegados e leais, lembrou-se do meu Pai. Deu três tapas no meu ombro, disse que o jeito, a voz, os trejeitos e maneiras estavam iguais aos do meu pai, “Toninho”, e que eu havia recebido, tal como Eliseu recebeu a capa de Elias, os dons de Papai: o riso fácil, o respeito e consideração por todas as pessoas, a alegria incontida e sem motivo, o perdão nos olhos e nas mãos, a voz doce e suave, o julgamento ameno e misericordioso e a vontade de ajudar, naquilo que puder…

Despediu-se de mim com os olhos rasos de água dizendo que era difícil de lembrar do Papai e não chorar… Histórias que o povo conta…


Isaías Santos – autor
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