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José Antônio – As pilhas fracas na serenata do Dia das Mães

Antigamente a gente tinha costume de fazer serenata na véspera do Dia das Mães. Saíamos de madrugada. Eu e mais uns dez colegas: o Cruzado, o Lelengo, o Pezão, o Tico Tico, o Tõe Saquinho, o saudoso Teco do Bonito e outros mais.

Era uma turma boa! Eu tinha um gravador cassete, bem antigo, da marca Aiko. Deu uma limpada no cabeçote do bichinho com álcool. Passamos na venda do Ildeu e compramos quatro pilhas médias, a antiga pilha do gato, lembra?

A serenata era a partir das dez da noite. Passávamos na casa de cada um dos companheiros e fazíamos a serenata para a mãe de cada um. E a música de destaque nossa era do Agnaldo Timóteo, a música “Mãe”, e a do Carlos Alexandre.

E assim a gente seguia durante a noite. Fomos na casa do primeiro, do segundo, do terceiro, do quarto… na inteira do quinto começamos a rodar a música do Carlos Alexandre. E as pilhas foram enfraquecendo. O comércio estava fechado, mas não tínhamos dinheiro para comprar outras pilhas. A música tinha quase cinco minutos de duração.

Em cada momento uma emoção e um aperto. Por causa da pilha fraca, a rotação da música foi ficando muito lenta. Lá em casa foi uma das últimas serenatas. Meu pai era um caboclo nervoso, do estopim curto, o Zé Nestor.

Lá em casa, por volta de duas e meia da madrugada, colocamos o gravador no chão, na porta da sala. Falei com eles: “Vamos caladinho porque meu pai é nervoso. Se ele resolver sair aqui o trem não vai ficar ‘bão’ para o nosso lado”. A tranca da porta era uma tramela. Lá em casa não usávamos nem tramelar a porta, só encostava. E a música do Agnaldo Timóteo rodando, tava naquela toada muuuuuuuuito lento. As pilhas estavam fraquinhas. Tinha que fazer a serenata.

Pensei: “Vou agradar minha mãe. Vou pular no jardim do vizinho, no beco do Acácio, e vou pegar uma rosa e colocar encostada na beiradinha da porta”. Então coloquei a flor. Nesse momento a porta abriu. Rapaz! E o aperto! “Meu pai vai levantar e passar um carreirão na turma”.

A porta aberta, a flor na porta… A sorte que meu pai tinha um probleminha de audição e nem deu notícia de música, serenata e porta aberta. No dia seguinte minha mãe levantou, fechou a porta, pegou a flor e eu perguntei: “E aí, mãe?”. Ela disse: “Eu estava escutando tudo. O seu pai que não podia acordar”.

Fizemos a serenata na casa de outros dois colegas com as pilhas fracas. Foi uma labuta danada. Essa noite de serenata que fizemos ficou na história. Foi um aperto que passamos.

Perdi minha mãe em 2002. Fica na lembrança, a cada ano que passa, de uma profundeza maior no coração da gente. O vazio é grande, mas fica a lembrança das alegrias e apertos que passei com minha mãe.

José Antônio – Locutor da rádio Samonte FM E- mail: bandeirantes@isimples.com.br
José Antônio – Locutor da rádio Samonte FM
E- mail: [email protected]
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