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José Antônio – O Reinado em Iguatama

José Antônio (Rádio Samonte FM) [email protected]

Em meados de 1986 eu já  era rapagote  e eu cismei de brincar de reinado na congada de varinha no corte de vilão, mas eu não agradei daquilo não porque eu era baixinho e gordinho e começava a rolar pela rua a fora.  Daí resolvi pedir para brincar de congado na turma dos vizinhos da rua, eles  me aceitaram e perguntaram o que eu gostava de tocar. Resolvi tocar o reco-reco  e um pandeiro também. Tudo isso acontecia no mês de agosto, e eu enchia aquele reco-reco de pelota pra depois ir jogando no canto da boca e tomar umas pingas pro cima.

Certa vez, o cesteiro de Iguatama convidou os vizinhos para levarem  o congado até lá. E assim arrumamos uma caminhonete 608 e empoleiramos no baú dela, eu, o saudoso Moacir Borges, o Tõe do Nego, Tõe Amaral, Totonho Lacerda, Juruna, o Cruzado,  fora as crianças, senhores e senhoras.

Naquela época a estrada era de terra e quando foi chegando  em Iguatama a gente doi descendo do baú, e eu já desci foi rolando mesmo. Poeira pra dar e vender, meu cabelo já parava em pé.

Os vizinhos falaram para nós começarmos a brincar de reinado ali na entrada da cidade para o povo ir vendo a nossa categoria e quando chegássemos no centro a gente já ia tá rodeado de gente. Mas quando fomos passando o povo começou a ir para dentro das casas e fechar as janelas, foram batendo as portas na nossa cara e a gente “tava” morrendo de sede. Eu pensei: – Esse trem tá errado. Ou nós somos feios demais ou alguma coisa tá acontecendo porque estávamos espantando o povo da cidade.

Com muito custo chegamos no centro de Iguatama  e quando chegamos em um boteco para pedir água eu já tava com meia língua para fora da boca de tanta sede.

O dono da festa falou para os vizinhos que era pra gente ir atrás do reinado de Formiga, só que aquele povo tava descansado e for me dando uma coisa ruim de tá ali no meio daquele povo pulando.

Quando eu olhei adiante tinha uma moreninha cor de “cuia véia”  mais ou menos  do meu tamanho, e ali ela me olhou e eu olhei pra ela. Mais do que depressa eu deixei esse congado e cheguei perto dela.

Ela disse: Oi

Eu disse: Oi

Ela me convidou para eu ir na casa dela e eu fui.  Chegando lá a avó dela me serviu um prato de biscoito de polvilho frito com café quentinho.

A avó dela me perguntou se eu não queria tomar um banho e eu aceitei porque “tava” me sentindo muito mal  com tanta poeira. E ela arrumou a água na bacia  e eu fui tomar banho de bacia. E olha gente, não era fácil a mesma água que a gente lavava o oritimbó lavava também o rosto, fazer o que.

Saindo de lá avistei o reinado lá longe, mas eu não queria mais brincar não. E me veio na cacunda os vizinhos tudo que ficaram bravos de eu ter sumido.

E eu falei: Aqui ó, minha namorada.

A moreninha “tava” achando tão bom que nem os pezinhos ela colocava no chão porque “tava” agarrada no meu pescoço, mas eu tive que largar dela e ir brincar de reinado. E essa moreninha veio atrás de mim, só que eu não “tava” passando bem devido o tanto de biscoito que comi.  Eu até falei pra ela não ficar muito perto de mim porque eu ia acabar chamando o Juca; e nisso ela foi embora mesmo.

Escureceu e montamos nessa caminhonete igual porco. Chegamos em Santo Antônio do Monte  cheio de poeira. Que sofrimento!  O povo tudo rindo da moreninha que engarranchou no pescoço e que nem os pés colocava no chão.

Resultado, eu nunca mais vi essa moreninha cor de “cuia véia”, ela também não me viu.  E essa ida ficou na história, porque até para brincar de reinado a coisa era feia para o meu lado.

 

 

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