Homem queimado em canavial – Polícia Civil faz reconstituição do crime em Lagoa da Prata
A reconstituição aconteceu em uma antiga boate, localizada às margens da MG 170, e em um canavial, localizado próximo à saída de Lagoa da Prata
Da Redação do Jornal Cidade
A Polícia Civil de Lagoa da Prata realizou nesta sexta (10) a reconstituição de um homicídio ocorrido em novembro de 2016. Os suspeitos foram presos pouco tempo após o fato e foram apresentados no dia 19 de janeiro. Na época do crime, o corpo foi encontrado carbonizado em um canavial de Lagoa da Prata. Por meio do laudo de necropsia foi encontrada fuligem no pulmão da vítima, o que indica que quando ele havia sido queimado ainda estaria vivo.
Com a reconstituição, foi possível elucidar algumas questões que ainda estavam sem respostas ou com dualidade em depoimentos. Os suspeitos do crime, conforme explicou o delegado Leonardo Mota, tem a obrigatoriedade de estarem presentes na reconstituição, mas não necessariamente de participar. “Eu sugeri a participação para que não sobressaíssem dúvidas, mas depende deles”, afirmou.
A reconstituição teve início em uma antiga boate, localizada às margens da rodovia MG 170, onde a ação contra a vítima teve início. No local, uma das mulheres, que teve a soltura decretada por não ter participação direta no crime, contou a sua versão. Logo depois, um menor, que teve participação no crime, explicou a sua versão, e só então, outra mulher, que ainda está presa, contou mais detalhes. O outro rapaz, maior de idade, que teve envolvimento no crime e está preso, estava presente, mas não quis participar.
De acordo com uma das mulheres, a vítima estava dormindo em um dos quartos da boate, acordou e foi pedir um cigarro para a outra mulher (que ainda está presa), eles conversaram e ele saiu. Nesse momento, o maior deu uma gravata nele e ele desmaiou. Desmaiado, o maior e o menor deram garrafadas na cabeça dele.
“Eles agrediram muito a cabeça da vítima. Ele ficou muito machucado. Aí outra mulher foi lá no quarto e pegou um colchão para colocar o corpo dele, mas ele ainda estava vivo. Depois, eles colocaram a vítima no maleiro do carro junto com o colchão. Eu não ajudei a carregar o corpo, só lavei o local que tinha ficado sujo de sangue. Na verdade, nós fechamos o carro com ele lá dentro e voltamos para lavar o local”, afirmou.
Na versão da outra mulher, ela estava de trás do balcão onde a vítima chegou pedindo um cigarro, e a outra mulher estava do lado de fora do balcão tomando uma cerveja.
“Eu só ficava atrás do balcão. Até então, eu não sei o que realmente aconteceu. A vítima estava dormindo e quando acordou me pediu um cigarro, e eu dei. Ele saiu falando no telefone, mas não sei com quem era. No que ele saiu, o menor e o maior saíram atrás dele. Nesse momento, a outra mulher também ficou aqui perto de mim, ela selecionou algumas músicas e saiu andando pra lá. Quando ela chegou até a porta ela viu um dos indivíduos dando uma gravata na vítima. Quem foi eu não sei porque eu não vi. Enquanto eu dei a volta para sair de trás do balcão os dois já estavam trazendo o corpo para a frente. Depois os dois pegaram uma garrafa e meteram na cabeça dele. Com aquilo ali eu fiquei apavorada e só ouvia alguém gritar: Pega o colchão”, afirmou.
Ela também disse que ela mesma pegou um colchão de solteiro e foi até o carro.
“Quando cheguei no carro o maleiro já estava aberto, mas não sei quem abriu. A chave sempre ficava atrás do balcão, mas eu nem sei dirigir. Eu, simplesmente, coloquei o colchão no maleiro e os dois colocaram o corpo e fecharam o carro. Depois, apavorados, nós quatro começamos a lavar o salão. Entramos os quatro dentro do carro que estava a vítima e saímos sem destino e chegamos no local (o canavial). Eu não sei quem pegou o galão de gasolina para colocar o fogo”, explicou.
Segundo o advogado das mulheres, Alexandre Menezes, apesar de não ter tido acesso aos autos ainda, ele crê que a participação das duas seja de pouca importância.
De acordo com o menor, quando eles chegaram no canavial ele tirou o colchão do carro, e todo mundo desceu, menos uma das mulheres. “A vítima estava gemendo, e o maior dizia que íamos colocar fogo, mas não vi quem pegou o galão de gasolina na boate. Riscamos e pegou fogo em tudo”, disse.
Uma das mulheres disse que ela estava fora do carro e em pé, quando o menor pegou o colchão e jogou em cima do corpo e pediu um isqueiro. “Quem jogou a gasolina e colocou fogo eu não vi. A vítima estava praticamente morta e muito machucada. Depois que fiquei que ele ainda estava vivo. Saímos dali e todos foram calados. chegamos na boate e eles foram beber, mas eu já tinha parado. Colocaram umas músicas e outras pessoas chegaram. Alguém notou, porque não existe lavar salão de madrugada. Depois que todo mundo saiu, nós pegamos dois cobertores e fomos para o bairro Gomes, onde dormimos em uma construção, dentro do carro. Voltamos para a boate por volta das 7 horas da manhã, todo mundo calado, ninguém comentou nada”, afirmou.
Conclusão do delegado
Segundo o delegado Leonardo Mota, a reprodução simulada dos fatos foi, justamente, para dirimir algumas dúvidas em relação a algumas divergências dos investigados. “Hoje foi importante para que nós conseguíssemos visualizar melhor como se deram efetivamente os fatos e a real participação de cada um nessa sequência”, destacou.
Mota ainda destacou que esse procedimento não é obrigatório, mas normalmente é utilizado quando há a necessidade de dirimir algumas dúvidas que existem em versões, pois são confrontados em depoimentos o local dos fatos para saber exatamente como as situações aconteceram e se aquela forma de execução era possível de ser realizada. “Houve divergências, mas mais convergências que, para mim, para fins de conclusão de procedimento. Ficou apurada a participação do menor infrator, uma das mulheres participou efetivamente na execução do crime tanto na boate quanto na incineração do corpo no canavial. Não foi possível constatar a participação de uma das investigadas, tanto é que na última semana eu representei pela soltura dela e foi inclusive deferida pelo Juiz. Os outros autores serão indiciados por homicídio qualificado, fraude processual e corrupção de menores”, destacou.