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Helder Clério, poeta lagopratense, lança seu segundo livro, ‘Diamantes e Dinamites’

A publicação é uma seleção de poesias que ele escreve desde 2015. O livro pode ser adquirido pela editora ou diretamente com o autor.

Em toda a literatura, quiçá, em toda a arte, poucas formas de expressão oscilam com tanta naturalidade entre os opostos – leveza e brutalidade, beleza e estranheza, perfeição e marginalidade – como a poesia. Não à toa, o novo livro do lagopratense Helder Clério se chama “Diamantes e Dinamites”, evidenciando os contrastes com os quais o gênero, frequentemente, trabalha.

O autor, que se chama humildemente de poeta amador, também é músico e tem formação em psicologia. Ainda não há data para o lançamento oficial do livro, mas entre agosto e setembro, Helder pretende organizar pequenos eventos para a divulgação, como lives, saraus e participação em feiras literárias. 

Este é o seu segundo livro publicado. O primeiro, “Delírios Periféricos de um Oeste”, foi uma produção colaborativa, escrita com seus amigos poetas Gabriel Guma e Daniel Ribeiro de Melo em 2016.

Ao Jornal Cidade, Helder Clério revelou alguns detalhes sobre as influências e intenções de “Diamantes e Dinamites”, bem como o que ele pensa do papel da poesia e da leitura nos dias atuais. 

Jornal Cidade: Este é um livro inspirado por Charles Baudelaire. Quando foi o seu primeiro contato com o autor e como ele influenciou sua escrita?

Helder Clério: O “Diamantes & Dinamites” é um livro que está sendo lançado pelo Selo Starling, de Belo Horizonte dentro de uma coleção chamada “Flores do Caos”, feita em homenagem aos 200 anos de nascimento do grande poeta francês Charles Baudelaire.É uma coleção com 12 livros, de 12 autores de todo o país, que possuem alguma afinidade com o Baudelaire.

A primeira vez que ouvi falar do Baudelaire foi em um documentário sobre os Rolling Stones, em que o Mick Jagger fala da influência da leitura do Baudelaire na composição da música Sympathy for the Devil, um clássico da banda. A partir daí me interessei pela poesia dele, li muita coisa. Com certeza é uma grande influência para minha escrita. O Baudelaire é um poeta tido como marginal,maldito. Vejo ele como um poeta rock’n roll. É um dos primeiros a poetizar o cenário da cidade com todas suas contradições: a beleza ao lado da feiúra, a harmonia ao lado da violência, o luxo ao lado da miséria.

Ele inaugurou também a noção do flanêur, que basicamente é um sujeito que anda pela cidade, num certo tipo de vadiagem atenta, observadora, e a partir do que vê e experimenta, cria sua arte. Quem tiver a oportunidade de ler meu livro, vai perceber que essa ideia me influencia muito, pois minha poesia expressa muito do que vejo e sinto nas minhas andanças.

Jornal Cidade: O título é o nome de uma das poesias do livro? Como surgiu a ideia?

Helder Clério: O título faz menção a uma série de 3 poemas que estão no livro, chamada “Caminho dos Diamantes”, que escrevi durante uma viagem que fiz de Diamantina a Ouro Preto há alguns anos. No mais, penso que esse título é uma tentativa de síntese da minha proposta poética: algo belo e precioso como um diamante e, ao mesmo tempo, intenso, explosivo, como uma dinamite.

Quanto à ideia do livro, na verdade trata-se de uma seleção de poemas que venho escrevendo desde 2015. Venho escrevendo e organizando esses poemas há alguns anos, então quando soube da Coleção “Flores do Caos”, do Selo Starling, fiz essa seleção e enviei. Eles gostaram, quiseram lançar e eu achei uma beleza.

Capa do livro. Imagem de divulgação.

Jornal Cidade: Este é seu segundo livro publicado. Você percebe algum amadurecimento em sua escrita entre o primeiro livro e este?

Helder Clério: Sim, esse é meu 2º livro de poesias, e eu percebo um grande amadurecimento meu enquanto poeta desde o 1º livro. Primeiramente, porque tive a oportunidade de ler muita poesia e ouvir muita música desde então, muita coisa nova. Cada nova leitura, cada nova canção que se ouve traz novas nuances, novos truques para se escrever. E em segundo lugar, penso que há uma caminhada minha no sentido de encontrar um estilo próprio, uma voz própria. Algo mais “meu”, mais genuíno, apesar de a voz própria de um poeta se formar a partir de várias outras vozes, naturalmente. Um poeta é, sobretudo e antes de tudo, um leitor atento.

Jornal Cidade: O que, no geral, te inspira a escrever poesias? Aliás, por que poesia?

Helder Clério: O que me inspira a escrever poesias geralmente são cenas, situações que vivo e me tocam de alguma forma especial: uma viagem com amigos, uma ida à cachoeira, um momento especial com minha esposa, com meu filho, uma cena que observei num bar, um devaneio que surge no meio do dia no trabalho, etc. A partir dessa primeira fagulha de inspiração, eu coloco algumas palavras no papel e vou as ajeitando até ficar numa forma legal, bonita, numa forma de poema.

Quanto à segunda pergunta, eu optei por usar a poesia para me expressar porque é um tipo de linguagem muito forte, muito potente e que alcança um nível de beleza que nenhuma outra consegue, ao meu ver. É uma linguagem que tem relação com o inconsciente, com os mitos, com os sonhos, e por isso é algo que toca diretamente no afeto, sem passar pelo filtro da racionalidade. Os cantos dos índios, as orações, as mandingas, as benzeções, as canções de ninar, as cantigas populares, são poemas. É uma linguagem arcaica, profunda.

Além disso, é sempre bom lembrar que a poesia tem uma relação íntima com a música: as letras de música são, antes de tudo, poemas, porque levam em conta a questão do ritmo das frases, das rimas, da sonoridade das palavras. “Conhecer as manhas e as manhãs, o sabor das massas e das maçãs…”, por exemplo, é uma frase poética linda, que além do sentido que expressa, usa a beleza da sonoridade das palavras, brinca com as palavras. Isso é poesia.

 

Jornal Cidade: Como você vê o espaço e a importância deste gênero literário neste atual  momento da sociedade, marcado pela atenção à praticidade, à rapidez e à ação, em detrimento da contemplação e da reflexão?

Helder Clério: Eu vejo que a poesia é uma forma de arte que vai no sentido contrário ao ritmo da vida da maioria das pessoas de hoje, que geralmente é um ritmo muito rápido, apressado, corrido. A poesia exige de quem lê uma outra disposição do espírito, uma abertura à contemplação, um tempo mais dilatado, mais lento.

Um outro ponto que me parece interessante é que hoje há uma valorização tremenda do aspecto prático, objetivo, da utilidade das coisas. Parece que a gente sempre está sendo instigado a usar nosso tempo de uma maneira útil, prática, porque a gente é cobrado a ser a melhor versão de nós mesmos, e toda essa bobagem de gerir a própria vida como se estivesse gerindo uma empresa. E a poesia é uma coisa que vai no sentido oposto a isso. O Manoel de Barros dizia que a poesia é a virtude do inútil, e eu concordo com ele. A poesia não tem utilidade nenhuma e essa é sua maior qualidade, porque ela nos habitua a dar valor ao prazer gratuito das coisas, àquilo que não tem valor prático, utilitário. E isso é uma salvação.

Helder Clério é natural de Lagoa da Prata/MG. É músico, poeta e atua profissionalmente como psicólogo. (Foto: arquivo pessoal/Divulgação)
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