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Festas clandestinas preocupam poder público e forças policiais em Lagoa da Prata

Enquanto gestores, produtores culturais e agentes de fiscalização tentam inibir a realização de festas clandestinas, jovens acusam falta de políticas públicas voltadas ao lazer e entretenimento. Métodos utilizados pelos organizadores das festas dificulta atuação dos agentes de fiscalização

Alan Russel

Durante o período de confinamento social em decorrência da pandemia da covid-19, um fenômeno que chamou a atenção das equipes de fiscalização e forças polícias foi o aumento significativo de festas clandestinas. Em Lagoa da Prata, este modelo de festa que já era realizado de forma ilegal antes da pandemia, tomou proporções ainda maiores. Por mais que as forças polícias trabalham para coibir, é cada vez mais difícil saber quando e onde acontecem as festas clandestinas.

Em Lagoa da Prata existem centenas de sítios e chácaras espalhadas pela zona rural do município, e na maioria das vezes são nesses locais onde acontecem as festas. Outro fator que dificulta o trabalho das forças polícias, é que os organizadores estão cada vez mais atentos com o intuito de evitar a atuação dos fiscais e da polícia. Para dificultar o trabalho dos agentes, os organizadores divulgam o local da festa pouco tempo antes do início do evento.

Poder público condena festas clandestinas

O secretário de Cultura de Lagoa da Prata, Antônio Cláudio Tatau, afirma que a gestão é contra as festas coletivas, porém, ainda não existe uma força tarefa para coibir a realização dos eventos.

“A gestão municipal enxerga com maus olhos os eventos clandestinos, uma vez que eles trabalham na ilegalidade, não pagam impostos, não geram empregos e geram riscos aos jovens que frequentam. Não existe nenhum tipo de fiscalização, presença de brigadistas, ambulância, autorização do Corpo de Bombeiros e não há controle sobre o consumo excessivo de drogas e bebidas para menores de idade. Em caso de algum problema é muito difícil responsabilizar as partes que organizam este tipo de evento, porque os organizadores trabalham às escuras, com divulgação do local minutos antes do início do evento, para assim burlar qualquer tipo de fiscalização. Hoje não existe uma política unificada neste sentido. Já houve reuniões tratando deste assunto, mas por enquanto não temos algo definitivo como forma de combater essas festas clandestinas”.

Tatau, que também é produtor de eventos com atividade reconhecida em Lagoa da Prata, diz que as festas clandestinas trazem prejuízos aos produtores de eventos legalizados.

“Os produtores culturais de Lagoa da Prata e toda região que trabalham dentro da lei sofrem muito com esses eventos clandestinos, uma vez que pagamos impostos, projetos, alvarás, empregamos pessoas e muitas das vezes somos lesados pela clandestinidade. Os produtores culturais em geral ficam de mãos atadas em relação a fiscalização, visto que como citado acima, todas as informações dos eventos se dão minutos antes do mesmo acontecer, o que dificulta uma ação judicial”, completou Tatau.

Foto: Ilustrativa.

Associação Mineira de Eventos e Entretenimento

Quem também falou com a reportagem do JC foi Rodrigo Marques, presidente da Associação Mineira de Eventos e Entretenimento (AMEE), que tem sede em Belo Horizonte. De acordo com Rodrigo, a preocupação maior da AMEE é com relação a saúde e falta de segurança nas festas clandestinas.

“Os eventos clandestinos tem aumentado a cada semana, as pessoas não estão aguentando ficar mais dentro de casa. O maior problema é que as pessoas que estão promovendo estas festas não pensam na segurança e saúde do público. São pessoas amadoras querendo tirar proveito da vontade das pessoas de ir em eventos, e com o baixo efetivos de funcionários para fiscalizar, eles geralmente soltam o local da festa minutos antes, dificultando a fiscalização”.

Jovens defendem a realização de eventos alternativos.

A reportagem do Jornal Cidade também conversou com dois jovens que costumam frequentar festas clandestina e indicam que existe muito preconceito com relação aos eventos que ocorrem na maioria das vezes em área rural da cidade.  Bruno* alega que o crescimento das festas clandestinas está ligada a falta de políticas públicas voltadas ao lazer e entretenimento para os jovens de Lagoa da Prata.

“Não adianta ninguém condenar o pessoal que organiza as festas. Se não for esse pessoal realizar os relas, o que vai ter pra fazer na cidade? Aqui quase não tem nada. A Prefeitura não organiza evento nenhum para a diversão dos jovens da cidade. Se depender do prefeito só tem dois eventos no ano, que é show no dia do trabalhador e no aniversário da cidade”.

O jovem também aponta que não entende o motivo de tanta repressão com relação às festas clandestinas, uma vez que essas festas acontecem na grande maioria das vezes em sítios e chácaras na zona rural de Lagoa da Prata.

“E outra coisa: as festas não incomodam ninguém. A galera realiza as festas nas roças justamente para não incomodar. Tem som automotivo sim, tem barulho sim, mas não tem vizinhança. Vamos pra roça é pra isso mesmo. Para não correr risco de incomodar ninguém na cidade”, completou o jovem que não quis se identificar.

Para João* existe muito preconceito e hipocrisia ao tratar das festas clandestinas em Lagoa da Prata. De acordo com o jovem de 24 anos que também não quis revelar a identidade, a questão da aglomeração em festas clandestinas no período da pandemia é apenas uma cortina de fumaça para atacar a iniciativa dos organizadores.

“Vejo muita gente condenar a aglomeração das festas, mas são as mesmas pessoas que se aglomeram em outros lugares. Pra quem tem carro e dinheiro é muito fácil pegar a estrada e ir pra Escarpas, pra Furnas, pra Praia. Lá o povo se aglomera do mesmo jeito. Agora quando a aglomeração é nas festas das roças aqui em Lagoa todo mundo condena. É um bando de hipócritas. Porque aglomeração em Furnas é bonito e quando é nos relas todo mundo vem apontar o dedo?”, indaga o jovem.

*Bruno e João são nomes fictícios, de jovens que frequentam as festas e que preferiram não se identificar.

 Operações da Polícia Militar contra festas clandestinas

A Polícia afirma ter percebido o aumento de festas clandestinas durante o período da pandemia em Lagoa da Prata. De acordo com a corporação, a PM está atendendo as ocorrências de acordo com o efetivo.

“Com o advento da pandemia da covid-19, temos recebido uma demanda muito grande de denúncias referente ao descumprimento dos decretos em vigor. Grande parte dessas denúncias são relacionadas às aglomerações de pessoas, consumo de bebidas alcoólicas em vias públicas e perturbação do sossego alheio. Estamos atendendo as ocorrências que conseguimos, de acordo com o nosso efetivo, e seguiremos dentro de nossas possibilidades, atuando para conter a propagação da covid-19. Contamos com a ajuda da comunidade para que continuem denunciando e fazendo sua parte, respeitando o isolamento social”.

A Polícia Militar explica por que a população deve evitar participar desses eventos e os riscos em festas clandestinas.

“A população, sobretudo os jovens de modo geral, devem entender que esse tipo de festa não possui fiscalização nenhuma por parte do poder público e qualquer tipo de pessoa pode estar ali no meio, desde pessoas de boa índole, até indivíduos em conflito com a lei, indivíduos esses que podem estar armados e portando drogas. Assim, os pais também devem fazer a sua parte procurando saber onde seu filho está, uma vez que ele pode estar frequentando uma festa dessas e correndo um sério risco de ser alvejado por um disparo de arma de fogo em possíveis brigas ou até mesmo se envolver com drogas ilícitas.

A PM afirma que caso haja o flagrante, o organizador da festa pode responder pela contravenção penal de perturbação do sossego e pelo crime de fornecimento de bebidas a menores, sendo inclusive preso. O proprietário do local ainda poderá responder administrativamente perante a Prefeitura, pela exploração comercial do lugar onde a festa ocorre sem ter o devido alvará competente. Menores de idade que estiverem fazendo uso de bebida alcoólica ou drogas, poderá ser apreendido e entregue apenas aos pais ou responsável.

Foto: Ilustrativa.
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