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EXCLUSIVO: Pesquisadores independentes avaliam os riscos da pulverização aérea com maturadores em LP

Fotos: Arquivo Pessoal

O Jornal Cidade conversou com quatro pesquisadores especialistas no assunto. São profissionais independentes que não possuem nenhum vínculo com a Biosev

A Câmara de Lagoa da Prata está a analisar um projeto de lei que permite o lançamento de reguladores de crescimento (conhecido popularmente como maturadores) e adubo nas lavouras do município por via aérea. A iniciativa de propor novas regras partiu da Biosev, que pretende obter a autorização para aplicar o maturador Moddus e adubo. Executivos da empresa argumentam que a legislação atual compromete a competitividade da companhia no mercado sucroalcooleiro, que passa por dificuldades com o fechamento de várias usinas pelo país. A lei atual que proíbe o lançamento por aeronaves gera consequências negativas para a economia da cidade, que deixa de receber impostos advindos do aumento de produção e diminui a oferta de postos de trabalho.

O Jornal Cidade conversou com quatro pesquisadores especialistas no assunto. São profissionais independentes que não possuem nenhum vínculo com a Biosev. Veja a seguir a avaliação deles sobre o tema:

Pedro Jacob Christoffoleti

Pedro Jacob Christoffoleti

Engenheiro Agrônomo, Mestre em Agronomia pela USP, Doutor em Weed Science pela Universidade do Estado de Colorado (EUA), professor e pesquisador da USP (Universidade de São Paulo).

“Os maturadores são aplicados com o intuito de incrementar o teor de açúcar na cana e a usina obter melhor produtividade. Existem vários tipos de maturadores. Alguns são baseados em herbicidas e são agrotóxicos. Porém, outros são baseados em reguladores de crescimento vegetal. Esses são inofensivos à saúde humana. São produtos químicos, mas não têm efeito maléfico, são iguais aos adubos.

Esses maturadores, em especial o Moddus, não têm nenhum efeito prejudicial à saúde, nem mesmo na eventualidade de se fazer uma aplicação errada com avião. Eu entendo que esse produto realmente é seguro, é inofensivo à saúde. Mas é claro que tem de ser aplicado conforme as normas regulamentares de aplicação aérea, obedecendo as condições de vento e todos os preceitos necessários. Neste caso, posso lhe garantir que não tem nenhum efeito à saúde humana. Mas existem alguns produtos, como o glifosato, que são derivados de agrotóxicos. Eles são recomendados também na prática agrícola, mas tem um efeito na saúde se aplicados de forma incorreta. Se eu fosse legislador, não teria dúvida em aceitar a aplicação do Moddus”.

Robson Rolland Monticelli Barizon

Robson Rolland Monticelli Barizon

Pesquisador da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa em Agropecuária), Engenheiro Agrônomo, Mestre e Doutor em Agronomia.

“O município está sendo mais rigoroso que a Legislação Federal, que permite a aplicação aérea e estabelece o limite de 500 metros para povoado, mas permite a aplicação (o novo texto em análise na Câmara prevê a distância mínima de mil metros). Para alguns produtos existem restrições específicas no âmbito da Legislação Federal, mas de modo geral é permitido. Na nossa visão aqui, pode ser utilizado e existem riscos inerentes à aplicação, mas se esta for feita dentro dos padrões técnicos rigorosos e criteriosos, esses riscos são minimizados. Uma aplicação bem feita apresenta riscos muito baixos, principalmente no caso de maturadores, que o risco é ainda mais baixo. Agora, pode existir risco? Pode, se o equipamento estiver fora da especificação, se o equipamento de pulverização não estiver com a manutenção adequada, se as pontas de pulverização estiverem fora da validade. A preocupação é muita no sentido de que as empresas que vão atuar precisam estar dentro desses padrões, e estando dentro, o risco é muito baixo. A aplicação aérea traria para a empresa um benefício muito grande, pois conseguiria programar a colheita e escalonar melhor a chegada da cana na usina para a moagem, trazendo uma série de benefícios para ela e, indiretamente, para o município pela melhora do desempenho”.

Antônio Chalfun Júnior

Antônio Chalfun Júnior

Professor da UFLA (Universidade Federal de Lavras. Graduado e Mestre em Agronomia, Doutorado e Pós-Doutorado em Biologia Molecular de Plantas.

“De uma forma bem genérica, toda a aplicação deve ser feita com os devidos cuidados, ou seja, com a utilização de equipamento de proteção individual e coletiva. Nisso, tenho a certeza de que a empresa faz e de que não vai se descuidar. Como qualquer outra coisa, até a gente brinca, se você beber água demais vai te fazer mal. Então, os cuidados sendo tomados, o risco é mínimo, partindo do princípio que estes cuidados são tomados, tanto na parte ambiental, e que a quantidade de doses seja levada em consideração, ou seja, não vai ter o uso inadequado de doses.

A empresa fazendo as aplicações da maneira correta, não há problema. Não conheço alguma cidade que tenha uma legislação tão restritiva quanto essa de Lagoa da Prata.

As pessoas às vezes confundem. Muita gente tem medo porque desconhecem. O medo é a falta de conhecimento. A partir do momento que você tem conhecimento fica tranquilo. É igual dirigir um carro. Você vai dirigir sem saber? Você vai ficar com medo e vai bater. A partir do momento que você conhece e sabe o que está fazendo o risco diminui, e isso é em qualquer atividade”.

João Paulo Arantes Rodrigues da Cunha

João Paulo Arantes Rodrigues da Cunha

Professor da Universidade Federal de Uberlândia. Graduado em Engenharia Agrícola, Mestre, Doutor e pós-Doutorado em Tecnologia de Aplicação de Produtos Fitossanitários, autor do livro “Manual de Aplicação de Produtos Fitossanitários”.

“O Moddus é um produto extremamente seguro. Não é um fungicida ou inseticida, ele é um regulador de crescimento. O produto é aplicado, no caso específico da cana, para uniformizar e adiantar a maturação e, além disso, se consegue aumentar os níveis de sacarose da cana. É um dos produtos mais seguros em termos de regular o crescimento. Ele não será aplicado para matar inseto ou fungo, na verdade, ele atua na planta de forma a adiantar a maturação. A cana, na medida em que vai sendo colhida, também vai sendo processada. As usinas precisam ter um planejamento para que ela tenha cana durante todo o ano. Aplica-se o maturador em diferentes doses para garantir que ela comece a colher por volta de março ou abril, dependendo da usina, e vai conseguindo colher até próximo de dezembro. Então, o produto atua dessa forma, para regular o crescimento da planta, mas não é um produto que tenha ação toxicológica direta sobre seres vivos.

Hoje existe uma Lei Federal que estabelece distâncias mínimas de 250 ou 500 metros em relação à cidade e a fluxo de água para que se tenha, de certa forma, uma garantia de que nenhum tipo de problema possa ocorrer. Pelo que você me disse, os vereadores daí colocaram uma distância de mil metros, praticamente, dobrando o nível de segurança, que já é bastante seguro. Existem muitos mitos em relação à aplicação aérea que na verdade é uma aplicação controlada como outra qualquer.

Costumo dizer que é mais ou menos como um acidente de carro, onde se morre muita gente. Se a solução é proibir todo mundo de andar de carro, não seria a mais adequada. Nós temos que ter é fiscalização. A aplicação de maturadores em cana é extremamente importante do ponto de vista econômico para a sobrevivência da usina. E como a usina tem uma importância muito grande economicamente em termos de impostos e emprego para a própria população, a aplicação é importante para dar uma sustentação maior para toda a operação. Precisamos, na verdade, é ter controle do que se está fazendo. Já foi colocada essa distância de mil metros, ou seja, já estão dobrando a segurança da aplicação. Então, passa a se tornar uma operação extremamente segura.

Hoje existem muitas formas de se ter o controle. A própria aeronave tem como registrar exatamente onde ela está passando e se amanhã alguém vir falar que passou em cima da casa do senhor José, é só a pegarmos os registros dos voos da aeronave e verificar por onde ele passou. Na verdade, quando a aeronave vai iniciar o voo ela recebe os pontos georrefenciados e, a partir daí, ele vai registrar 100% da rota. Então, desde o momento que ela sai da pista até o momento que ela retorna para ela sabe-se exatamente onde foi aplicado, onde a aeronave fez as manobras. Principalmente, nessa distância de mil metros dá uma segurança muito maior. Lagoa da Prata está em um nível de segurança muito maior que em todo o estado de São Paulo, que faz a aplicação de maturadores. Existem problemas, de fato existem, como qualquer coisa na vida tem gente que faz bem feito e tem gente que faz mal feito. É preciso que a usina contrate empresas idôneas para garantir a qualidade do serviço prestado”.

 

Leia também: Biosev convoca coletiva para explicar nova proposta que permite aplicar maturadores por via aérea

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