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Doutor Ciro e a tampinha de garrafa | Artigo

O Doutor Ciro para a nossa família sempre foi uma pessoa muito especial. Minha vó, Dona Fia trabalhou na Clínica Nossa Senhora de Guadalupe durante muitos anos.

Quando criança perguntei ao Doutor Ciro como fazer com o meu nervosismo. Disse a ele que andava muito nervoso: tudo que colocava a mão se quebrava; deixava prato cair, copo.

Pensei que ele então iria receitar-me um remédio qualquer. Para isso contei-lhe a minha dificuldade. O Doutor Ciro abaixando os óculos, sentou-se na cadeira, pedindo que também me sentasse. Perguntou se eu ficava mais nervoso a noite ou durante o dia. Disse a ele que era durante o dia. Se era de manhã ou à tarde. Disse que era pela segunda parte da manhã, talvez 10 ou 11 horas da manhã.

Ele então afirmou que era talvez distúrbio de sono e que muito provavelmente teria que adaptar a minha vida aos horários ou então procurar auxílio para controlar a questão do sono e conseguir me manter alerta nos horários que precisasse.

Que o ideal será procurar um psicólogo. Mas até que me levassem ao psicólogo, que eu pudesse atende-lo num ponto apenas. Que, pela manhã, logo após tomar banho para ir à escola, que colocasse uma tampinha de garrafa dentro do sapato. Que logo após fazer a experiência, que o procurasse para contar-lhe sobre a experiência.

Na primeira oportunidade de reencontrá-lo, ele pausadamente sorriu, dizendo com a sua voz grave e sulista, que iria anotar as respostas que lhe desse acerca do ocorrido.

Contei-lhe que nervoso estava e continuei. Que aquela droga de tampinha na verdade não havia me acalmado em nada. Que senti incômodo durante toda a aula, no recreio, na merenda, na hora de aguar a horta e também para ir embora. Que não consegui chegar em casa com a tampinha dentro do sapato e que, portanto, nas proximidades da bicicletaria do Mikita, tirei o sapato e lancei a tampinha fora. Que cheguei em casa e agi como de costume.

Após dizer estas palavras, o Doutor Ciro me fez duas perguntas: Primeiro, perguntou-me se me lembrava de quem, naquele dia havia me feito raiva. Depois perguntou-me se eu havia me magoado com alguém.

Após pensar nas perguntas que ele havia me feito, levantei-me e, saudando sua sabedoria, agradeci a consulta gratuita e saí da sua presença curado a respeito do nervosismo e sem nenhum tipo de remédio.

Entendi que, na verdade, o nervosismo é algo comum. É uma reação do corpo ante uma situação conflitante. Que o que importa mesmo é o que você faz com o nervosismo e não o que ele faz contigo. Que o que importa mesmo é passar pelas pessoas sem deixar nenhum tipo de mágoa, sem humilhar ninguém, sem brigar com ninguém.

Que você leve de todos a melhor impressão de todas as pessoas com as quais conviva, e que as pessoas levem também a melhor impressão nossa também.

Que cada um tem a sua tampinha dentro do sapato, cada um tem algo que o incomoda, que o deprime, que o angustia… Que tampinhas são colocadas dentro dos nossos sapatos todos os dias por nós mesmos. Que consigamos verificar qual é a nossa tampinha no sapato e jogá-la fora, e nos livrarmos daquilo que nos incomoda. Histórias que o povo conta…


Isaías Santos
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