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Dona Licota | Artigo

Foto: Arquivo Pessoal

Para mim uma tia muito honrada, de semblante severo, voz doce. Sempre tratava o meu tio de “Seu Oliveira”, seu esposo, meu Tio Oliveira, irmão de minha avó, Dona Fia. Sua história de vida é fascinante.

Um exemplo, de vida ilibada, esposa incrível, irmã dedicada, mãe excepcional, uma avó inigualável, uma amiga sempre presente, uma vizinha especial, uma tia interessante.

Perdeu a mãe muito cedo. Muito jovem, com um irmão mais velho que ela e quatro pequenos, dois de tenra idade, talvez três, talvez dois anos: Odário, Nicomendes, Etelpano Garcia, Giovane Graciano, Deusdete e Neuza. A Licota cuidou de todos, com zelo, com disciplina, com trabalho. Morava num bairro antigo chamado “Poção”, hoje Américo Silva, nas imediações de onde se encontra a Phalab. (Eliana, filha)

Casou-se com Oliveira, o qual acolheu a todos, auxiliando no que pôde. Todos se tornaram pessoas de muita honradez, com alguns dos irmãos da Dona Cota (assim eles a chamavam) chegando aos mais altos postos da Polícia Militar de Minas Gerais.

Seus filhos: Eliana, Elaine (Branca), Elias (Ripa) e Elizeu (Zeu). Seus netos: Angélica, Thais, Homero (Juca), Gustavo, Luísa, Ian, Luciana, Helena,  Amanda, Elias Junior e Artur. Bisnetos: João e Heitor. (Elizeu, filho)

Possuía uma elegância ímpar, sempre admirada por todos da família e amigos. Não era vaidosa, sim cuidadosa com a aparência, cheia de cremes, talcos e perfumes. Cuidava do cabelo, gostava de sair sempre penteada e bem vestida, com modéstia. Costureira, fazia suas próprias roupas, vestindo a todos da família da mesma forma, com desvelo, com atenção. (Eliana, filha)

Quando a família se reunia, era um fazer em quitandas formidável: pamonha, bolo, mingau, batatas fritas. Cozinhava divinamente bem. Dificilmente você encontrará alguém que tenha ido até a casa da Tia Licota e não tenha saboreado alguma de suas quitandas, bolos, biscoitos, ‘bolinhos de chuva’, pães de queijo ou broas. (Taís, neta)

Seu carinho com os netos (e amigos dos netos) era de uma amabilidade sem igual. A casa da Tia Licota se transformava num refúgio para os netos e sobrinhos brincarem. De quando em quando, também por ali aparecia, às vezes com o “Leco”, da Tia Luci, pra tomar café, poucas vezes pra trabalhar. Ficávamos todos a nos divertir. Quando a ‘meninada’ aumentava muito, Tia Licota ‘mandava alguns embora’, para diminuir a bagunça. Eu não. Quando perguntavam por mim ela dizia assim: “- Esse aí não (eu, no caso), esse aí é nosso!”, como se dissesse para as pessoas que eu era da família.

Tinha um senso de humor refinado. Se alguém dizia que iria em sua casa e chegasse no outro dia, ou em algum dia qualquer, ela perguntava se a pessoa havia se perdido no caminho. Se compravam um sapato novo, ela perguntava: – ué? E o que você fez com o outro? (Tais, neta)

Tinha muito prazer em receber as pessoas em sua casa. Conversava, contava causos, cantava músicas da sua infância e também hinos evangélicos. Gostava de realizar visitas aos amigos e familiares.

Seus utensílios domésticos eram impecáveis de tão limpos. Sua casa, cozinha… tudo impecável. Suas roupas no varal eram limpas, limpas… Era bonito de vê-las no varal, estendidas ao vento… Na minha casa, quando alguém dizia que alguma roupa foi bem lavada, ou estava muito limpa, faziam comparação com as roupas da Tia Licota, dizendo: “Estão tão limpas e cheirosas, que mais parecem terem sido lavadas pela Tia Licota”. (Lúcia, minha mãe)

Falava baixo, educada, nunca ouvi a tia dar um grito sequer, nunca! Seu olhar, bastava. Como eu disse, Tia Licota tinha para mim um semblante muito severo. Talvez por ser um dos sobrinhos netos mais ‘custosos’, era sempre muito severa comigo. Ao mesmo tempo, carinhosa e acessível.

Quando passei no concurso da Polícia ela se alegrou muito. Possuía orgulho. Ao me ver fardado dizia com um sorriso no rosto: “- Olha aí o nosso soldado!” Eu adorava ouvir a sua risada gostosa, ‘cheia’, sempre seguida de um sorriso muito bonito.

Não tinha qualquer palavra maldosa nos lábios. Detestava mentiras, detestava fofocas. Não se admitia tais coisas em sua casa, nem em conversas nas quais participasse. Dizia sempre a verdade, sempre expressava a sua opinião sobre as gentes ou as coisas com muita doçura, de forma muito suave. (Elaine, filha)

Aconselhava de forma lúcida e honesta, que o aconselhado saía sem dizer uma única palavra. Não precisava.

Quando do seu sepultamento, no culto fúnebre, presente o Pastor Helton Batista, Pastor da Igreja Evangélica Assembléia de Deus, da qual tornou-se membro frequente, de cuja fé testifico, usou de uma expressão muito feliz, valendo-se de um versículo bíblico encontrado em Eclesiastes capítulo 7, versículo 1, que afirma ser “melhor a boa fama do que o melhor unguento”(…)! Este texto resume bem a vida da Dona Licota, como era conhecida. Seus familiares, amigos, todos, hão de se lembrar dela com enorme carinho e saudade, vez que a sua história, seu exemplo de vida, sua “boa fama” certamente irá se perpetuar nas nossas mentes e pensamentos, nos nossos corações, constituindo verdadeira referência de vida para as demais gerações.

E agora nos resta a saudade de mais uma das nossas matriarcas da família Santos que nos deixa. Impossível não nos lembrarmos do Tio Zé Lourenço, Tia Anézia, Tio Máximo, Tia Joana, meu Pai, ‘Toninho” e tantos outros familiares queridos que já partiram, nos deixando aqui desconsolados, com aquele adeus preso no peito, aquele desejo de ter dito ou feito algo mais, que nos pudesse permitir mais um pouquinho de tempo ao lado deles, para mais um café, mais uma conversa, mais um sorriso…

Meu Tio Oliveira, quando do nosso abraço, me disse: “- Nós lutamos!” E hoje, acordei, apesar da tristeza, muito disposto. Vamos sim, meu tio, à luta!

Tia Licota, obrigado por tudo! Histórias que o povo conta…

 

Isaías Santos – autor
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