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Divisão de tarefas domésticas é passo necessário para equidade de gênero e decisivo para saúde da mulher

Segundo a psicóloga Luciene Morais, mulheres sobrecarregadas com o trabalho doméstico podem desenvolver sintomas como irritabilidade, insônia, ansiedade e até mesmo sentimento de culpa.

João Alves


Discutir sobre a atual posição da mulher da sociedade, historicamente oprimida e privada de uma vida pública plena, é entrar em um território que, constantemente, se desdobra em vários outros. Para analisar a inserção da mulher no mercado de trabalho formal, por exemplo, é necessário considerar os papéis sociais atribuídos aos gêneros – herança cultural das sociedades patriarcais – e a dupla jornada exercida por elas: antes ou após o trabalho, as mulheres geralmente ficam por conta das atividades domésticas, que executam geralmente sozinhas, em função do senso comum de que tarefas do lar são “coisas de mulher”. 

Desassociar essas três questões é correr o risco de reproduzir falas e posturas machistas e, com isso, perpetuar este ciclo de opressão à mulher que, embora não pareça, passa também pela divisão das tarefas domésticas.

De acordo com uma pesquisa feita pelo IBGE em 2017, em todas as regiões do Brasil, a mulher dedica mais horas semanais  às tarefas domésticas do que os homens. No Sudeste do país, região que fica em segundo lugar no ranking da desigualdade, atrás apenas do Nordeste,  mulheres passam 21.4 horas semanais em atividades domésticas , enquanto homens passam 11,2 horas. A média brasileira é de 20,9 horas semanais de trabalho doméstico para mulher e 10,8 para o homem, ou seja, quase a metade do tempo empenhado pelo público feminino. 

Além da desigualdade na divisão de tarefas ser uma enorme pedra no caminho rumo à equidade de gênero, ela também impacta diretamente na saúde da mulher. Por conciliarem casa e trabalho, não é raro que elas vivenciem episódios de sofrimento mental e esgotamento físico em função da dupla jornada enfrentada quase todos os dias.

Para a psicóloga Luciene Morais Batista, especialista em Neuropsicologia, Terapia Ocupacional e Cognitiva, este prejuízo na saúde mental da mulher, sobrecarregada com o trabalho doméstico, pode surgir com sintomas como: irritabilidade, insônia, comportamentos compulsivos, sentimentos de ansiedade, tristeza e até mesmo culpa.

“A inserção das mulheres no mercado de trabalho modifica toda a dinâmica familiar. Entretanto, a reorganização na distribuição de tarefas domésticas perpassa por uma ideia de papel social. Ainda está impregnado no imaginário de muitos homens e mulheres a ideia de que os cuidados com a casa estão associados ao gênero feminino”, comenta.

Luciene, contudo, pondera que, embora a desigualdade na divisão de tarefas tenha uma origem cultural, segundo a qual as tarefas domésticas eram destinadas exclusivamente às mulheres,  às vezes ela pode ocorrer pela falta de comunicação entre os cônjuges: “Em alguns casos, a má divisão dessas tarefas está relacionada à opressão. Em outros casos não. Relaciona-se mais à dificuldades de diálogo e combinados entre o casal”. 

Neste caso, a psicóloga orienta que as mulheres tomem iniciativa e tentem uma abordagem diferente. Perguntada qual o caminho para que o casal divida as atividades do lar de forma igualitária, sem pesar para qualquer lado, ela reflete sobre a importância do diálogo.

“Muitas mulheres se frustram porque têm a expectativa de que o homem tome a iniciativa de ajudar.Se ele não é proativo, ela deverá  solicitá-lo para executar as tarefas. Em muitos casos isso já resolve! Se ele resiste e a situação não se resolve, sugiro o caminho do diálogo. Impor e exigir não é um caminho interessante. Se chega nesse ponto, a relação está comprometida”, orienta Luciene.

A divisão de tarefas relacionadas à paternidade também é um assunto que merece atenção, já que impacta não só a mãe, como também a relação que o pai mantém com os filhos.

“O pai que divide com a mãe os cuidados com o filho, contribui para o bem estar da família e fortalece o vínculo com a criança. Uma criança com um pai presente fisicamente, mas pouco  envolvido em seus cuidados, pode desenvolver senso de baixa autoestima. Além disso, é possível que aprenda e repita o mesmo comportamento desse pai ao tornar-se adulto”, finaliza. 

Luciene Morais (Foto: arquivo pessoal/Divulgação)

Luciene Morais Batista é psicóloga (CRP 0437799), especialista em Neuropsicologia, Terapia Comportamental e Cognitiva.

Telefone para contato: 37 9869-9964

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