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Dina e Dona Pida | Artigo

Foto: Reprodução/Internet

Viveram na década de 60 em nossa cidade, advindas do Paraná, acompanhando o irmão, Romeu do Carmo. Romeu veio para a região acompanhando um circo e resolveu ficar por estas bandas, visando encontrar um amor, uma mulher que ele conheceu em um dos espetáculos. A mulher deu a ele o endereço. Ele terminou os espetáculos que já tinha combinado com o dono do circo e retornou para Lagoa da Prata.

Procurou a dona no endereço que ela havia cedido a ele. O dono do sítio afirmou que a família havia se mudado para a cidade (Lagoa) e ele passou então a procura-la. Romeu era dentista prático, trabalhava com fotografias, era mágico e religioso. Lia as mãos das pessoas, fazia garrafadas e logo se tornou conhecido na cidade. Era chamado pela alcunha de ‘Santo’. Viveu poucos anos nas cercanias do antigo Museu.

Suas irmãs, Dina e Pida, tinham certa idade, na casa dos 60 anos e trabalhavam com artesanato. Trabalhavam confeccionando tapetes, rendas, toalhas, artigos de cama, mesa e banho. Artigos muito bem feitos, por sinal. As senhoras mais abastadas da cidade compravam tudo que elas produziam, absolutamente tudo. Ainda, levavam para Moema, Santo Antônio do Monte e até mesmo para Belo Horizonte, para serem vendidos na feira do Barro Preto, famosa feira dos anos 60, na qual se comercializavam roupas, tecidos e materiais de artesanato referentes ao vestuário. Tal feira acabou por consolidar o Barro Preto como conhecido bairro na área do vestuário, o que pode ser constatado hoje, maior referência de roupas de Belo Horizonte.

As irmãs faziam o artesanato debaixo de uma frondosa árvore na porta de casa. Os rolos, linhas e agulhas (pontaletes) ficavam espalhados no terreiro. Uma cabaça de água e duas vasilhas de alumínio eram utilizadas pelas senhoras para matar a sede. Toda visita que se assentava ao lado delas eram aproveitadas para buscar mais água no filtro de barro na cozinha. O Romeu enchia o filtro todos os dias à noite, antes de deitar. Assim tinha água fresquinha pela manhã para encher as cabaças e vasilhas de alumínio.

Dina era mais velha que a dona Pida uns quatro ou cinco anos. Era chamada pela Pida de “Dindina”, pois além de irmã, era sua madrinha. Religiosamente, todos os dias, a dona Pida tomava a benção da irmã quando se encontravam na cozinha para tomarem café. Acordavam às seis da manhã todos os dias, tomavam café, pegavam os materiais e se assentavam debaixo da árvore no terreiro de casa.

Se chovesse, elas guardavam o material e iam fazer outra coisa. Elas não gostavam de trabalhar durante o horário de chuva. Diziam que a chuva era benção divina e que deveria ser respeitada como tal. Quando a chuva cessava, se colocavam novamente prontas para recomeçar. Uma característica marcante das duas eram suas personalidades fortes e a franqueza.

A mais velha, Dina, era muito, mas muito pessimista. Quando começavam algo dizia que aquilo era ‘pra morte’, de tão feio, de tão estranho, de tão ridículo, de tão ruim… Tudo que as pessoas se propunham a fazer como trabalho, encontravam na Dina oposta resistência.

Se alguém quisesse saber o risco de algum negócio, se dirigia à casa da Dina para ouvir os seus maus conselhos, os seus agouros, nuvens negras, sombrias da economia e os maus ventos assoprados pelo governo.

Norberto comprou uma carroça e um cavalo do Urias, seu sogro. Passando em casa de Romeu, ouviu um severo “você é doido!” da Dina. Disse que cavalo estava com aspecto de velho, que parecia que mancava, que não ia além de seis meses de serviço porque o pelo do cavalo estava caindo, sinal que estava ou doente, ou cansado; que o pé do cavalo inchava quando lhe mudavam as ferraduras; que era caro ferrar o cavalo; que carroça não dava dinheiro, que todo mundo usava carrinho de mão, que se fosse maior quantidade de material, todos usariam o caminhão do sô Daniel, que pneu de carroça furava muito e era difícil encontrar pra comprar; que as tábuas da carroça tinham que ser trocadas toda vez que apanhasse chuva em dia ímpar, em dia de sexta feira, dentre outras coisas.

Ainda bem que o Norberto não desanimou, pois acabou de criar a família e formar aposentadoria na Usina com esta carroça, até entrar na prefeitura na década de 80, quando se aposentou.

A dona Pida era pior. Pida era exagerada em tudo. Se algo estava ruim, nas palavras da Pida ficava ainda pior. Se uma pessoa ia ao hospital (Santa Casa, na época) para uma simples consulta, na boca da dona Pida a pessoa estava muito mal. Se a pessoa se internava, na cabeça de dona Pida não durava quatro meses. Se alguém conversava com a dona Pida sobre doença, ela logo se punha a encomendar a alma da pessoa. Dor de cabeça virava tumor, dor de estômago dava quatro meses de vida, dor no pé virava pé quebrado e assim por diante. Mas tinha cheiro para doença.

A pessoa ia em sua casa. Ela fitava o visitante. Se ela dissesse ‘fulano, você tem ido ao médico? Acho que você não está bem, está meio amarelo”, a pessoa podia ir bem depressa porque realmente estava com alguma doença.

A Ana do Geraldo morava em frente a esta família. De longe ela gritou para a Ana: “- Ana, vá ao médico, você não está com a cor boa não!” A Ana acreditou e foi. O doutor Carlos disse que padecia de Escorbuto, de doença na Tiróide e Caxumba mal curada, receitando a ela três ou quatro remédios diferentes, indicando que fosse procurar o Silvério Rocha para tomar injeções a fim de acelerar a recuperação. Ficou trinta dias internada.

Ao sair da Santa Casa, ao passar em frente à casa da Pida, fez o sinal da cruz e cobriu o rosto. Vai que a dona Pida achava nela outra doença.

Romeu não achou o amor perdido, entrando novamente para o circo quando este passou por esta região.

Histórias que o povo conta…

IJR/

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