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Carlos Lúcio Gontijo – Um guarda-chuva em meio à tempestade

O espaço reservado à cultura nos grandes veículos de comunicação é mínimo e nos pequenos jornais do interior, além de também restrito, é quase uma ação entre amigos, envolvendo inócuas vaidades acadêmicas. Por essas e outras, optamos por exercer a nossa atividade literária de maneira independente, contando com o apoio da família e alguns bons amigos (e são os melhores), que a literatura foi nos trazendo a cada apresentação de um novo livro.

Sob o meu ponto de vista, quando um autor, como fizemos em Belo Horizonte no dia 14 de março, doa livro infantil para instituições de ensino fundamental, o ato se inclui entre as ações de caridade. E para nós, a maior forma de ajudar ao próximo e proporcionar-lhe acesso à cultura. Foi dentro dessa filosofia, sob a crença em que a palavra é alimento para a alma, que distribuímos, gratuitamente, 600 exemplares da obra infantil “O guarda-chuva do Simão”.

Creiam, caríssimos e eventuais leitores, que tal ato nos custou um enorme esforço pessoal, pois não contamos com qualquer patrocínio, a não ser a cessão de espaço por parte da Associação Mineira de Imprensa (AMI), localizada em Belo Horizonte, através de seu presidente Wilson Miranda, que houve por bem nos prestigiar na condição de escritor que atingia seu 17º livro e que um dia presidiu aquela entidade jornalística, no triênio 2002/2005.

Por ocasião da apresentação do livro “O guarda-chuva do Simão”, que tem ilustrações do comunicador visual Nivaldo Martim Marques, homenageamos, com a entrega do troféu “Gente de Mérito”, instituído pelo nosso site Flanelinha da Palavra (neste ano completa 10 anos no ar), o casal Adílson e Ana Maria Mesquita Batista, que desde o ano de 1977, quando lançamos o nosso primeiro livro (Ventre do Mundo), nos premia com a amizade e o estímulo de sua presença.

A atitude do Adílson e da Ana, está na contramão de gente que não está nem aí para os eventos culturais, estendendo-se esse descaso e ausência às autoridades constituídas, desavisadas sobre a importância de sensibilizar e apurar o sentimento por intermédio da cultura, que é a única ferramenta capaz de transformar o conteúdo adquirido na formação escolar em alavanca de trabalho em benefício tanto da sociedade quanto do próprio detentor da informação intelectual. Sem essa união e sintonia entre educação e cultura, assistimos em muitos casos à diplomação de “doutores” mergulhados na mais absoluta ignorância, ampliando o quadro de maus e insensíveis profissionais no atendimento à população. Como costumamos dizer: a educação é o quadro; e a cultura, a moldura.

Queremos aqui agradecer a presença de muitos professores que compareceram ao evento cultural em que repassamos 20 exemplares a cada uma das escolas que nos enviaram os seus representantes. Foi com muita alegria que registramos o interesse de cidades como Brasília de Minas (três escolas) e Tocantins (seis unidades escolares), além de Belo Horizonte e Região Metropolitana, fortalecendo o meu ânimo de levar “O guarda-chuva do Simão” a Arcos e Lagoa da Prata no decorrer dos próximos dias, em datas ainda a serem marcadas.

Historicamente, saneamento e manilhas não são obras de interesse da maioria dos políticos brasileiros, que primam pela prática do atavismo administrativo de fixar placas reluzentes demarcando seus feitos. Por isso, não voltam seus olhos para as culturas de raiz; aquelas que não provocam grande aglomeração de pessoas (aos seus olhos, eleitores), mas juntam famílias e sensibilizam corações e mentes, numa conclamação à pacífica e harmônica convivência em sociedade.

Lamentavelmente, os editores de opinião dos jornais dão integral preferência para artigos que criticam as estruturas seculares em que se assentam as práticas do mundo político brasileiro, no qual parte considerável de seus quadros busca se cercar de auxiliares doutrináveis e incapazes de lhes questionar os desmandos, o que é determinante para a série suprapartidária de escândalos que assola o Brasil, passando por municípios, estados e toda a federação, como costuma acontecer com toda e qualquer epidemia.

Dessa forma, nossos meios de informação incorrem no equívoco de passar à população a ideia de que nada de bom ocorre em algum lugar, que nenhuma flor germina em meio ao lodaçal e pedras no caminho, como é o caso (por exemplo) do lançamento de um livro independente, que comete o milagre de vir à tona apesar das águas turbulentas da falta de política cultural.

No Brasil, o que aprendemos ao longo de nossa carreira jornalística e na labuta literária é que cultura não é prioridade nem quando sobra dinheiro nos cofres públicos, porque o administrador tem áreas mais importantes para investir; porém se vem crise econômica, a cultura (aí sim) é elevada a setor prioritário para cortes, com redução ainda maior dos parcos recursos que lhe destinam.

Resta-nos então, como autor independente, seguirmos em frente sem nada esperar em matéria de apoio oficial, sem nos aborrecer com as idiossincrasias acadêmico-literárias, contando apenas com a sensibilidade de cidadãos e amantes da cultura como o casal Ana e Adílson. O que já é muito e nos basta, ainda mais agora que contamos com “O guarda-chuva do Simão” para nos proteger em meio à tempestade, num país em que autoridade, quando fala de cultura, fica com o cultivo da mandioca!

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