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Carlos Lúcio Gontijo completa 40 anos de vida literária

Foto: Arquivo Pessoal

Nascido em S. A. do Monte, Carlos Lúcio já escreveu vinte livros

O autor santoantoniense Carlos Lúcio Gontijo comemorará no próximo mês 40 anos de vida literária. Formado em jornalismo, a paixão pela escrita moveu a sua vida. “O exercício da literatura e da poesia me ensinou que o sucesso se resume em conhecer o nosso propósito na vida, crescer pra atingir o nosso potencial máximo e lançar sementes que beneficiem outras pessoas. Ou seja, o principal papel do autor é mesmo escrever – todo o resto é consequência, pois na maioria das vezes o bom livro não é o mais vendido e sim aquele que tem o poder de transformar; ainda que seja uma única pessoa. Como dizia Platão, se um livro qualquer tiver um único leitor além de seu autor, já estará justificado o trabalho despendido em sua elaboração”. Em entrevista exclusiva ele fala sobre a sua trajetória e experiências profissionais.

Jornal Cidade: Como surgiu a sua paixão pela literatura?

Carlos Lúcio: Desde a minha alfabetização na Escola Waldomiro de Magalhães Pinto, em Santo Antônio do Monte, tomei a providência de experimentar o uso da palavra na elaboração de versinhos infantis em pleno acordo com os meus nove anos. Era a chegada de um dom divino a me guiar e a ser útil em minha caminhada terrestre, caso eu procurasse me empenhar, persistir e aprimorar. Então, no ano de 1977, lancei o primeiro livro (“Ventre do Mundo”), sem qualquer noção a respeito do mercado editorial. Assinei notas promissórias numa gráfica e, quando me entregaram 1.500 livros, nem sabia o que fazer com aquela papelada, pois ninguém tem à sua disposição tanta gente para desaguar poesia. Foi uma tragédia, um desespero, mas também uma grande alegria ter nas mãos o primeiro livro.

Já no seu primeiro livro as pessoas te reconheciam como um autor promissor?

Minha querida e saudosa mãe Betty se juntou a mim com o poder e a entrega materna. E então passamos a vender livro pelo telefone e de porta em porta. Naquele tempo, as pessoas abriam suas portas para receber vendedores de livros – hoje tanto não abrem suas portas, quanto também não são de frequentar livrarias. Dessa forma, com a adesão de outros amigos, com o milagre da propaganda de boca a boca, a edição se esgotou. E no embalo, escrevi o meu segundo livro (“Leite e Lua”), que teve como prefaciador o grande e importante poeta Bueno de Rivera, que me deu muitos conselhos. Aprendi com ele que o melhor parceiro de poetas e escritores é a lata de lixo. Ou seja, escreveu, não ficou bom, jogue no lixo!

Bueno me disse que não bastava ter dom, pois a arte da palavra escrita carece de constante lapidação e que todo autor deve buscar seu estilo. Pois bem, fiquei dez anos sem lançar livro algum, mas buscando o aperfeiçoamento e a construção de algo que pudesse chamar de meu. Daí escrevi o livro de poemas “Cio de Vento”, ao qual considero o alicerce de minha obra literária, uma vez que nele alinhavei o que buscava: uma escrita representativa da vida, na qual amor, desamor, dificuldades, problemas econômicos e assuntos políticos se misturem, seja na poesia, seja na prosa é assim que deve ser.

Em quarenta anos de literatura você já escreveu quantos títulos?

Hoje, ao chegar à marca de 20 títulos, com duas segundas edições, e ter feito tantas boas amizades com pessoas que vieram a mim pelas mãos da literatura, da poesia e dos artigos que publicava semanalmente em grandes jornais, posso bem avaliar minha caminhada e, ao mesmo tempo, projetar uma comemoração bem simples dos meus 40 anos de mergulho na atividade literária. Ou seja, vou lançar dois livros: uma obra infantil (“Beijoaria”) e um romance (“Desmemória de Horizonte”), reunindo ao meu entorno amigos e leitores que me acompanham desde sempre. Nesse momento vêm à minha lembrança muitas pessoas com as quais mantive contato e que atuaram como efetivas incentivadoras, a exemplo do poeta Carlos Drummond de Andrade que, em carta, conclamou-me com um ainda sonoro “Parabéns, e vá em frente, xará”; o gentil Professor Aluísio Pimenta, que prefaciou livro de minha autoria; o escritor José Cândido Ferreira, que quando tinha a idade de 87 anos foi à redação do jornal Diário da Tarde para me conhecer e nunca mais deixamos de nos ver, até a sua morte com 100 anos; o Wilson Ricardo de Oliveira, outro bom amigo que se transferiu de dimensão e que eternizou sua presença em mim através do apoio que deu à edição de muitos de meus livros; meu pai José Carlos Gontijo, que sempre se dispõe a investir no sonho do filho; minha esposa Nina (festejaremos 38 anos de casados no dia 5 de maio), que faz a revisão final de meus escritos e cuida da organização dos eventos – e tanta gente mais, que de uma forma ou de outra lançou (e lança) alguma viração benfazeja sobre o meu navegar literário.

Como é, para você, chegar a essa marca em um  momento em que a era digital acaba sobressaindo aos exemplares escritos?

Toda vez que revejo minha caminhada fica clara em mim a importância de meus professores em minha trajetória, desde a primeira professora Clélia Aparecida Souto e Couto até os mestres da faculdade, cada um deles inseriu em mim conhecimentos e maneiras de conviver que se expressam na minha escrita e em minha vida. Atividade literária é missão difícil em país de baixo estoque de leitores como o Brasil e certamente eu não teria produzido tantos livros sem reunir em meu entorno diagramadores e ilustradores de elevado nível de competência e sensibilidade como Nivaldo Marques Martins, Nelson Flores, “Quinho”, Ana Carolina Soares, Hamilton Flores, Vilma Antônia da Silva (a Vilminha), e Antônio Jabur Neto. E tem também a confiança dos prefaciadores: poeta Bueno de Rivera, jornalista José Egydio Farinha, escritora Therezinha Casasanta, professor Aluísio Pimenta, jornalista José Carlos Alexandre, escritor João Silva de Souza, poeta Harildo Norberto Ferreira, professora Clélia Aparecida Souto e Couto, poeta Antônio Fonseca, jornalista Sérgio Neves, professora Maria Greco, jornalista Valter Lima, jornalista Berenicy Silva, poeta Luiz Cláudio, a poetisa portuguesa Carmo Vasconcelos.

Quais os principais títulos e honrarias que você recebeu através da literatura?

Ao longo da vida a atividade literária me levou a academias, ao recebimento de honrarias, medalhas e diplomas, mas o que conta mesmo são os livros. Em 2015, por minha própria conta e risco realizei um “périplo cultural”, levando gratuitamente alguns de meus livros infantis até escolas municipais de ensino fundamental. Cada unidade escolar das cidades visitadas recebeu cerca de 20 exemplares dos livros “Lelé, a formiga travessa” e o “Guarda-chuva do Simão”, sob a projeção de que, ao trabalhar com grande quantidade de exemplares de um mesmo livro, a professora poderia melhor incrementar a leitura junto aos seus alunos. Então, movidos unicamente pela chama de autor compromissado com a evolução educacional da sociedade, estivemos nas seguintes cidades: Santo Antônio do Monte (e seu distrito de São José dos Rosas), Pedra do Indaiá, Divinópolis (40 escolas), Arcos, Itapecerica, Moema, Bom Despacho, Capim Branco e Belo Horizonte, onde recebemos no auditório da Associação Mineira de Imprensa (AMI) representantes de escolas de Contagem, Betim, Tocantins e até da distante Brasília de Minas, que fica a 556Km da capital mineira.

Obrigado pela sua entrevista, o espaço está aberto para as suas considerações.

Trago, tatuadas em meu coração, três cidades: a Belo Horizonte em que nasci, a Santo Antônio do Monte, da qual sou cidadão honorário e passei toda a minha infância e parte da juventude, e Contagem, município em que criei meus filhos (Bairro Eldorado) e que também me contemplou com título de cidadania. Dia 26 de abril, em Santo Antônio do Monte, lançarei dois livros em comemoração aos meus 40 anos de atividade literária independente, com a inclusão de várias camisas com estampa relativa ao evento (Casa da Pizza, a partir da 19h30minh). Depois, no dia 6 de maio, será vez a de Belo Horizonte (Gamela Bar e Restaurante, rua Salinas, 1495, bairro Santa Tereza). E claro que não é e nem será fácil. Alguns dirão que o momento é de crise econômica, mas para a literatura e todos os demais segmentos culturais nunca houve bom tempo, pois a ignorância sempre imperou (e impera) e ademais, como grafei no romance “Desmemória de Horizonte”: Aos que fingem estar dormindo, não há como despertar.

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