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Burnout – por que devemos nos atentar ao esgotamento profissional mesmo após a pandemia?

Quadro de exaustão emocional, dificuldade de concentração e incapacidade de relaxar - constantemente relatado durante a pandemia - revela a necessidade de priorizar o bem estar do trabalhador mesmo em situações atípicas.

João Alves

 

A síndrome de Burnout, popularmente conhecida como esgotamento profissional, obteve maior destaque com a pandemia, principalmente em função das exigências, até então inéditas, da modalidade home office de trabalho e do medo crescente do desemprego. Recentemente, uma pesquisa desenvolvida pela plataforma Semrush, entre julho de 2020  e julho deste ano, e divulgada pela Folha de São Paulo, revelou que a busca pela palavra “burnout” em mecanismos de pesquisa teve um aumento de 122%.

Com a ampliação da vacinação, e o retorno progressivo das atividades presenciais, a síndrome de Burnout sofre o risco de cair no esquecimento sem que o esgotamento profissional deflagrado pela pandemia tenha sido devidamente diagnosticado e tratado. O resultado é uma situação de estresse profissional sem nome ou visibilidade. Em razão disso, o Jornal Cidade conversou com o psicólogo Rodrigo Tavares Mendonça que esclareceu os principais aspectos e formas de tratamento do Burnout.

 

O que é a Síndrome de Burnout e quais são os seus principais sintomas? 

 

Rodrigo: A síndrome de Burnout é uma crise de estresse que pode desencadear sintomas depressivos e ansiosos no indivíduo. A Organização Mundial de Saúde (OMS), por meio da CID-10, a classificação internacional de doenças, coloca o transtorno na sessão de “problemas relacionados a dificuldades de gerenciamento da própria vida” e o define como “sensação de estar ‘acabado'”. A pessoa sente um esgotamento físico e mental; em outras palavras, um cansaço excessivo, uma exaustão. A síndrome está relacionada ao contexto profissional, por isso é denominada também de síndrome do esgotamento profissional. Ela acontece quando a pessoa se percebe incapaz de alcançar os resultados esperados e ao mesmo tempo se esforça exageradamente, sem o tempo adequado de descanso. Assim, ela se percebe tentando, se esforçando e não conseguindo. O resultado, naturalmente, é uma frustração, um cansaço, um esgotamento, um estresse. E a mente se estressa da mesma forma que o corpo: se você malha os braços todos os dias na academia seus músculos se estressam e você sente dor. No dia seguinte ao estresse, você pode querer descansar, mas não conseguirá porque seus músculos estão estressados. Apenas após o estresse passar você conseguirá descansar. Assim também funciona com a mente. A pessoa estressada não consegue descansar no tempo que tem para descansar porque está estressada, então ela volta no dia seguinte para trabalhar, novamente de forma excessiva, e se estressa ainda mais. Assim, quando a noite ou o fim de semana chega ela está estressada e, mesmo nessas horas, não consegue descansar. A pessoa que desenvolve a síndrome repete esse ciclo até entrar em esgotamento. Para evitá-la, é preciso um tempo de descanso, lazer e interação social saudável no dia a dia para não se estressar excessivamente. Além do esgotamento, muitos outros sintomas são possíveis, especialmente se a síndrome estiver associada fortemente a sintomas depressivos e ansiosos. Os principais sintomas físicos são: dor de cabeça frequente, alterações no apetite, insônia, dificuldade de concentração, pressão alta, dores musculares, problemas gastrointestinais e alteração nos batimentos cardíacos. Os sintomas mentais incluem: sentimentos de fracasso e insegurança, negatividade constante, sentimentos de derrota, desesperança e incompetência, isolamento e fadiga.

 

Na sua percepção, a pandemia foi um fator que contribuiu para que mais pessoas se vissem numa situação de esgotamento profissional? Tanto pelo home office, quanto agora, em um momento no qual as pessoas se preparam para o retorno das atividades presenciais. 

 

Rodrigo: A pandemia afetou a situação trabalhista da maioria das pessoas. Muitas perderam o emprego, muitas diminuíram a sua renda, muitas passaram para o home office. Diante da perda do emprego, acredito que muitas pessoas se dedicaram a trabalhos informais para manter a família. A pressão para sustentar a família e um esforço excessivo para conseguir o dinheiro, associado a pouco tempo de descanso, podem ser combinações perfeitas para o surgimento da síndrome de burnout. Se uma situação assim perdura por um tempo excessivo, o esgotamento físico e mental é um resultado natural. Acredito que a diminuição da renda pode ter levado muitas pessoas a também buscarem trabalhos informais, aumentando assim a carga horária de trabalho e, em consequência, diminuindo o tempo de descanso e de lazer. É uma situação semelhante à de quem perdeu o emprego e, certamente, pode levar a um esgotamento profissional. O home office, que também aumentou na pandemia, também pode produzir um estresse excessivo. A pessoa pode diminuir a frequência das suas relações sociais e acabar se isolando. Além disso, pode existir uma ausência de horário fixo de trabalho, o que pode levar a pessoa a trabalhar o tempo todo, mesmo estando no seu lazer, por exemplo jantando ou assistindo televisão. Esse excesso de trabalho com a perda da qualidade do tempo de lazer pode ser um fator de vulnerabilidade para a síndrome de burnout.

 

Como a síndrome geralmente é diagnosticada e tratada? 

 

Rodrigo: É claro que as pessoas podem buscar conhecimentos sobre os transtornos mentais, especialmente sobre os principais sintomas, mas o diagnóstico deve ser feito por um profissional da saúde mental, que em seguida oferecerá o tratamento adequado. A psicoterapia é o tratamento principal, embora a medicação psiquiátrica pode ser importante para reduzir sintomas depressivos e ansiosos mais rapidamente. No SUS (Sistema Único de Saúde), a pessoa primeiro deve procurar as Unidades Básicas de Saúde (UBS) dos seus bairros. Se o tratamento não puder ser oferecido no local, o médico ou enfermeiro da unidade podem encaminhar a pessoa para um ambulatório de saúde mental ou para o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial). Os dois serviços existem em Lagoa da Prata.

 

Quais são os sinais de alerta que a população em geral deve observar em relação ao esgotamento profissional? 

 

Rodrigo: O principal sinal de alerta da síndrome de burnout é a dificuldade de descansar, causada pelo estresse excessivo. A pessoa chega em casa ou deita para dormir, por exemplo, e não consegue descansar. Este é um sinal claro de estresse. Se a pessoa percebe que está irritada, impaciente, ansiosa, triste, desanimada ou com sintomas físicos de ansiedade, como insônia e dores de cabeça, e que está trabalhando excessivamente, é importante associar as duas coisas também.

 

Na sua opinião, qual o papel do empregador e do empregado na presença desses sinais de alerta?

 

Rodrigo: As pessoas são diferentes umas das outras e reagem de forma diferente diante das pressões do trabalho, por exemplo. O empregador precisa compreender que os empregados não são robôs, que são seres humanos com vulnerabilidades, e que as pessoas não são iguais. Então, a pressão que uma pessoa suporta pode ser um fator de estresse para outra. Além disso, o excesso de trabalho, especialmente o trabalho levado para casa, pode ser um fator de vulnerabilidade para todas as pessoas. Oferecer pequenos períodos de descanso e de lazer, como um café ou uma conversa breve entre os funcionários, pode ser um fator de proteção. Por fim, aceitar que seus funcionários, diante do adoecimento, precisam se ausentar por um período para se tratarem é uma atitude fundamental.

 

Como profissional da saúde mental, qual o seu conselho para conciliar trabalho e bem estar, ainda que em situações de pressão e situações atípicas como a que vivemos com a pandemia?

 

Rodrigo: Uma dica básica para cuidar da saúde mental no contexto profissional é vivenciar períodos de descanso, lazer e interação social ao longo do dia de trabalho, mesmo que sejam apenas poucos minutos. Para quem trabalha em home office, uma dica importante é definir o horário de trabalho para preservar os momentos de descanso e lazer e buscar interações sociais para evitar o isolamento. Uma dica final é conhecer as suas capacidades e buscar melhorar sempre. A ansiedade nasce do medo, especialmente do medo de não conseguir. A pressão adoece mais quando nos percebemos incapazes. Então, encontrar o equilíbrio entre se dedicar ao trabalho e preservar momentos de descanso, lazer e interação social é essencial.

Psicólogo Rodrigo Tavares Mendonça. (Foto: Arquivo pessoal/reprodução)
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