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Brigadista diz que descobriu seca do Rio São Francisco durante incêndio

“Não havia uma gota sequer. Fui tentar salvá-la e estava morta”, disse o brigadista Paulo Moisés Silva, que descobriu a seca da principal nascente do Rio São Francisco durante combate ao último incêndio no Parque Nacional da Serra da Canastra, em São Roque de Minas. Agora, além de problemas com relação à estiagem, ambientalistas do parque temem o fim de espécies na região.

[pull_quote_left]Desci 500 metros com a bomba nas costas para colocá-la na nascente e quando cheguei vi o que de fato ninguém esperava. Foi a pior surpresa daquele dia. A nascente estava seca[/pull_quote_left]

Foi durante um incêndio na última quinta-feira (18), quando os brigadistas do parque tentavam impedir que o fogo atingisse a nascente do rio, que Moisés sentiu que o trabalho foi em vão. “Desci 500 metros com a bomba nas costas para colocá-la na nascente e quando cheguei vi o que de fato ninguém esperava. Foi a pior surpresa daquele dia. A nascente estava seca”, lembrou.

Segundo o chefe substituto do parque e analista ambiental, Vicente Faria, é uma seca como  ninguém nunca viu antes no Parque Nacional da Serra da Canastra. “Não há registros históricos de seca dessa nascente. Isso simboliza uma mudança climática rigorosa e serve de alerta para toda humanidade”, afirmou.

O São Francisco tem mais de 2.700 km e corta sete estados brasileiros – Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Goiás e Distrito Federal – o que dá a ele o título de maior rio totalmente brasileiro, com uma bacia hidrográfica que abrange 504 municípios.

Na Serra da Canastra ele percorre 14 quilômetros até cair na cachoeira Casca Danta, onde inicia a jornada para o Sul e em seguida muda o curso para o Nordeste do Brasil.

 

Biodiversidade em risco
Agora, por conta da seca que atinge o parque, ambientalistas temem pela biodiversidade do local. O pato mergulhão, por exemplo, é um dos primeiros que deve sofrer esses efeitos, pois trata-se de um animal que vive na água corrente e limpa e ainda se alimenta de peixes. Com o nível baixo dos afluentes ele não terá como buscar alimento. “É uma reação em cadeia. Se não há água, vai faltar peixes. Se não há peixes, os animais que se alimentam deles vão morrer. Isso se não desaparecerem, como o pato mergulhão que já está classificado como criticamente em risco de extinção”, contou Faria ressaltando que a Serra da Canastra abriga a maior população da espécie no Brasil.

 

Chuva fará ressurgir nascente
E mesmo com o alto índice de queimadas, a seca da nascente está diretamente ligada a fatores climáticos. Segundo o analista ambiental, desde março não chove significativamente na região.

“O que aconteceu não tem ligação direta com o fogo que já consumiu boa parte da área do parque e sim com fatores climáticos. Se podemos atribuir isso às queimadas precisamos ser coerentes e pensar ao longo dos anos, no sentido de que com os incêndios as matas ciliares são devastadas e a nascente fica exposta ao sol, o que gradativamente provoca essa fatalidade”, explicou Faria.

O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda, ressaltou que a nascente não é determinante para o volume de água da bacia, mas que o fato serve como um “termômetro”, uma vez que o nível dos reservatórios da região é fundamental para o São Francisco. “Isso não é comum, é preocupante. Não há dúvida de que algo em grande escala está mudando em nosso ecossistema. As principais barragens do Alto São Francisco, que são a de Três Marias e Sobradinho, estão sendo ameaçadas e se aproximam do limite de volume útil de água. Ou seja, a água dos principais afluentes está chegando ao nível zero, e a biodiversidade do rio está comprometida”, explicou Miranda.

O presidente do Comitê da Bacia do rio também disse que não se pode contar com o período mais úmido, que deve vir após outubro. Ele defende que, independente das mudanças climáticas, a questão é emergencial e para ser amenizada deve-se mexer no modelo da bacia enérgica do São Francisco, realizando um grande pacto das águas. Contudo, o chefe do local Parque Nacional da Serra da Canastra, Luiz Arthur Castanheira, não vê outra solução a médio prazo que não seja a chuva. “Essa situação só voltará ao seu normal quando de fato chover. Assim, com a chuva, o lençol freático subirá e fará a nascente ressurgir novamente”, contou.

 

Incêndios e estiagem
A estiagem deste ano ocorre em todo o país há vários meses, exceto na região Sul. Em Minas, diversas regiões enfrentam o problema da seca, entre elas cidades do Triângulo Mineiro, Zona da Mata e Centro-Oeste do estado, que já chegaram a decretar situação de emergência pelo desabastecimento e a multar moradores flagrados desperdiçando água.

[pull_quote_right]Combatemos as chamas usando água do parque, mas isso não foi o fator mais agravante. O que pesa mais é a seca, a falta de chuva. Corre pouquíssima água, e essa realidade é triste[/pull_quote_right]
Para piorar a situação, a seca tem causado vários focos de incêndio no Parque Nacional da Serra da Canastra, nos últimos meses – levando à utilização da pouca água do São Francisco para apagá-los. Em julho, o fogo devastou cerca de 40 mil hectares de vegetação nativa. “Combatemos as chamas usando água do parque, mas isso não foi o fator mais agravante. O que pesa mais é a seca, a falta de chuva. Corre pouquíssima água, e essa realidade é triste”, disse Castanheira. O incêndio mais recente durou quatro dias e, pouco depois, outros focos foram registrados.

 

Fonte: G1

 

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