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Bambuí – comissão de direitos humanos visita casa de saúde

Casa de Saúde São Francisco de Assis atendia pacientes com hanseníase

 

A Comissão de Diretos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) visitou, nesta quarta-feira (19/03), a Casa de Saúde São Francisco de Assis em Bambuí. A instituição fica na Comunidade São Francisco de Assis, distrito do município. Após a visita ocorreu uma audiência pública junto com representantes políticos, comunidade e do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan). Esta foi a segunda visita feita pela Comissão de Direitos Humanos às comunidades. A primeira ocorreu na Casa de Saúde Padre Damião, em, Ubá, em fevereiro e outras estão previstas para serem visitadas ainda no primeiro semestre: as colônias de Três Corações e Betim.

No encontro foram pontuadas as condições e a infraestrutura das famílias que vivem no local. A diretora da Casa de Saúde São Francisco de Assis, Maria José de Carvalho Leite, explicou que existe um projeto de tornar o hospital da comunidade referência em ortopedia. De acordo com o coordenador Nacional do Morhan, Artur Custódio, o principal problema do distrito são as moradias que não têm regularização fundiária. Já a coordenadora da frente parlamentar de radicação da hanseníase da Comissão de Direitos Humanos, Maria Tereza Lara (PT), disse que existem problemas, mas que há iniciativas para solucioná-los.

A Casa de Saúde São Francisco de Assis é gerida pela Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHMIG) e foi fundada em 1943 com o objetivo de atender e isolar pacientes com hanseníase das regiões Oeste e Sudeste de Minas Gerais e também Sul de Goiás. Com o confinamento, os pacientes passaram a viver no local, surgindo a Comunidade São Francisco de Assis, na qual hoje habitam 600 pessoas, sendo que 295 são ex-pacientes com hanseníase. A diretora da Casa de Saúde São Francisco de Assis, Maria José de Carvalho Leite, explicou que quer aumentar a capacidade do hospital. “A casa de saúde está crescendo cada dia mais e estamos aumentando nossas ofertas de serviço. Queremos nos tornar referência na macrorregião oeste de ortopedia e cuidado ao idoso”, contou.

De acordo com ela existe um processo de revitalização nos pavilhões, que também fazem parte do hospital. Ela explicou que muitos já foram transformados em instituições de atendimento público. Atualmente dois pavilhões se transformaram em Lar Abrigo de idosos, em outro foi criado uma escola e, em um terceiro, desenvolvida uma sala de costura.

Porém, em alguns pavilhões ainda moram ex-pacientes de hanseníase, o que, de acordo com ela, não foi definido para onde irão. “Não existe uma ideia de levá-los para outro lugar, pois o vínculo deles está aqui e muitos não foram reintegrados à sociedade e nem têm interesse de sair”, explicou.

De acordo com o coordenador Nacional do Morhan, Artur Custódio, a Comunidade São Francisco de Assis é uma colônia antiga que leva uma história de preconceito e segregação assim como todas as outras criadas na época. Ainda de acordo com ele, o Estado deve avaliar a Unidade de Saúde da comunidade, definir a regularização fundiária e preservar os prédios históricos. “Primeiramente deve redefinir missões na unidade de saúde e fazer pactos com a Secretaria de Saúde. Além disso, definir a área comunitária e a regularização fundiária, ou seja, dar o título de propriedade das casas para as pessoas que moram nelas e sem esquecer da preservação histórica”, explicou.

A exclusão e a economia
Artur também ressaltou que no local existem dois pontos marcantes. A exclusão de pessoas por conta da doença e a economia da cidade que também é movida pela presença dos pacientes. Segundo ele, as famílias que passaram por estes problemas sociais, hoje têm o direito de receber uma indenização do governo o que, segundo Artur, fazem com que elas tenham um papel importante na economia local.

“Muitas pessoas foram separadas das famílias, tiveram os filhos tirados delas, e algumas ainda não têm nem identidade, não têm moradia ou educação. Ao mesmo tempo, hoje com a indenização e a aposentadoria, as pessoas que moram aqui fazem diferença na economia local, o que deve ser visto também pela Prefeitura. Isso faz com que o município se integre e coloque serviço dentro da comunidade”, comentou.

A coordenadora da frente parlamentar de radicação da hanseníase da Comissão de Direitos Humanos, Maria Tereza Lara (PT), explicou que existem pontos que devem ser melhorados na comunidade e no hospital. “O laboratório do hospital precisa de equipamentos novos. Também há casos de problemas de drogas em um pavilhão e através das reivindicações do Morhan e dos moradores. Vamos fazer um diagnóstico e cobrar dos órgãos públicos, pois é direito das pessoas que moram aqui”, explicou.

Moradores
As histórias na colônia se repetem. Muitas pessoas chegaram ao local em busca do tratamento da doença ficaram por ali. Alguns foram levados para o que é chamado de pavilhões. Outros conseguiram construir casas, porém não têm a documentação necessária de propriedade do terreno.

[pull_quote_left]O terreno não é nosso e é importante ter o documento de propriedade, pois tenho medo de eles quererem tirá-la de mim. Eu não tenho para onde ir, minha casa é a única coisa que tenho[/pull_quote_left]

A aposentada Terezinha Batista da Rocha foi tratar a doença e construiu uma casa, porém tem receio de perdê-la. “O terreno não é nosso e é importante ter o documento de propriedade, pois tenho medo de eles quererem tirá-la de mim. Eu não tenho para onde ir, minha casa é a única coisa que tenho”, disse.

Teresinha foi para comunidade para tratar a doença e teve que doar duas filhas.
Teresinha foi para comunidade para tratar a doença
e teve que doar duas filhas.

O caso é o mesmo da aposentada Terezinha Maria Souza, que também não tem documentação da residência onde mora. “Eu casei aqui, construí uma casa que é minha, mas o terreno não é. Minha família é muito pequena, porque de três filhos fui obrigada a dar duas meninas porque estava doente. Uma dei no dia em que nasceu e a outra com três meses”, contou.

[pull_quote_right]Não tenho para onde ir e eles não sabem para onde levar a gente[/pull_quote_right]

Hoje o aposentado João Rocha tem 75 anos, mas foi morar na comunidade com 25 anos e, desde então, mora em um dos pavilhões. Ele se preocupa com a desocupação do local para criação de um museu. “Não tenho para onde ir e eles não sabem para onde levar a gente”, comentou.

 

Pavilhões que foram usados para habrigar pacientes devem ser desocupados
Pavilhões que foram usados para habrigar pacientes
devem ser desocupados

 

 

 

 

 

 

 

 

Fonte: G1

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