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Árvore que corre o risco de desaparecer é objeto de pesquisa em Lagoa da Prata

Uma espécie de faveiro ameaçado de extinção é monitorado em mata do município. Pesquisador que catalogou as árvores ainda em 2004, volta à região após 16 anos para coletar sementes e realizar monitoramento dos raros faveiros.

Alan Russel
@road_russel

Na última semana, Lagoa da Prata recebeu a visita de um importante pesquisador do meio ambiente e conservação da flora, que veio para a região à procura de uma espécie de árvore que se encontra ameaçada de extinção. A árvore rara é conhecida como faveiro da mata, encontrada quase que exclusivamente na região central de Minas, onde os biomas da mata atlântica e cerrado se encontram.

Fernando Fernandes, engenheiro florestal formado pela Universidade Federal de Viçosa, trabalhou por 26 anos no Jardim Botânico de BH. O pesquisador, que já havia catalogado as espécies de faveiro em Lagoa da Prata ainda no ano de 2004, voltou ao município para acompanhar a evolução dos raros faveiros.

Raros faveiros

Desde 2003 Fernando pesquisa e trabalha com o intuito de proteger e propagar três espécies de faveiros raros: o faveiro da mata (Dimorphandra exaltata), espécie encontrada no município de Lagoa da Prata; o faveiro de Wilson (Dimorphandra wilsonii) e o faveiro do campo (Dimorphandra mollis). Fernando explica sobre a necessidade de estudar e, consequentemente, preservar as espécies de faveiros raros.

“O primeiro passo para proteger qualquer espécie é conhecê-la bem. Por isso, muitas pesquisas vêm sendo feitas com essas espécies de faveiros: para descobrir seus segredinhos, ou seja, ambiente onde vivem, do que necessitam para sobreviver e quais são suas características biológicas. Estive aqui há 16 anos quando cataloguei dois faveiros. A visita agora é para analisar a atual situação destes faveiros, monitorar as árvores já catalogadas, tirar as medidas para ver o crescimento, analisar o ambiente, detectar se não há risco para a árvore, além de manter contato com o proprietário das terras”.

Guardiões da floresta

Na foto, o pesquisador Fernando Moreira, juntamente com o engenheiro ambiental, Henrique Rocha, na mata do urubu em Lagoa da Prata. (Foto: Alan Russel/Jornal Cidade)

A mata do urubu é um fragmento de mata ciliar localizada na região noroeste do município de Lagoa da Prata. Proprietário de um sítio na borda da mata, o senhor Roberto Rocha, morou e preservou a mata por muitas décadas. De forma empírica, Roberto estudou as espécies existentes na mata e foi responsável por inserir diversas outras espécies na reserva florestal. Foi em 2004, após se informar por um cartaz do Instituto Estadual de Florestas (IEF), que Roberto entrou em contato com o pesquisador do Jardim Botânico, para informar que havia descoberto a existência dos raros faveiros na mata que margeia o Rio São Francisco em Lagoa da Prata.
Após o falecimento do senhor Roberto da praia, como popularmente era conhecido, o filho, Henrique Rocha, engenheiro florestal formado pela Universidade Federal de Diamantina, segue o trabalho iniciado pelo pai na mata do urubu.

“Meu pai herdou esse rancho de um tio avó, e como gostava muito de pescar, se estabeleceu aqui. Durante muitos anos ele produziu mudas que foram plantadas em diversos pontos de Lagoa da Prata e também na conservação aqui da mata do urubu. Eu cresci vendo esse contato do meu pai com a botânica, acabei tomando gosto, estudei engenharia florestal e hoje trabalho com intuito de preservar este fragmento de mata”, explica Henrique.

Momento em que Henrique descobriu um novo exemplar do faveiro raro na mata do urubu. (Foto: Alan Russel/Jornal Cidade)

Quem também participou da expedição na mata do urubu foi Saulo de Castro. O ambientalista participou da descoberta dos faveiros, juntamente com Roberto da praia, ainda em 2004. Saulo salienta o interesse na reprodução das espécies em viveiros, para que a população tenha a oportunidade de replantar e consequentemente preservar os faveiros.

“Desde 2004 mantemos contato com Fernando no intuito de preservar essa espécie tão importante para a fauna e flora. Estamos bastante empenhados, na certeza de que vamos conseguir preservar esta espécie na mata do urubu. Também temos interesse na reprodução dos faveiros em viveiros, para que possamos replanta-las nas praças da cidade e em áreas de recuperação. A intenção é que essa espécie possa se perpetuar e não se perder”, explica Saulo.

Na foto, o ambientalista Saulo de Castro, juntamente com Fernando Moreira e Henrique Rocha. (Foto: Alan Russel/Jornal Cidade)

No caso específico de Lagoa da Prata, o pesquisador Fernando Fernandes, avalia que mesmo sendo um município afetado pela monocultura de cana-de-açúcar, ainda existem muitos fragmentos de mata preservados, e que grande parcela disso se deve ao trabalho de pessoas que tem a preocupação em preservar o meio ambiente.

“Não é um movimento de hoje, é um movimento antigo de pessoas com um propósito, com o intuito de preservar esses fragmentos de floresta. O caso da mata do urubu é um exemplo. Durante muitos anos o seu Roberto foi responsável por preservar essa mata, e hoje em dia é o engenheiro florestal, Henrique, filho do seu Roberto, que herdou a responsabilidade de preservar esse santuário”, completa o pesquisador.

Um novo exemplar de faveiro da mata é catalogado em Lagoa da Prata

Enquanto o pesquisador Fernando Moreira media e coletava dados dos faveiros já catalogados em 2004, Henrique Rocha em observação pela mata, descobriu outra árvore da mesma espécie. Agora são três faveiros da espécie Dimorphandra exaltata catalogadas na mata do urubu em Lagoa da Prata. O novo faveiro catalogado tem aproximadamente oito metros de altura, enquanto os faveiros catalogados em 2004 tem em torno de quinze metros. O nove exemplar encontrado na mata do urubu fica a aproximadamente 15 metros de distância dos faveiros catalogados 16 anos atrás. Estima-se que existam apenas 500 faveiros da mata no planeta, todos na região do sudeste do Brasil e a grande maioria na área central do estado de Minas Gerais.

Fernando Machado observando as matas da região a procura dos raros faveiros. Foto: (Alan Russel/Jornal Cidade)

O pesquisador Fernando acredita que existam mais faveiros da mata a serem catalogados no município de Lagoa da Prata. O engenheiro ambiental Henrique Rocha, que conhece bem a região, garante que vai continuar atento para possível catalogação de novos faveiros.

“Depois de conhecer e conversar com o Fernando eu passei a conhecer melhor a espécie e agora fica mais fácil para procurar outros possíveis faveiros da mata, não só aqui na mata do urubu, mas em todo o município de Lagoa da Prata”, finalizou Henrique.

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