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Artistas e produtores culturais se reinventam em tempos de confinamento social causado pelo coronavírus

Músicos, escritores e profissionais de dança falam sobre os prejuízos causados pela pandemia e como estão se reinventando durante a quarentena. Organização comunitária de artistas locais se unem para produzir versão online de festival de artes integradas.

Reportagem: Alan Russel

Ainda não é possível prever o mundo pós-pandemia de Covid-19, mas o impacto da crise em diversos segmentos do mercado de trabalho já é histórico. No Brasil, o desemprego que já vinha em queda, aumentou ainda mais, forçando uma grande parcela da população correr para a  informalidade. Uma classe específica, que na maioria das vezes depende de aglomerações de pessoas para executar sua atividade profissional são os artistas. Músicos, dançarinos, atores e toda uma cadeia de profissionais que produzem cultura, se encontraram de mãos atadas no meio de uma pandemia que limita o convívio social.

Para amenizar os efeitos da crise, artistas tiveram que se desdobrar e se reinventar neste período de quarentena. Para os grandes nomes já consagrados no cenário nacional, a turbulência não foi tão sentida. Com número muito expressivo de acessos, além de patrocínios vultuosos, as lives conseguiram amenizar os prejuízos com a paralisação de shows e espetáculos, além de manter os grandes nomes da música nacional nos holofotes. Mas e os artistas locais? Músicos de barzinhos, estúdios de danças, companhias de teatro e professores de artes? Como estão se desdobrando para conseguir cumprir com os compromissos financeiros sem poder exercer a atividade profissional?

O Jornal Cidade conversou com alguns artistas e profissionais culturais de Lagoa da Prata, para entender como a pandemia afetou a produção artística local e o que os artistas estão fazendo para amenizar os efeitos causados pela Covid-19 no mercado cultural de Lagoa da Prata.

Música, dança e literatura

Daniel Ribeiro, conhecido também por Bell, é uma figura conhecida da cena artística do Centro-Oeste Mineiro. Baterista das bandas Cabal Tribal e Bicho Mecânico de Asas, Bell também é escritor, produtor do Lacustre Festival e vice-presidente do Conselho Municipal de Cultura de Lagoa da Prata. Bell conta que a pandemia afetou diretamente não só a ele, mas também diversos profissionais na região.

“Nesse período de pandemia, músicos, produtores de festas e eventos, pessoas ligadas à estrutura, montagem e toda produção do meio musical, foram totalmente afetadas, e eu não fui diferente. Como parte da minha renda advém do meio artísticos, senti muito os efeitos negativos desse período. Foram muitos shows em bares e festas de aniversários canceladas, shows em casamentos, eventos que havíamos planejado realizar e lançamentos de disco foram cancelados. Quando fechamos com algum contratante, seja como freelance ou como baterista das bandas, o dinheiro já meio que tem destino, seja no investimento da própria estrutura como músico, ou nos investimentos das bandas (gravações, equipamentos, contas)” explica Bell, que também fala em como tem se desdobrado para continuar produzindo.

“O jeito foi realizar as lives pela internet nas plataformas do Youtube e Instagram. Uma das bandas em que toco, a Cabal Tribal, realizou duas lives no nosso próprio estúdio. Uma terceira live foi realizada em parceria com a rádio Veredas FM, onde fizemos uma campanha de recolhimento de doações para a entidade de cunho social Sara Aparecida”, finaliza Bell.

George Bernardes é outro músico que fala sobre os efeitos causados pela Covid-19 na classe artística de Lagoa da Prata. George que é conhecido pelo seu poder vocal e intimidade com as cordas, já tocou nas bandas Língua de Musquito e Volta Elétrica, e nós últimos anos é figura cada vez mais frequente nos bares e festivais da região.

“Como tenho um emprego fixo, eu sempre procurei agendar apenas um show por fim de semana, mas mesmo assim me ajudava bastante como complemento de renda. Com a pandemia e consequentemente o fim das apresentações, eu perdi aproximadamente mil reais por mês, que é um dinheiro que me ajudava muito. Com relação às lives, eu acompanho muita coisa, mas produzir uma live por agora eu não considero fazer. Digo isso mais por questão de evitar aglomerações e continuar respeitando as recomendações de Saúde”, explica George.

Foto:George Bernardes

Da música à dança! Ana Ruth é bailarina profissional e, em 2019 foi premiada com o primeiro lugar no Concurso Nacional de Dança – Unidance. Ana conta que no estúdio em que é aluna, as atividades não pararam por completo durante a pandemia, porém, foram limitadas e há uma enorme preocupação com os cuidados sanitários.

“Antes da pandemia eu tinha aula três vezes por semana e atualmente, o grupo avançado foi dividido, e estamos tendo duas aulas por semana. Antes, eram doze turmas e agora são apenas seis. Algumas foram suspensas e as turmas maiores foram divididas. Todos os alunos e alunas estão cumprindo algumas regras dentro do estúdio, como: deixar o calçado do lado de fora do estúdio, uso de álcool gel, máscaras, luvas, além de manter o distanciamento”.

Foto: Ana Ruth/arquivo pessoal

Imergir

No meio de todo o confinamento social causado pelo coronavírus, uma organização comunitária com artistas, produtores culturais e voluntários de diversos segmentos de Lagoa da Prata e região, decidiram realizar uma edição virtual de um evento voltado às artes integradas. Trata-se do Imergir, evento que teve sua primeira edição em janeiro de 2020 e foi produzido pelo Coletivo Nexalgum.

Foto: Arquivo Coletivo Imergir.

Carol Shineider é musicista, escritora, uma das produtoras culturais mais atuantes da cena local e frontgirl do Coletivo Nexalgum. Carol fala a respeito do Imergir e como será a edição virtual do evento de artes integradas.

Foto: Arquivo Coletivo Imergir.

“A edição virtual do Imergir foi a forma que vimos de nos reinventarmos meio a essa quarentena, já que não podemos fazer nossos eventos e ocupações culturais como vínhamos fazendo desde 2011. A “versão online” do Imergir, vem como forma de apoiar, abrir espaço e incentivar a valorização da cena artístico cultural independente, principalmente, local.

Acreditamos na importância desse evento, mesmo que em sua edição virtual, porque tem o intuito de dar espaço para quem produz arte, música e literatura, de modo que haja o incentivo quanto a valorização dos artistas e músicos independentes, assunto que a gente vem frisando há um tempo, mas agora precisa de uma atenção maior, tendo em vista o momento em que vivemos.

Foto: Arquivo Coletivo Imergir.

Carol salienta também a necessidade de voltar atenção para as produções artísticas independentes, apoiando principalmente artistas locais.

“Na edição virtual do Imergir, vamos manter a ideia de trabalhar com artes integradas. Temos o intuito de abrir espaço para as mais diversas formas de manifestações artísticas: música, dança, literatura, trabalhos manuais; bem como, espaço para ativistas levantarem assuntos pertinentes que devem ser colocados em pauta” completa Carol

O Imergir começa no domingo (14) e terá programação semanal totalmente online e acontecerá, por enquanto, pelo Instagram (@coletivonexalgum). A programação completa ainda é surpresa. Sendo assim, já fica o convite para quem ainda não conhece o trabalho do Coletivo Nexalgum, seguir e, acompanhar tudo por lá.

Lei de Emergência Cultural

Recentemente foi votado na Câmara dos Deputados e no Senado Federal a Lei de Emergência Cultural. O projeto prevê a destinação de R$ 3,6 bilhões da União para estados, Distrito Federal e municípios, na aplicação de ações emergenciais de apoio ao setor cultural durante o período de isolamento decorrente da pandemia do novo coronavírus. A proposta prevê que os recursos do Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac) e de outros programas federais de apoio ao setor devem priorizar atividades que possam ser transmitidas pela internet. Para viabilizar as despesas, o projeto prevê uso de recursos do Fundo Nacional da Cultura (FNC) e de 3% da arrecadação das loterias federais.

O projeto garante uma renda emergencial de R$ 600, retroativo a 1º de maio para os trabalhadores informais do setor cultural com rendimentos médios comprovados de janeiro de 2019 a fevereiro de 2020 de até três salários mínimos (por família). A proposta abrange artistas, produtores, técnicos, curadores, oficineiros e professores de escolas de arte.

Para receber o benefício, o trabalhador precisa comprovar a realização de atividades culturais no período e a falta de outra fonte de renda, incluídos benefícios como o Bolsa Família ou o Benefício de Prestação Continuada (BPC). O benefício será pago em dobro para mães solos R$ 1200.

Mesmo tendo sido aprovada pela Câmara e pelo Senado Federal, para entrar em vigor é necessário que a lei seja sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro.

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